Incêndio na serra da Estrela reacendeu-se em Vale de Amoreira. Evacuadas quintas em volta de Valhelhas
Aldeias em perigo são do concelho da Guarda. “O incêndio deflagrou com muita intensidade”, como na semana passada. “A diferença é que este deflagrou onde existem aldeias, numa zona mais habitada”, diz o coordenador municipal da Protecção Civil de Gouveia, concelho onde a situação estava calma nesta segunda-feira.
O incêndio dado como dominado na sexta-feira à noite, e que lavrou em vários concelhos da serra da Estrela ao longo de toda a semana passada, reacendeu-se na tarde de ontem na localidade de Vale de Amoreira, o que obrigou à retirada de pessoas das quintas em redor da freguesia de Valhelhas. Entre as 15h30, hora aproximada a que deflagrou com três ignições em simultâneo, e as 22h30 — hora a que foi feito um ponto de situação pelo comandante nacional da Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil, André Fernandes — a situação agravou-se, estando o fogo activo em três municípios: Guarda, Covilhã e Manteigas.
“É um incêndio com um comportamento violento, uma intensidade muito elevada. Espera-se uma noite de combate efectivo”, disse o comandante André Fernandes, salientando os factores que podem ser impeditivos do sucesso dessa acção de combate: os ventos fortes de oeste e noroeste, a humidade relativa baixa e a seca extrema em que se encontra o país.
“Todos os meios mobilizáveis estão no local e a caminho. A prioridade é salvaguardar a integridade física das populações e dos bombeiros” e a protecção do “património edificado”, disse, insistindo momentos depois na importância de manter o foco nas acções de socorro e salvaguarda da vida das pessoas. “É um fogo muito grande, o qual vai ser muito difícil combater”, dizia por telefone horas antes Hugo Teixeira, coordenador municipal da Protecção Civil de Gouveia. “Temos uma mancha contínua de floresta muita grande com uma densidade enorme. Estando o fogo no vale próximo de Famalicão da Serra ainda mais difícil será.”
Embora seja coordenador municipal de um concelho não atingido pelo fogo, ontem, dispunha de informação detalhada da ocorrência no concelho da Guarda, onde responsáveis da autarquia e Protecção Civil estavam tomados pela emergência. “Várias quintinhas em volta da aldeia de Valhelhas foram evacuadas”, disse Hugo Teixeira. O responsável da Protecção Civil é de Vale Formoso (Covilhã), uma das quatro aldeias que estavam mais próximas da frente activa, sendo as outras três Videmonte, Famalicão da Serra e Gonçalo.
Aldeias cercadas, pessoas retiradas
Ao início da noite, Vale Formoso estava cercada e as pessoas foram retiradas para o pavilhão municipal da freguesia. Havia igualmente “muitas pessoas a serem retiradas da vila de Gonçalo”, disse à Lusa o presidente da Câmara da Guarda, Sérgio Costa, que descreveu o fogo como estando “completamente descontrolado”.
Como na semana passada, “o incêndio deflagrou com muita intensidade”, acrescenta Hugo Teixeira. “A diferença é que este deflagrou com essa intensidade onde existem aldeias, numa zona mais habitada.” No local, estiveram 721 bombeiros, 220 viaturas e várias aeronaves, reforçadas por unidades especiais de combate a incêndios, bem como meios disponibilizados pelas autarquias e máquinas de rasto do Instituto Nacional para a Conservação da Natureza, descreveu André Fernandes na conferência de imprensa em que disse que iriam “averiguar qual a origem das ignições” que provocaram a reactivação deste incêndio.
Foi na madrugada de sábado 6 de Agosto que um incêndio deflagrou em Garrocho, no concelho da Covilhã, no distrito de Castelo Branco, estendendo-se rapidamente ao distrito da Guarda, nos municípios de Manteigas, Gouveia, Guarda e Celorico da Beira. Foi dado como dominado apenas na sexta-feira dia 12, quando já passava das 23h.
De acordo com o balanço desse dia, foi apontado como o incêndio mais extenso registado desde o de Pedrógão Grande, em 2017, pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, depois de ter consumido uma área que, segundo a estimativa, pode superar os 14 mil hectares de floresta no Parque Natural da Serra da Estrela.
Incêndios noutros locais
Na tarde do dia seguinte, sábado, a aldeia de Soida e a praia fluvial de Aldeia Viçosa, no concelho da Guarda, tiveram de ser evacuadas, mas isto devido a um incêndio “totalmente independente do outro que esteve activo ao longo da semana” na serra da Estrela, de acordo com as informações da Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil. Nesse caso, não se tratou de uma reactivação. Ontem, horas antes daquilo que foi efectivamente um reacendimento, a Associação Guardiões da Serra da Estrela lançava um apelo para um apoio aos pastores deste território.
Numa informação enviada à Lusa, a associação referia que o mais necessário seriam “fardos de palha com grão, ração (maioritariamente para ovinos e caprinos), ração para gestantes, lactantes e crias”, além de “depósitos de água, tubagens, comedouros e bebedouros”. Contactado, Manuel Franco, vice-presidente desta associação, apenas disse que a situação em Valhelhas, quando por lá passou ao início da tarde, estava “extremamente complicada”. “Agora tenho uma frente a progredir em direcção à minha casa depois de ter passado sete dias a ajudar outras pessoas na mesma situação”, descreveu horas depois. Outro incêndio dado como extinto no domingo, na serra do Marão, também registou duas reactivações e continuava com uma frente activa ao final da tarde.
Em resolução estava o fogo que deflagrou no domingo em Tomar, colocou em perigo habitações e passou para o concelho de Abrantes. Em Ourém, um incêndio deflagrou em zona de pinhal, mato e eucaliptal; a praia do Agroal foi evacuada “por precaução”. O comandante nacional da Protecção Civil, André Fernandes, garantiu que os meios mobilizados para a serra da Estrela não comprometeriam o combate a outros fogos, como este de Ourém.