O postal de Coimbra vai mudar para aproximar a cidade ao rio

Projecto prevê construção de bancadas com acesso ao nível da água entre as duas pontes mais próximas do centro da cidade.

Foto
Margem entre pontes de Santa Clara e Açude vai mudar ADRIANO MIRANDA

O projecto para estabilizar a margem direita do Mondego vai reformular a paisagem da beira-rio entre as pontes de Santa Clara e Açude, em Coimbra, e transformar o postal-tipo da cidade.

Avaliado em cerca de 8 milhões de euros, a intervenção faz parte de um pacote acordado com Agência Portuguesa do Ambiente (APA) em Julho, que envolve também as operações de desassoreamento do rio Mondego e totaliza 16,3 milhões de euros.

O presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Manuel Machado, sempre fez depender as operações de desassoreamento do rio da estabilização dos muros das margens, referindo que, sem essa intervenção, estes poderiam desabar. Ao PÚBLICO, o autarca explicou que os dois trabalhos podem arrancar em simultâneo, sendo que a candidatura ao financiamento comunitário (85% do total, sendo o restante assegurado pela autarquia) já foi feita.

PÚBLICO -
Aumentar

O projecto aprovado na reunião de executivo desta segunda-feira prevê intervenções em duas avenidas da margem do Mondego de Coimbra, na Cidade Aeminium e na Emídio Navarro, num percurso de cerca de um quilómetro.

Com a intervenção, a CMC quer criar ”um percurso pedonal circular” entre as duas margens através das duas pontes e “recuperar uma zona degradada e esvaziada das funções do passado de cais de mercadorias”, situada atrás da Estação Nova. No espaço entre esta estação de comboios e a ponte de Santa Clara, os muros vão ser mantidos, bem como as escadarias do passeio do Cais das Ameias, que será adaptado.

As alterações mais significativas terão lugar entre a estação e o Açude Ponte, com a intervenção a abranger o espaço entre a linha ferroviária e o rio. Nesta zona, o passeio ao longo do rio permitirá a circulação ciclo-pedonal. No troço entre as transversais da Rua dos Oleiros e Rua do Arnado haverá uma zona verde, com a “plataforma ribeirinha” pouco abaixo.

No segmento entre estas duas ruas, a solução a adoptar para relação entre margem e rio assemelha-se à Ribeira das Naus, em Lisboa, com a construção de bancadas que se aproximam do nível da água (ver imagem).

Actualmente, a separar a via rodoviária da avenida Cidade Aeminium do rio existe um muro com gradeamentos, passeios com piso degradado e lugares de estacionamento. Ao longo da margem, as raízes dos choupos que ocupam parte do passeio são causa do mau estado do piso e do levantamento de lancis.

O circuito inclui ainda um novo tabuleiro ciclável adjacente à ponte-açude. A adjudicação do contrato para a construção da ponte tinha sido já aprovada na anterior reunião do executivo e implica um investimento de 610 mil euros.

O projecto passou com aprovações de PS e CDU. Os eleitos pelo PSD e pelo movimento Cidadãos por Coimbra abstiveram-se. As duas forças invocaram o desconhecimento do projecto para não votar favoravelmente. João Paulo Barbosa de Melo, social democrata e anterior presidente do município, lamentou que a autarquia não tenha envolvido a cidade neste processo, referindo que este interfere na paisagem. “Devia ter sido tratado com outro cuidado”, considera. Já o responsável do CpC, Pedro Bingre do Amaral, apontou para o desconhecimento do projecto para dar resposta positiva, referindo que os vereadores não tiveram acesso ao documento a tempo.

A estas declarações, Manuel Machado respondeu que “por diversas vezes” houve “o cuidado de divulgar a maquete”. Após elaboração do caderno de encargos, o concurso público internacional deve arrancar no prazo de um mês, estima o autarca.

O projecto para a intervenção na margem direita, da autoria de uma empresa de consultoria em engenharia, foi contratado por ajuste directo em Maio, tendo sido evocado o valor inferior a 75 mil euros pela autarquia. O documento original sofreu alterações, resultando da articulação dos serviços da câmara com a Direcção Regional de Cultura do Centro, referiu Manuel Machado.

Em Julho, o movimento Cidadãos por Coimbra (CpC), com um vereador eleito, defendia a realização de um concurso público para a concretização do projecto que foi aprovado nesta segunda-feira. O CpC entendia então que, caso tal não se verificasse, a cidade iria “passar ao lado de uma oportunidade histórica de promover um projecto urbano de qualidade”.

Quando foi assinado o protocolo, o director da APA, Nuno Lacasta indicava um ano como a duração da intervenção nos muros de contenção da margem direito. O presidente da CMC aponta agora para um período indicativo de ano e meio. 

Sugerir correcção
Ler 2 comentários