IL acusa Governo de mentir e quer IVA da energia na taxa mínima

João Cotrim Figueiredo, presidente da IL, pergunta se a manutenção de Marta Temido como ministra da Saúde depois do pedido demissão será “um castigo”, uma “espécie de penitência”.

Foto
João Cotrim Figueiredo é o líder da IL LUSA/TIAGO PETINGA

O presidente da Iniciativa Liberal (IL) considerou este sábado que o Governo de António Costa “é mentiroso” porque podia ter baixado “há meses” o IVA da energia para a taxa mínima de 6%, mas não o fez.

“Relativamente ao IVA [Imposto sobre Valor Acrescentado] da energia, vamos ver o que vai acontecer, mas ficámos a saber esta semana que já podia ter sido reduzido desde Abril. Portanto este Governo não é só incompetente, este Governo não é só incapaz de pôr o país a crescer, este Governo mente. Mentiu durante meses sobre não ter autorização de Bruxelas para baixar o IVA da energia. Era mentira”, disse João Cotrim Figueiredo.

O líder da IL disse que “não se compreenderia que não se fizesse a descida do IVA da energia”, considerando que “o Governo tem de baixar para a taxa mínima” como, “aliás, já fizeram a maior parte dos países que estão no mesmo barco”.

Na Póvoa de Varzim, no distrito do Porto, onde visitou o mercado municipal, o líder da IL sublinhou que o Governo de António Costa “é mentiroso”, somando à questão da energia o episódio da nomeação não concretizada do antigo director de informação da TVI, Sérgio Figueiredo, para assessor no Ministério das Finanças.

“Também era mentira que era essencial ter um cargo de assessor no Ministério das Finanças para Sérgio Figueiredo. Também percebemos que não era nada essencial porque o cargo não vai ser preenchido. Começa a ser evidente que além de incompetente, este é um Governo mentiroso”, disse Cotrim Figueiredo.

Para a IL, “está na hora de os portugueses fazerem um bom exame de consciência para pensarem se é efectivamente um Governo incompetente e mentiroso que querem no poder”.

Já sobre as medidas de apoio às famílias, a IL diz que esperará para ver quantas delas “têm real impacto prático”. “De anúncios por parte do PS estamos todos fartos”, frisou João Cotrim Figueiredo.

O presidente da IL defendeu que “os Governos não devem ter uma atitude assistencialista e proteccionista em relação às pessoas”, mas sim ter uma rede de segurança. “E essa rede existe. Existe a Segurança Social. A visão assistencialista de que o Estado, perante qualquer problema deve resolver os problemas das pessoas, desresponsabiliza as pessoas”, defendeu.

Sobre a recusa e António Costa em criar um imposto extraordinário para as empresas que estão a lucrar com a inflação, Cotrim Figueiredo disse concordar com essa posição, porque o contrário seria “uma forma encapotada de aumentar a influência do Estado”.

“Seria uma forma de intervenção na economia com a qual não estamos de acordo. A partir do momento em que um Governo se sente no direito de tributar o que se chama de lucros extraordinários, fica com obrigações: definir o que é ordinário e extraordinário. É um desafio que falharia redondamente”, referiu.

O PÚBLICO avançou na sexta-feira que essa foi uma medida pedida inclusivamente por vários deputados do Partido Socialista, mas que está fora do pacote de apoios que será apresentado pelo Governo, primeiro para as famílias e depois para as empresas.

João Cotrim Figueiredo falava aos jornalistas depois de conversar com comerciantes e clientes no mercado da Póvoa de Varzim, uma visita dentro o roteiro “Rotas Liberais” que diz ter como objectivo “ir ao terreno saber de viva voz o que preocupa as pessoas fora de campanha eleitoral e fora dos momentos políticos quentes”.

“Aqui constatei que estamos a começar a assistir à redução da capacidade de consumo as pessoas. A inflação começa a fazer a sua mossa”, concluiu.

Manutenção de Temido será “um castigo"

Cotrim Figueiredo questionou ainda se a manutenção de Marta Temido como ministra da Saúde depois do pedido demissão será “um castigo”, uma “espécie de penitência” pelo “timing” do pedido não ter agradado a António Costa.

“É a primeira vez que um ministro se demite e fica em funções 15 dias. É um castigo? É porque esta demissão vem num “timing” incómodo para o primeiro-ministro, que já fez constar que não foi a primeira vez que a demissão foi pedida? É para queimar um pouco mais a ministra e preservar a ministra ou o ministro seguinte”, questionou João Cotrim Figueiredo.

“Dos vários motivos possíveis para manter alguém em funções, o único que não fica excluído perante os factos que temos é de se tratar de uma espécie de penitência por a senhora ministra da Saúde ter escolhido um ‘timing’ que não agradou ao senhor primeiro-ministro. Sabemos que o senhor primeiro-ministro tem aquele ar de bonomia, mas não tem propriamente bom feitio quando se trata destas coisas”, referiu.

Responsabilizando o Governo PS pelo “estado calamitoso” do Serviço Nacional de Saúde “e de uma série de serviços públicos”, Cotrim Figueiredo respondeu à frase de António Costa sobre mudança de políticas só com derrube do Governo.

“Isso parece ser uma provocação do primeiro-ministro que, atrás de uma muralha que acha que é expugnável da maioria absoluta, diz: ‘Querem mudar alguma coisa? Então atirem-me abaixo’. Não vamos fazer esse favor ao primeiro-ministro. Vamos continuar a criticar nos sítios onde mais lhe dói”, referiu.

Na terça-feira, António Costa avisou que “quem quer mudança de políticas tem que derrubar o Governo”, considerando que a substituição de um membro do executivo, como o da Saúde, será uma mudança de “personalidade, energia ou estilo”.

“Achei graça até ver os principais críticos do Governo a dizer que o que importa é a mudança de políticas. Quem quer mudança de políticas tem que derrubar o Governo”, respondeu António Costa aos jornalistas depois de uma declaração a propósito da demissão de Marta Temido do cargo de ministra da Saúde.

Hoje, o presidente a IL lembrou que “as políticas dos Governos de António Costa na Saúde [com Adalberto Campos Fernandes e Marta Temido] não eram bem iguais e não houve derrube de Governo”. “Houve mudanças políticas, portanto isso é apenas argumentação de retórica política”, disse.

Ainda a propósito da demissão de Marta Temido, o líder da IL aproveitou para falar das mudanças que o novo estatuto do SNS poderá vir a introduzir, apontando que “já se percebeu que não vai resolver problema nenhum”.

“O próprio oráculo senhor Presidente da República já deu essa indicação: que não vai resolver problema nenhum porque substitui uma centralização no Ministério da Saúde por outra centralização numa direcção executiva do SNS. Não vai resolver nada. Só resolveria se essa entidade tivesse tanta autonomia e tanto poder de decisão que a pergunta passava a ser para que é que temos o Ministério da Saúde”, questionou.