Coimbra reabriu parte da sua marginal aonde os carros já não regressam
Obra dos muros da Avenida Aeminium devia ter demorado ano e meio, mas via está fechada desde 2019. Intervenção custou mais três milhões que o previsto.
A margem direita do rio Mondego que antes era caracterizada por piso degradado, lancis levantados por raízes de árvores e estacionamento pouco ordenado é agora ocupada por bancadas que descem até ao espelho de água, novas árvores e uma faixa para peões e bicicletas. A nova cara da avenida Aeminium, entre a ponte de Santa Clara e a Ponte açude, foi apresentada, nesta sexta-feira, pela Câmara Municipal de Coimbra (CMC), numa visita ao local, depois de quatro anos de intervenção.
Para já, ainda só é possível percorrer os primeiros 400 metros, sendo que os restantes 900 metros hão-de abrir à circulação pedonal até ao final de Setembro, aponta a vereadora da CMC com a pasta da mobilidade, Ana Bastos, ao PÚBLICO, à margem da visita.
Mas há uma certeza: os automóveis não vão voltar àquela via ribeirinha. Em Dezembro de 2021, a autarquia anunciou que, ao contrário de o que o projecto inicial previa, não ia devolver a circulação de carros à avenida Aeminium. “Foi uma opção política. Consideramos que Coimbra precisa de espaços de socialização e fruição urbana. Esta é também a melhor forma de aproximar a cidade do rio e o carro era uma barreira”, sublinha a vereadora. Assim, na margem direita do rio Mondego, cria-se uma continuidade entre a Mata do Choupal e o Parque Verde, diz.
A intervenção na avenida não termina aí. Uma faixa de seis metros entre a zona pedonal junto ao rio e a linha férrea que liga a Estação Nova a Coimbra B vai ainda sofrer obras a cargo da empresa Águas do Centro Litoral, para colocação de um emissário de grandes dimensões, o que deverá demorar cerca de dois anos. Não havendo nenhum revés, durante esse período, a Infra-Estruturas de Portugal também começará a levantar os carris entre as duas estações para que seja instalado um sistema de metrobus (autocarros eléctricos). Quando a instalação da conduta de grande dimensão estiver concluída, a via reaberta permitirá também a circulação de veículos de emergência.
Os passos a seguir dependem de vários factores, mas esta não é a única zona de cidade que a CMC quer aliviar de trânsito automóvel. A vereadora diz que “em breve” espera levar à reunião de câmara propostas para alterar o desenho de “uma zona na margem esquerda” e de outra na Alta da cidade. No entanto, como a viabilidade dessas soluções depende de conversas com outros actores, nomeadamente expropriações, explica, não quer ainda tornar públicas as zonas sem garantir antes que é possível avançar.
Mas a solução não será a mesma que a da margem do Mondego que foi pedonalizada. Ana Bastos fala antes em “acesso condicionado”, que retire o trânsito automóvel, mas que garante margem para residentes, comércio e hotelaria.
A responsável refere também que, para já, não há orçamento para lançar mais obras e que a autarquia está a aproveitar este tempo entre quadros comunitários para estudar novas intervenções.
Atrasos sucessivos, futuro em aberto
A obra dos muros do Mondego, que está ligada à intervenção de desassoreamento do rio, conheceu vários solavancos. Deveria ter levado um ano e meio, mas demorou quatro. Deveria ter custado sete milhões de euros, mas acabou por custar mais três milhões de euros.
O projecto foi aprovado em Outubro de 2016, ainda durante o primeiro mandato de Manuel Machado (PS), mas só arrancaria dois anos depois, em Outubro de 2018. O concurso público foi contestado por uma empresa que o perdeu, o que levou ao primeiro deslize no calendário. A avenida foi finalmente fechada ao trânsito no dia 14 de Janeiro de 2019, o que sinalizava que os trabalhos estavam finalmente a avançar. Nesse mesmo ano, o processo voltaria a ser interrompido, desta vez por insolvência do empreiteiro, obrigando a autarquia a tomar posse administrativa e a lançar novo procedimento para terminar a empreitada, algo que só deverá acontecer este ano.
Com um problema quase resolvido, o futuro daquela zona da cidade está ainda em aberto. A autarquia conta com o sistema de mobilidade do Mondego para ajudar a reavivar uma área que entrou em declínio com o encerramento de várias unidades industriais no final o século XX e não mais recuperou.
Em Maio deste ano, a CMC aprovou uma proposta de um estudo urbanístico para a frente de rio da margem direita. No documento, abre-se a possibilidade de se construir uma nova travessia pedonal e ciclável sobre o rio, a instalar no prolongamento da rua dos Oleiros. A ponte, que ficaria entre a ponte de Santa Clara e a ponte açude, poderia servir também a eventual expansão da rede de metrobus, que ainda não está a circular. No entanto, caso “no futuro” venha “a revelar-se indispensável”, o plano não exclui uma nova ponte de uso rodoviário.