Fechada desde Abril, Biblioteca do Marquês prepara-se para acolher ideias de cidadãos

Antiga biblioteca Pedro Ivo, reabilitada pelo município para fins culturais, está neste momento sem actividade. Câmara do Porto diz estar a preparar um concurso de ideias para associações e colectivos, que será lançado no último trimestre do ano

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Biblioteca está encerrada desde Abril NELSON GARRIDO

Quem passar no jardim do Marquês nos últimos meses verá a renovada Biblioteca Popular de Pedro Ivo de portas fechadas. Outra vez. A Câmara do Porto, que a reabilitou e lhe devolveu o cariz cultural, diz que “está em fase de conclusão a delineação e posterior abertura de um concurso de ideias, a ser lançado no quarto trimestre do ano”. Este concurso vai eleger dois projectos e atribuir-lhe duas “bolsas de criação/ programação com a duração de seis meses cada uma”.

Estas bolsas – de 20 mil euros cada – “serão atribuídas aos melhores projectos apresentados por associações e colectivos”, que devem fazer propostas para o público infanto-juvenil tento como áreas programáticas “o livro, a leitura e a oralidade”.

Questionada pelo PÚBLICO sobre o encerramento do espaço nos últimos tempos, o gabinete de comunicação da autarquia recorda a programação da antiga biblioteca infantil, inaugurada em 1948, ao longo de 2021, com uma agenda desenvolvida pelo Museu da Cidade, a Biblioteca Pública Municipal, o Rivoli e o Departamento de Cinema e Imagem em Movimento/Cinema Batalha.

Reaberta no final de Março de 2021, a biblioteca foi casa da Rádio Estação do Museu da Cidade em três momentos ao longo desse ano, ora com convidados de várias áreas culturais da cidade ora com “leituras colectivas para crianças e pais e eventos performativos”, Pelo espaço, que nos últimos anos funcionou como cafetaria, passou também o projecto europeu Moving Borders e uma pequena biblioteca de poesia ao ar livre, com serviço de atendimento e de empréstimo, durante a Feira do Livro.

Entre o fim de Novembro de 2021 e Março de 2022, o espaço não teve nenhuma actividade, recebendo depois disso, entre 10 de Março e 19 de Abril, a exposição Água Ardente, do colectivo Laia, culminar de “um longo processo de estudo sobre o contexto sociocultural e a história da Praça do Marquês e da sua pequena Biblioteca”.

Agora, a antiga biblioteca infantil está fechada e aguarda que a autarquia defina as regras do concurso de ideias que irá acolher as propostas da comunidade e assumir-se como espaço cultural, como Rui Moreira prometera no início de 2020, quando decidiu assumir novamente a gestão e ali instalar um projecto de “índole cultural”.

As suspeitas e outras histórias

A “novela” tem início em Novembro de 2019, com uma hasta pública polémica. Numa sessão nos Paços do Concelho, uma licitação pelo espaço de 43 metros quadrados, que, segundo as regras definidas pelo município, deveria ser explorado como cafetaria, ascendeu aos 4500 euros. Era uma subida de 800% face à base de licitação, de 570 euros, que afastava todos os outros interessados da exploração do negócio.

A hasta pública haveria de repetir-se em Janeiro, mas ainda de forma “anormal”, o que levaria a autarquia a anulá-la e enviar as suas suspeitas ao Ministério Público. Dessa vez, as propostas ascenderam aos 6500 e 700 mil euros, mas quem licitou desistiu no final, entregando o espaço a uma outra proposta, a terceira mais alta, de 750 euros.

“Aquilo que se passou na última hasta foi demasiado grave para permitir a brincadeira que lá está a ser feita”, argumentou o presidente da Câmara do Porto numa reunião do executivo. “Disse que reservaríamos aquilo para um equipamento cultural. Estamos a estudar o assunto e disponíveis para ouvir propostas dos cidadãos.” Nessa altura, Rui Moreira já tinha definido não fazer sentido voltar a instalar ali uma biblioteca infantil, inclinando-se para uma “actividade cultural rotativa”

A biblioteca do Marquês foi uma das primeiras bibliotecas populares do Porto, chamada Pedro Ivo em homenagem ao fundador e depois classificada como infantil por causa dos livros que privilegiava.

O espaço seria encerrado no início do século e assim se manteria até 2012. Nessa altura, um grupo de pessoas ocupou o espaço e tentou transformá-lo num projecto cultural. Mas sem sucesso. Três dias depois da ocupação, a Polícia Municipal emparedava o lugar. Tempos depois, Rui Rio, então presidente da autarquia, pôs edifício em hasta pública.

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