A onda de calor que deve começar este fim-de-semana afectará mais o interior Norte e Centro, mas o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) não prevê que seja tão grave como a de Julho. “Eu diria que esta onda de calor será relativamente normal para o nosso Verão, em que há transportes de massas de ar quente vindas de África que influenciam mais as regiões do interior. Mas, à partida, sem se baterem recordes [de temperatura]”, disse ao PÚBLICO Vanda Cabrinha, da Divisão de Clima e Alterações Climáticas do IPMA.
Haverá um aumento significativo de temperatura já a partir de sexta-feira, informa Vanda Cabrinha, mais sensível no interior Centro e Norte. “Os locais onde esta onda de calor é mais provável serão os distritos de Bragança, Guarda, o Vale do Douro e, eventualmente, o Vale do Tejo também. Nalguns desses locais as temperaturas podem chegar à volta dos 40 graus, 42 graus”, adiantou.
O que os modelos de previsão meteorológica mostram é que a onda de calor se deve prolongar até dia 24, no máximo 26 de Agosto. “Pode-se prolongar, mas os modelos ainda não confirmam essa continuação”, assegura Vanda Cabrinha.
O que parece claro é que não será uma onda de calor tão severa como a de Julho: foi o mês de Julho mais quente dos últimos 92 anos. Espera-se, no entanto, que ocorram também algumas noites quentes, em que o termómetro não chega a baixar o suficiente para refrescar, nas regiões do interior e no Algarve. “Não será uma onda de calor tão significativa como em Julho; nessa altura tivemos uma situação mais excepcional”, explica a cientista do IPMA.
No dia 14 de Julho tivemos o valor mais elevado da temperatura máxima do ar, 47 graus Celsius, registado na estação do Pinhão (Vila Real), para o mês de Julho. Foi um novo extremo para este mês, em Portugal continental. “Hoje em dia já não se pode dizer que os recordes de temperatura registados em várias estações meteorológicas sejam difíceis de bater, porque a situação é completamente diferente de há uns anos. Mas, para já, não se está a prever que se batam os recordes de Julho – o que não quer dizer que não possa acontecer”, ressalva Vanda Cabrinha.
Tal como em Julho, a onda de calor não se restringirá a Portugal continental. “À partida, em Espanha e França também se fará sentir, poderá até ser um bocadinho mais intenso do que aqui em Portugal”, avança Vanda Cabrinha.
A onda de calor de Julho foi causada por uma corrente muito forte de ar muito quente vinda de África, que levava a que o calor chegasse mesmo às regiões do litoral. “Agora também há um transporte dessa massa de ar quente continental, mas não com tanta intensidade como foi a de Julho”, disse a cientista do IPMA.
Estas massas de ar quente são transportadas pelo anticiclone dos Açores quando se estende sobre a Península Ibérica. “É isso que normalmente está associado a este bom tempo que temos, e a mais calor. Quanto mais estendido o anticiclone dos Açores estiver sobre a Península, ou até a apanhar o Norte de África, mais quente poderá ser esse transporte de ar. Isso foi o que tínhamos, de facto, em Julho, o anticiclone estendia-se ainda mais [que o costume] e esse transporte era ainda maior”, explicou Vanda Cabrinha.
Agora o anticiclone dos Açores também está estendido sobre a Península Ibérica, mas não de forma tão acentuada como em Julho – por isso não se espera uma onda de calor tão grave.
Sem chuva no horizonte
Quanto à chuva que poderia aliviar a seca, não há nuvens no horizonte para o início do Outono e isso é mau. “Infelizmente os cenários não são muito animadores, de facto. Até ao final de Agosto não se está a projectar que haja precipitações significativas aqui em Portugal continental”, adiantou Vanda Cabrinha.
Para Setembro, “os modelos estão ainda um bocadinho indecisos”, disse. Há uma previsão de 40% a 50% para que seja um Setembro mais seco do que o normal. “Ou seja, os modelos não mostram que Setembro vai ser extremamente seco, até poderá ser próximo do normal. Mas também não se prevêem valores de precipitação acima do normal, isso é que não”, avalia a cientista do IPMA.
Para diminuir a seca – no fim de Julho, 55,2 % do território de Portugal continental estava em seca severa e 44,8 % em seca extrema, o nível mais grave, segundo o IPMA –, seria necessário haver um Setembro com uma precipitação bastante elevada, e contínua, explicou Vanda Cabrinha. “Para já, a tendência é para ser um mês de Setembro mais seco do que o normal”, prevê.
Nestas condições meteorológicas, podemos esperar que ocorram algumas trovoadas de fim de Verão, que por vezes marcam o fim de Agosto, início de Setembro? “Normalmente, para haver trovoadas, para além desta situação anticiclónica, em Portugal continental, tem de se formar uma depressão no interior da Península Ibérica, ou em Espanha”, explicou Vanda Cabrinha.
Para os próximos dias, pelo menos, não se está a prever a formação dessas depressões. “Ao contrário, o céu vai estar pouco nublado ou limpo. Poderá é haver algum vento mais forte de Leste, um vento mais quente, sobretudo nas terras altas, ao final da tarde, o que não é bom para os incêndios”, resume a cientista do IPMA.