China dispara mísseis em exercícios militares à volta de Taiwan

As manobras militares são uma resposta directa à visita de Nancy Pelosi a Taiwan, que a China encarou como uma provocação.

A China iniciou esta quinta-feira os anunciados exercícios militares com fogo real nas imediações de Taiwan, naquela que é a maior operação deste tipo alguma vez levada a cabo por Pequim junto da ilha.

“Os exercícios estão a começar”, disse a televisão estatal chinesa CCTV numa mensagem publicada na rede social Weibo pouco depois das 12h locais (5h em Lisboa). Os exercícios estão programados até domingo e abrangem seis zonas marítimas e aéreas em redor da ilha. Incluem “disparos reais de longo alcance” e “testes de mísseis convencionais”, disse a estação. “Esta é a nossa mensagem firme para os dirigentes mal-intencionados e as forças separatistas que querem a independência de Taiwan”, afirmou à CCTV um responsável da região militar Leste do Exército de Libertação Popular (ELP), Gu Zhong.

Momentos depois de a China ter iniciado os exercícios, as forças armadas de Taiwan disseram que se estão a “preparar para a guerra sem procurar a guerra”. “Não queremos uma escalada [de tensões], mas não hesitamos quando se trata da nossa segurança e soberania”, disse o Ministério da Defesa.

O Exército chinês anunciou o disparo de mísseis para a água junto a vários pontos da costa de Taiwan. As autoridades da ilha dizem que foram lançados 11 mísseis no total e o ministro dos Negócios Estrangeiros acusou a China de “imitar” os métodos norte-coreanos. Vídeos que alegadamente mostram o momento em que os mísseis foram disparados, bem como de cânticos militares, foram partilhados nas redes sociais pelos meios de comunicação estatais chineses.

O Ministério da Defesa de Taiwan também disse que uns 10 navios da Marinha chinesa e vários caças atravessaram a “linha média” que simbolicamente separa as águas territoriais da China da ilha.

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“Não havia nenhum cenário possível em que o Governo de Xi Jinping encararia esta visita com descontracção”, defende Filipa Rodrigues Teodoro, investigadora do Instituto Português de Relações Internacionais. 

Joana Gonçalves

As manobras militares são uma resposta directa à visita da presidente da Câmara dos Representantes norte-americana Nancy Pelosi a Taiwan, que a China encarou como uma provocação e um incitamento à vontade independentista da ilha. Pelosi é a mais importante responsável norte-americana a visitar a ilha em 25 anos. Washington tem também um porta-aviões e outro equipamento naval na região.

Apesar de os exercícios assumirem agora uma escala sem precedentes, desde o início da semana que a China tem feito manobras militares no estreito. Na terça-feira, o Ministério da Defesa de Taiwan denunciou a incursão de 21 aviões militares chineses na sua Zona de Identificação de Defesa Aérea (ADIZ), e na quarta-feira, quando Pelosi estava reunida com o Parlamento local e com a Presidente de Taiwan, terão entrado outros 27.

“Se alguém tentar usar isto para provar que a China é uma ameaça, isso só mostra que tem o coração negro”, disse a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Hua Chunying. “As coisas chegaram a este ponto devido à acção obstinada de Pelosi apesar dos repetidos conselhos da China”, acusou, acrescentando que a realização de mais exercícios militares como o desta semana dependerá das futuras acções dos Estados Unidos e dos activistas taiwaneses.

À intensificação dos exercícios militares em redor de Taiwan, a China somou a suspensão das importações de dezenas de produtos agrícolas do território e de algumas exportações, como, por exemplo, a areia chinesa.

Ministro chinês cancela reunião com japonês

A partir da capital do Camboja, Phnom Penh, onde está a participar numa cimeira com ministros dos Negócios Estrangeiros da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), o chefe da diplomacia da União Europeia condenou a “actividade militar agressiva” da China no Estreito de Taiwan. Josep Borrell escreveu no Twitter que não há “nenhuma justificação” para as acções e apelou à calma e contenção. “É normal os deputados dos nossos países fazerem viagens internacionais”, escreveu.

Borrell partilhou naquela rede social um comunicado dos ministros do G7 que pede à China “para não alterar unilateralmente o statu quo à força e para resolver pacificamente as divergências” com Taiwan.

Em reacção ao comunicado, que “desagradou fortemente” à China, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Pequim decidiu cancelar uma reunião com o homólogo japonês, que pertence ao G7, que estava agendada à margem da cimeira da ASEAN.

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