O novo paradigma do cancro do pulmão

A consulta do diagnóstico precoce do cancro do pulmão irá aumentar cada vez mais a probabilidade de aumento de sobrevida.

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O hábito de fumar é uma das causas para o cancro do pulmão Paulo Pimenta/Arquivo

O carcinoma do pulmão continua a ser a maior causa de morte por cancro em grande parte dos países. Em Portugal é o terceiro tumor com maior incidência e mortalidade: são diagnosticados todos os dias 14 novos casos de cancro do pulmão e 11 pessoas morrem da doença.

O hábito de fumar, a incapacidade do rastreio em reduzir a taxa de mortalidade, o diagnóstico tardio e a inexistência de tratamento eficaz para as situações avançadas, são as razões mais relevantes para esta situação.

A procura de novos conhecimentos que possam melhorar as medidas preventivas e apontar para tratamentos mais eficazes do cancro do pulmão mantêm-se; o crescente conhecimento da biologia tumoral, a existência de fármacos menos tóxicos e tratamentos de suporte mais adequados, associados à visão multidisciplinar do tratamento dos doentes com cancro do pulmão, tem permitido melhorar as perspetivas de tratamento destes doentes.

Trata-se do tumor que mais desenvolvimentos científicos tem vindo a apresentar ao longo dos últimos anos, ao nível dos estádios precoces mas, fundamentalmente, nos estádios avançados/metastizados, onde se situam a maior parte dos doentes na altura do diagnóstico, dadas as dificuldades de diagnóstico precoce, entre outros, pela ausência de sintomas numa fase inicial, na grande maioria dos doentes.

O rastreio em cancro do pulmão de base populacional não se encontra estabelecido na maioria dos países, nomeadamente em Portugal.

Porém, existem estudos com vários anos de investigação que apontam as vantagens de se estabelecerem programas de deteção precoce para esta doença, que consiste na realização regular de TAC torácica de baixa dose nos grupos de risco (determinado pela quantidade de maços de cigarros fumados por dia e do número de anos previamente definido) com idades compreendidas entre os 40 e 75 anos, carga familiar pesada, doença pulmonar obstrutiva crónica, fibrose pulmonar e profissões de risco (contacto com radom, asbestos, por exemplo). Em todos estes estudos houve uma redução na ordem dos 20% de mortalidade por cancro do pulmão. Pelo que o diagnóstico precoce torna-se cada vez mais premente.

A consulta do diagnóstico precoce do cancro do pulmão irá aumentar cada vez mais a probabilidade de aumento de sobrevida com maiores hipóteses de tratamento cirúrgico, que continua a ser o tratamento mais eficaz , quando indicado.

Nos últimos anos a oncologia de precisão tem vindo a robustecer o arsenal terapêutico à disposição dos clínicos, permitindo alcançar melhores resultados em saúde, particularmente ao nível da sobrevida destes doentes, especialmente nos estadios avançados.

Hoje em dia nos centros que tratam cancro do pulmão, para que o seu tratamento seja o mais adequado, o diagnóstico deve esgotar-se apenas nos estudos de biologia molecular, na procura de uma mutação específica que permita o uso de terapêuticas personalizadas, o que já acontece em cerca de 20 % dos casos .

Nos últimos anos o aparecimento da imunoterapia veio permitir que um outro grupo de doentes com um determinado valor dum marcador específico (cerca de 30 % de doentes) possa efetuar como primeiro tratamento a imunoterapia .

Mais recentemente a combinação possível de imunoterapia com quimioterapia, nos doentes que apresentem condições clínicas para o seu uso, aumentou francamente as probabilidades de otimização do tratamento na doença metastizada, com uma sobrevivência global significativamente superior ao da quimioterapia, que foi tratamento padrão nos últimos 40 anos. Por conseguinte, pelo benefício que lhe é reconhecido, a combinação de Imunoterapia com quimioterapia revolucionou as guidelines de tratamento para todos os doentes com cancro do pulmão metastizado (excluindo-se apenas os doentes com mutações específicas tratados de forma personalizada).

A inclusão em ensaios clínicos, desenvolvidos em centros de referência portugueses, com terapêuticas inovadoras é uma possibilidade cada vez mais aliciante para os doentes portugueses.

Infelizmente nem todos os doentes nos chegam com condições clínicas para efetuarem estas terapêuticas, havendo ainda uma percentagem de doentes que são sujeitos apenas a medidas de conforto, daí o nosso alerta para que todos os doentes que se encontram dentro de grupos de risco, se dirijam aos médicos assistentes, no sentido de uma orientação tão rápida quanto possível que irá conduzir a terapêuticas mais radicais.

Se apresentam sintomas de emagrecimento, mal-estar geral, tosse recorrente, falta de ar ou expetoração com sangue, por exemplo, procurem o médico o mais rapidamente possível. Um diagnóstico precoce permite usufruir destas terapêuticas inovadoras, que irão sem dúvida fazer a diferença, mudando o paradigma do cancro do pulmão quer na sobrevida quer mesmo na qualidade de vida.


A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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