Famosa pelos seus desenhos de borboletas, a designer Hanae Mori foi uma pioneira no mundo da moda japonesa, levando os seus motivos e as suas tradições às passerelles da alta-costura internacional, nomeadamente a Paris.
Mori era conhecida por Madame Butterfly e criou o vestido de noiva usado pela imperatriz Masako, morreu no passado dia 11 de Agosto, aos 96 anos, avançou o seu atelier ao site Rakuten Fashion Week Tokyo.
Hanae Mori nasceu em 1926, na província rural de Shimane e o seu pai, que era médico, encomendava roupas elegantes vindas directamente de uma famosa loja de Tóquio, a Mitsukoshi. Aquelas eram roupas que a faziam sentir-se “envergonhada”, confessou mais tarde. Contudo, não a afastaram do seu destino, o de se tornar designer.
Foi em Tóquio que frequentou a universidade, onde se licenciou em Literatura; só depois frequentou a escola de design, abrindo o seu próprio atelier no centro da cidade. Trabalhou como designer para realizadores de cinema, o que a ajudou a aprimorar o seu estilo. A sua carreira dá o salto quando chega a Paris, em 1961, para fazer pesquisa sobre o trabalho de Coco Chanel. Essa investigação levou-a ao seu traço distintivo na moda. Após um encontro com a própria Chanel no seu atelier em 1962, a mítica criadora francesa observou-a e sugeriu que usasse cores mais vivas, como um laranja, para fazer sobressair o seu cabelo negro.
Anos mais tarde, numa entrevista ao Washington Post, explicou: “De repente percebi que devia mudar a minha abordagem e fazer os meus vestidos para que fizessem a mulher destacar-se.” É que “todo o conceito japonês de beleza baseia-se na ocultação.”
Mais tarde, visita Nova Iorque, outro centro de moda e a sua primeira colecção é lá apresentada, em 1965, intitula-se East Meets West, um encontro de culturas que viria a ser sinónimo do trabalho de Mori.
“Senti-me fortemente consciente das minhas raízes como uma ‘pessoa japonesa””, confessou Mori na altura, recordando que observou os produtos japoneses, a serem vendidos muito baratos, nos pisos inferiores dos grandes armazéns nova-iorquinos, e viu uma representação da ópera Madama Butterfly e pensou: “‘Isto não é o Japão!’”. Por isso, decidiu tentar a sua sorte fora do seu país.
Em 1965, a sua primeira colecção chamou a atenção do público e dos media norte-americanos para a sua mistura de temas orientais e ocidentais. Na década seguinte, seguiram-se desfiles na Europa e abriu uma casa de moda em Paris, em 1977, tornando-se a primeira mulher asiática a ser admitida na selecta Câmara de Alta-costura de Paris. Foi também a primeira japonesa a abrir um salão de couture na exclusiva Avenue Montaigne.
“Como tema, escolhi a borboleta que simboliza a mulher japonesa a abrir as suas asas pelo mundo”, anunciou então. Vestiu a primeira-dama Nancy Reagan e a actriz e princesa Grace Kelly e a sua borboleta abriu asas pelas habituais declinações das marcas dos grandes designers — em perfumes, joalharia ou marroquinaria.
Em 1999, a direcção criativa da sua casa foi entregue à nora, Pamela Mori. Viria a abandonar a profissão em 2004, mas antes disso a sua carreira ficou marcada pelo design do vestido usado pela imperatriz Masako no dia do seu casamento com o então príncipe herdeiro Naruhito em 1993.
Também desenhou os uniformes para os comissários de bordo da Japan Airlines e para as equipas olímpicas do Japão nos Jogos de Verão de Barcelona de 1992 e nos Jogos de Inverno de Lillehammer de 1994. Acabaria também por desenhar o guarda-roupa para a produção de uma Madama Butterfly, em 1985, para a Ópera de Milão no La Scala. O seu trabalho como figurinista é profuso, tanto no cinema quanto nos palcos japoneses, nomeadamente para o teatro Kabuki.
Hanae Mori deixa dois filhos, uma filha, sete netos e vários bisnetos, informou o seu escritório. O marido Ken Mori morreu em 1996. As suas netas Izumi Mori e Hikari Mori, irmãs e filhas de uma mãe italo-americana, são modelos. Foi feito um serviço fúnebre para família e será realizado um público, mas desconhecem-se ainda os detalhes.