Ministério da Saúde anuncia “estudo aprofundado” sobre excessos de mortalidade
Gabinete da ministra da Saúde assume que “o padrão temporal da mortalidade sofreu uma alteração após o início da pandemia, com o aumento da mortalidade anual, que poderá resultar de relações sinérgicas entre vários factores”.
Para tentar perceber quais são as causas que justificam o elevado número de óbitos registado desde o início da pandemia de covid-19, o Ministério da Saúde decidiu avançar com “um estudo aprofundado” sobre “os excessos de mortalidade mais recentes”, nomeadamente “os que coincidem com a maior intensidade epidémica da covid-19 e do calor”.
O estudo vai incidir sobre os dois primeiros anos da pandemia mas pressupõe-se que abrangerá também os primeiros sete meses deste ano, uma vez que o número de óbitos continuou elevado neste período, bem acima do padrão dos anos anteriores à pandemia, apesar de a covid-19 ter agora um peso mais reduzido na estatística das mortes por todas as causas.
"Considerando os períodos de excesso de mortalidade que se têm vindo a registar desde 2020, e tendo-se identificado a necessidade de estudar, com maior detalhe e profundidade, as causas destas mortes em excesso, o Ministério da Saúde está a trabalhar na preparação de um estudo aprofundado sobre os factores determinantes da mortalidade e dos excessos de mortalidade mais recentes”, explica o gabinete da ministra da Saúde, assumindo que “o padrão temporal da mortalidade sofreu uma alteração após o início da pandemia, com o aumento da mortalidade anual, que poderá resultar de relações sinérgicas entre vários factores”.
O estudo é anunciado pelo Ministério da Saúde depois de o jornal digital Página Um e o Expresso terem analisado as estatísticas para concluírem que, desde o início deste ano, o número de óbitos por mês ultrapassou sempre os dez mil, incluindo Maio e Junho, um padrão que apenas teve paralelo há um século, em 1923.
Esta sexta-feira, o Instituto Nacional de Estatística (INE) especificou que, nos primeiros sete meses deste ano, morreram 74.639 pessoas por todas as causas em Portugal, um número que é apenas ligeiramente inferior ao registado no mesmo período do ano passado (menos 1480) e que suplanta o dos primeiros sete meses de 2020. Em 2021, o total de óbitos (125.185) ultrapassou largamente o que era habitual antes do início da pandemia de covid, à semelhança do que já tinha acontecido em 2020 (123.720).
Em Julho passado, ainda de acordo com as “Estatísticas Vitais” do INE, morreram 10.627 pessoas, mais 21% do que no mesmo mês de 2021. O INE destaca que o número de óbitos foi superior à média dos cinco anos anteriores à pandemia (2015-2019) entre 31 de Janeiro e 20 de Fevereiro deste ano (semanas 5 a 7) e entre 7 de Março a 31 de Julho (semanas 10 a 30). E nota que na 30.ª semana deste ano (25 a 31 de Julho) registaram-se 2262 óbitos, dos quais 64 foram por covid-19 (2,8% do total).
Antes de 2020, recorda o gabinete de Marta Temido, observavam-se “excessos de mortalidade associados a fenómenos climatéricos extremos, como o calor ou o frio extremo, e a epidemias de gripe”. “Estes excessos de mortalidade eram, geralmente, mais elevados em Portugal do que na média europeia, afectando, predominantemente, os grupos etários mais velhos”, o que decorrerá da “considerável vulnerabilidade da população portuguesa, quer pelo envelhecimento populacional, quer, também, pela elevada prevalência de doenças crónicas em Portugal, entre outros factores”.
O ministério recorda que compete à Direcção-Geral da Saúde (DGS) e ao Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (Insa) monitorizar o estado de saúde da população e determinar “o risco de fenómenos de saúde, tais como a mortalidade e o excesso de mortalidade”, mas não explica se serão estas as entidades responsáveis pelo estudo anunciado.