Marcelo de volta ao Brasil: independência ou campanha?

O Presidente português é um dos três chefes de Estado da CPLP confirmados para as comemorações oficiais do bicentenário da independência do Brasil. Marcelo tem reunião bilateral ainda hoje com Bolsonaro. Mais uma visita sobre brasas políticas.

Foto
Depois de Angola, Marcelo faz outra viagem politicamente sensível LUSA/PAULO NOVAIS

Dois meses depois de ter visto o Presidente brasileiro cancelar o almoço para que o tinha convidado, o Presidente da República está de volta ao Brasil, desta vez para participar nas comemorações oficiais dos 200 anos da independência. E desta vez com um encontro bilateral entre Marcelo Rebelo de Sousa e Jair Bolsonaro já na agenda. Esta é uma viagem particularmente sensível, uma vez que ocorre em plena campanha eleitoral para as presidenciais e num momento em que Jair Bolsonaro está a ser acusado de aproveitamento político da efeméride.

Lula da Silva já disse que Bolsonaro quer fazer dos 200 anos da Independência do Brasil uma “festa dele”, pois convocou os seus apoiantes para as ruas no dia da Independência. “Ele quer fazer uma ‘motociata’ [passeata de motorizadas]. Ele quer brincar com a data mais nobre que temos neste país. É lamentável”, afirmou o principal adversário do Presidente na corrida eleitoral. Em Julho, Bolsonaro desmarcou o almoço com Marcelo depois de saber que o Presidente português ia encontrar-se antes com Lula.

A principal missão de Marcelo Rebelo de Sousa será, por isso, evitar envolver-se na disputa eleitoral, ainda que não possa escapar de um encontro com Jair Bolsonaro. De acordo com uma nota do programa divulgada pela Presidência, os dois presidentes têm esta terça-feira às 18h30 (hora de Lisboa) um curto encontro de 15 minutos, a decorrer no Palácio Itamaraty, em Brasília.

Este encontro serve para concretizar a intenção de Bolsonaro de fazer bilaterais com os chefes de Estado da CPLP, convidados para a efeméride. Ao que o PÚBLICO apurou, serão apenas três: além de Portugal, confirmaram presença os Presidentes de Cabo Verde e da Guiné-Bissau. Já os de Angola e Timor-Leste, que tiveram eleições recentes, Moçambique e São Tomé e Príncipe vão fazer-se representar.

Ainda que a comitiva dos chefes de Estado não seja grande, a presença de Marcelo irá diluir-se nesse contexto e, por outro lado, a sua presença justifica-se, não só pelo facto óbvio das relações históricas entre os dois países, como pelo capital político de Portugal nestas comemorações, em particular devido à viagem do coração de D. Pedro, IV de Portugal e I do Brasil.

Desta vez, Marcelo não tem outros encontros sensíveis na agenda e fica mais limitado às comemorações institucionais. No entanto, o programa revela que o chefe de Estado português oferece um almoço na quarta-feira aos restantes chefes de Estado da CPLP e seus representantes, encontro em que também participa o ministro das Relações Exteriores do Brasil e o secretário Executivo da CPLP​.

No âmbito das comemorações do bicentenário, participa na visita à exposição “Um Coração Ardoroso: Vida e Legado de Dom Pedro I” no Palácio Itamaraty, no desfile Cívico-Militar do Sete de Setembro e na sessão solene das comemorações da Independência no Congresso Nacional, onde fará um discurso no dia 8. Será um momento importante para deixar uma mensagem política, mas não se espere que saia do guião que usa desde que Bolsonaro foi eleito, ou seja, que fale sobretudo das relações entre os dois povos irmãos e nas migrações entre os dois lados do Atlântico. Além disso, manterá encontros com a comunidade portuguesa em Brasília e no Rio de Janeiro, tendo nesta cidade uma recepção no Navio Escola Sagres.

Esta é a segunda viagem sobre brasas políticas que Marcelo Rebelo de Sousa faz em menos de um mês. No passado dia 28, logo após as eleições presidenciais em Angola, esteve em Luanda para participar no funeral de Estado de José Eduardo dos Santos e aproveitou para ter uma conversa com o presidente da UNITA, Adalberto Costa Júnior, sabe o PÚBLICO. Perante a polémica com os resultados eleitorais, Marcelo aconselhou Costa Júnior a manter-se dentro do sistema e usar apenas os mecanismos jurídicos e políticos, refreando a parte do partido que preferia recorrer à força.

No encontro bilateral com Bolsonaro poderá tentar dizer-lhe o mesmo, mas provavelmente não será tão bem sucedido. Uma coisa é certa: Marcelo volta ao Brasil a 1 de Janeiro do próximo ano para a tomada de posse do Presidente que for eleito em Outubro. Qualquer que ele seja.

Sugerir correcção
Ler 17 comentários