Oxford e Cambridge decidem devolver a África 213 Bronzes do Benim

As peças foram pilhadas em 1897 pelo exército colonial britânico e integram uma das mais significativas colecções de arte produzida em território africano.

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Os bronzes contribuíram fortemente para a valorização da arte africana na Europa LEGACY RESTORATION TRUST

Tem tudo para ser a maior restituição de bens culturais operada pelo Reino Unido. As direcções das universidades de Oxford e de Cambridge acordaram devolver à Nigéria 213 peças dos Bronzes do Benim, uma colecção composta por mais de mil artefactos criados pelos povos Edo, a maioria deles saqueados pelas tropas coloniais britânicas em 1897.

Entre as 213 figuras de latão e bronze, 116 estão no acervo do Museu de Arqueologia e Antropologia de Cambridge e as restantes 97 sob a alçada dos museus Pitt Rivers e Ashmolean Museum of Art and Archaeology, administrados pela Universidade de Oxford. A obra mais antiga data do século XIII.

“Deve ficar cada vez mais evidente que os objectos adquiridos de maneira ilegítima devem ser restituídos aos seus países de origem”, declarou Nicholas Thomas, antropólogo e director do Museu de Arqueologia e Antropologia de Cambridge. Esta decisão decorre do pedido de devolução emitido pelas autoridades nigerianas, sendo que a Comissão Nacional dos Museus e Monumentos do país se dispôs a emprestar peças às duas instituições britânicas para eventuais exposições.

Segundo o jornal inglês The Telegraph, este acordo poderá “aumentar a pressão” sobre o British Museum, que é o maior detentor singular de Bronzes do Benim, com cerca de 900 peças. Este conjunto de obras tem estado no olho do furacão do debate sobre os processos de restituição de bens culturais pilhados durante o colonialismo, que tem vindo a ganhar tracção desde 2018, com o chamado relatório Macron, no qual se definiram as condições de devolução de artefactos às antigas colónias francesas.

Em 2020, França comprometeu-se em devolver 26 totens e ceptros do Benim pilhados pelo exército colonial em 1892, bem como um sabre do século XIX ao Senegal. No ano passado, foi a vez da Alemanha e dos EUA, mais concretamente o Metropolitan Museum of Art, seguirem o exemplo.

Considerado um dos registos mais significativos da arte produzida em território africano, sobretudo entre os séculos XVI e XVIII, a maior parte dos Bronzes do Benim foi pilhada pelas forças britânicas do Palácio Real de Edo no decorrer de uma expedição militar que levaria à anexação do território ao Império Britânico, pondo assim termo ao Reino do Benim. As peças roubadas foram depois vendidas em vários países da Europa e dos Estados Unidos. Importante potência regional pré-colonial, o Reino do Benim situava-se na actual Nigéria.

Estas peças “contêm episódios religiosos, narram cenas quotidianas e batalhas — incluindo até representações de portugueses armados. Os bronzes contribuíram fortemente para a valorização da arte africana na Europa na medida em que contrariavam a tese hegeliana de que África era um continente de primitivos e selvagens, isentos de civilização e história”, escreveu Clara Ervedosa, investigadora do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra num artigo de opinião no PÚBLICO, no ano passado.

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