Jovens ucranianos juntam-se em raves para limpar destroços da guerra

Antes da guerra, Kiev era a “nova Berlim”. A invasão da Rússia travou a vida nocturna da cidade e deixou muitos jovens profissionais criativos sem trabalho. Agora, um grupo de organizadores de festas pôs o seu talento ao serviço da comunidade.

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Os encontros do grupo Repair Together já reunem 200 jovens aos fins-de-semana. EPA/ROMAN PILIPEY

No que resta de um centro comunitário em Yahidne, na Ucrânia, o ambiente é jovem e acolhedor. Jovens com cabelos multicoloridos vestem tops com estampados e dançam ao som de ritmos electrónicos. São os antigos “organizadores de festas” da Ucrânia mas, agora, em vez de planearem festas e guiarem turistas, tentam trazer alegria ao processo de limpeza da destruição da guerra.

“É como se não pensasses em tudo”, diz Tetiana Burianova, uma organizadora do grupo. “Só te mexes e sentes a música.”

Uma rave de limpeza na aldeia de Ivanivka, Chernihiv. EPA/ROMAN PILIPEY
Os encontros a que chama Toloka sobrevivem com doações e com os seus próprios fundos. A iniciativa começou com um pequeno grupo e reúne agora cerca de 200 pessoas nos fins-de-semana. EPA/ROMAN PILIPEY
Grupo Repair Together, na Ucrânia EPA/ROMAN PILIPEY
Grupo Repair Together, na Ucrânia EPA/ROMAN PILIPEY
Grupo Repair Together, na Ucrânia EPA/ROMAN PILIPEY
Grupo Repair Together, na Ucrânia EPA/ROMAN PILIPEY
Grupo Repair Together, na Ucrânia EPA/ROMAN PILIPEY
Grupo Repair Together, na Ucrânia EPA/ROMAN PILIPEY
Grupo Repair Together, na Ucrânia EPA/ROMAN PILIPEY
Grupo Repair Together, na Ucrânia EPA/ROMAN PILIPEY
Grupo Repair Together, na Ucrânia EPA/ROMAN PILIPEY
Grupo Repair Together, na Ucrânia EPA/ROMAN PILIPEY
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Uma rave de limpeza na aldeia de Ivanivka, Chernihiv. EPA/ROMAN PILIPEY

Burianova é uma das organizadoras do grupo de voluntários Repair Together, uma operação com base em Kiev que assume a tarefa sombria de limpar os escombros dos bairros ucranianos organizando “raves de limpeza”. O grupo traz DJ ao local da reconstrução para tocarem techno enquanto os voluntários e os residentes escavam e varrem.

Acho que não é só a reparação de casas. É também repararmo-nos a nós próprios”, diz Oksana Huz, outra voluntária.

Yahidne, uma pequena aldeia a nordeste de Kiev, esteve sob controlo russo em Março e Abril. As tropas russas ocuparam as casas dos residentes e mantiveram mais de 300 pessoas na cave de uma escola durante um mês, de acordo com os habitantes locais. Quando as forças russas recuaram, 11 pessoas tinham morrido devido às condições na cave e a aldeia estava em ruínas.

“Era luminosa e moderna”, diz Vladyslav, um residente de Yahidne de 17 anos, que esteve na cave da escola. “Tínhamos uma discoteca, uma biblioteca, um jardim, uma escola.”

Agora, diz Vladyslav, tudo o que conhecia na sua cidade está destruído.

Luzes estroboscópicas e amplificadores empilhados ficam lado a lado com pilhas de blocos de cimento. Voluntários passam ritmicamente fragmentos de betão uns para os outros, enquanto dobram os joelhos ao som de música. Os habitantes aguardam ansiosamente as visitas da Repair Together, levando comida e bebida aos locais de trabalho para partilhar com os voluntários.

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EPA/ROMAN PILIPEY

“As pessoas virem aqui e ajudarem-nos com música de alguma forma ajuda a aldeia a renovar-se e a reanimar-se”, diz Valerii, outra residente de Yahidne. “Antes disto, as pessoas andavam por aí sombrias, sem emoção, e isto ajuda-as a esquecer um pouco a guerra e a sentir alguma alegria.”

Vladyslav concorda.

“É bastante aborrecido apenas trabalhar”, acrescenta. “Desta forma, também se pode dançar um pouco.”

Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post

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