Os jovens trans não o são por “contágio social”, reforça estudo
Estudo contou com dados de 200 mil jovens recolhidos ao longo de dois anos e reporta que a percentagem de trans na amostra diminuiu. Diz ainda que jovens trans são mais susceptíveis de serem vítimas de bullying, o que contraria a ideia de que a transição é feita por “moda”.
Não, os jovens trans não estão a fazer a transição por “contágio social”, diz um estudo levado a cabo pelo Fenway Institute e publicado pela Academia Americana de Pediatria.
O estudo, que contou com dados de cerca de 200 mil jovens entre os 12 e os 18 anos de 16 estados norte-americanos recolhidos entre 2017 e 2019, concluiu que, ao contrário do que sugere a ideia muitas vezes disseminada por movimentos transfóbicos — de que os jovens estão a fazer transição por influência dos pares — tem acontecido, na verdade, o oposto: a percentagem total de jovens trans na amostra diminuiu de 2,4% em 2017 para 1,6% em 2019.
Liderado por Jack L. Turban, The Transgender Issue: An Argument for Justice reporta ainda que jovens trans são mais “susceptíveis a serem vítimas de bullying e de tentarem suicídio quando comparados com jovens cisgénero (pessoas que se identificam com o género atribuído à nascença)”, lê-se no estudo. Mais ainda, jovens trans experienciam taxas de bullying mais altas do que jovens que pertencem a minorias sexuais — que, por sua vez, são mais susceptíveis a serem vítimas quando comparados a jovens heterossexuais.
E são precisamente estas altas taxas de bullying junto de jovens trans que levam os autores do estudo a concluir que esses números são “inconsistentes com a ideia de que jovens estão a assumir-se como trans para evitar o estigma associado à pertença a um grupo sexual minoritário ou porque acreditam que assumirem-se como trans os vai tornar mais populares junto dos pares — ambas as explicações têm sido difundidas nos media”.
Mais ainda, uma “percentagem substancial” dos adolescentes trans também se identificavam como gay, lésbica ou bissexual, o que contraria a tal ideia de que adoptar uma identidade trans é uma “tentativa de evitar o estigma associado às minorias sexuais”.
Este estudo vem assim contrariar um anterior, publicado na revista Plos One (com factor de impacto 2.776), que sugeria que a disforia de género poderia ser “socialmente contagiosa”. Já aquando da publicação, este estudo foi refutado e descredibilizado por entrevistar apenas pais (muitos deles recrutados de sites anti-trans) e não os jovens trans.
Outra das conclusões do estudo é que há um número ligeiramente mais alto de jovens trans cujo sexo atribuído à nascença foi o masculino “Os argumentos perniciosos de que os jovens LGBT ‘se tornam trans’, ou que a identidade trans é uma moda são usados para justificar coerção, crueldade e violência contra crianças trans, numa tentativa de suprimir a sua identidade”, afirma Cleo Madeleine, da associação britânica Gendered Intelligence, à Dazed.