Evenepoel defendeu liderança da Vuelta na altitude da Sierra Nevada

Ciclista belga provou ter capacidade para correr com altitudes superiores a dois mil metros e perdeu apenas 15 segundos para Primoz Roglic, segurando a liderança. João Almeida voltou a carimbar uma boa exibição

Foto
Remco Evenepoel parte para a última semana da Vuelta com cerca de um minuto e meio de vantagem sobre Primoz Roglic EPA/Javier Lizon

Há uma semana, não havia como parar Remco Evenepoel na Volta a Espanha. Agora, com uma semana por desbravar em estradas espanholas, pode dizer-se que o belga abrandou. Na duríssima etapa até ao alto da Sierra Nevada, a mais de 2500 metros de altitude, o camisola vermelha conseguiu defender a liderança da classificação e parte para as últimas seis etapas da Vuelta com cerca de um minuto e meio sobre Primoz Roglic.

A corrida nesta etapa 16 começou a aquecer nos últimos 50 quilómetros, com o Alto del Purche (nove quilómetros com pendente média de 7,5%) a ser ultrapassado a um ritmo alto. A fuga do dia era de luxo, com vários candidatos ao top 10 a aproveitarem uma das jornadas mais exigentes desta edição da Vuelta para procurarem a vitória e, simultaneamente treparem na classificação.

E foi daqui que saiu o vencedor, o neerlandês Thymen Arensman. Tal como Richard Carapaz na etapa de sábado, o jovem de 22 anos da DSM foi o único dos fugitivos a sobreviver aos melhores da geral, subindo os últimos 6,5 quilómetros da etapa sozinho.

No grupo dos favoritos, as mexidas começaram na aproximação ao inferno da Sierra Nevada, que concluía o dia – mais de uma hora sempre a subir, perto de 20 quilómetros a 7,9%.

A armada amarela da Jumbo-Visma abriu a subida na frente e rapidamente desfez o grupo dos favoritos. Com cinco elementos, fazendo lembrar a estratégia que montou no Tour para ajudar Vingegaard a bater Pogacar, a equipa de Primoz Roglic imprimiu um ritmo muito elevado numa altura em que a estrada era técnica e dura. Corrida logo baralhada, com vários homens da geral a ficarem de imediato para trás – João Almeida incluído.

Fora do grupo do camisola vermelha, o ciclista português da UAE-Emirates ficou de imediato a depender apenas de si para recuperar terreno. E assim foi. Como já nos habituou, pôs o seu ritmo e fez a corrida de trás para a frente que já começa a ser imagem de marca. Mais adiante, o colega de equipa Juan Ayuso fazia o mesmo.

Sierra Nevada não abalou o pódio

O frente-a-frente entre Roglic e Evenepoel começou a cerca de 20 quilómetros do fim. E com estes dois seguiam ainda Enric Mas, segundo à geral, Miguel Ángel López e o australiano Ben O’Connor, que tem vindo a subir de forma ao longo dos dias.

Miguel Ángel López foi o primeiro a mexer na corrida dentro deste grupo, a cerca de 10 quilómetros do final da etapa – e com mais de meia hora de subida pela frente. Enric Mas seguiu o colombiano em busca do segundo lugar e os dois foram ganhando tempo ao longo da ascensão, sem resposta de Evenepoel ou de Roglic.

Por esta altura, cerca de meio minuto atrás, João Almeida já tinha apanhado Juan Ayuso e Carlos Rodriguez, da INEOS. Os dois ciclistas da UAE trabalharam bem em conjunto e com ataque sucessivos descartaram o jovem da equipa britânica, que no final da jornada viria a perder a quarta posição na geral para Ayuso.

No grupo dos favoritos, o esloveno atacou para procurar fazer diferenças (e ao mesmo tempo defender a segunda posição) a cerca de um quilómetro do fim. A arrancada já veio tarde e não permitiu fazer grandes diferenças: Evenepoel não foi ao choque e procurou novamente minimizar perdas, à semelhança do que procurou fazer no sábado – a etapa que considerava a mais difícil da Vuelta e em que acabou por demonstrar fraqueza. Desta vez, o camisola vermelha defendeu-se bem e perdeu apenas 15 segundos para Roglic, que por sua vez viu Enric Mas recuperar 42 segundos na luta pelo segundo posto.

No final da etapa, Evenepoel confessou estar muito satisfeito com a sua prestação, observando que nunca tinha terminado uma etapa com esta altitude. O jovem belga admitiu ainda ter sentido algum desconforto muscular devido à queda de há uns dias, mas já só olha para a frente, para uma terceira semana em que as subidas “já não são muito duras”.

João Almeida terminou na 11.ª posição, perto do líder da Vuelta e do colega Juan Ayuso e a 2m10s de Thymen Arensman. Leva assim a sétima posição na geral para o dia de descanso, mas viu o vencedor da etapa subir ao oitavo lugar e a ficar a apenas cinco segundos. O português está agora a sete minutos de Evenepoel e a 4m59s do pódio e entra na última semana a dar boas indicações. Apesar disso, a boa forma de quem está à sua frente leva a crer que a sua maior preocupação será manter a posição – e, quem sabe, procurar uma vitória de etapa.

Quem perdeu mais tempo para adversários directos foi Carlos Rodriguez, que desceu a quinto por troca com Ayuso, viu os sonhos do pódio esfumarem-se e tem agora Miguel Ángel López bem perto, a oito segundos. Nas contas pelo top 10, Wilco Kelderman foi o grande derrotado, descendo seis posições (de oitavo para 14.º), penalizado por uma queda antes dos quilómetros decisivos da etapa.

Os ciclistas têm segunda-feira o último dia de descanso nesta Vuelta. Nas restantes seis etapas, ainda há terreno duro para ultrapassar, mas as inclinações dão tréguas em comparação com a semana que acaba de ser concluída. O derradeiro desafio antes da etapa final em Madrid é a etapa 20, no próximo sábado: cinco subidas (três de primeira categoria) e chegada a mais de 1800 metros de altitude.

Sugerir correcção
Comentar