Dia da Marinha russa na Crimeia “arruinado” por drone
Moscovo acusou a Ucrânia de ter atacado o quartel-general da Frota Russa no Mar Negro, mas Kiev rejeitou a autoria. Empresário do sector dos cereais morto em bombardeamento em Mikolaiv.
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O quartel-general da Frota Russa no Mar Negro, situado na Crimeia, foi atingido por mísseis disparados por um drone às primeiras horas da manhã de domingo. Moscovo responsabilizou a Ucrânia pelo ataque que coincidiu com o Dia da Marinha na Rússia, mas as autoridades ucranianas rejeitam as alegações.
Pelo menos seis pessoas ficaram feridas durante o ataque, cuja autoria ainda não tinha sido apurada de forma independente ao fim do dia de domingo. Os festejos que estavam programados para a Península da Crimeia relativos ao Dia da Marinha tiveram de ser cancelados e o autarca pró-russo de Sebastopol, Mikhail Razvozhaiev, pediu aos habitantes da cidade para se manterem dentro de casa.
O responsável culpou “nacionalistas ucranianos” por terem “arruinado” o Dia da Marinha na península que foi anexada em 2014 pela Rússia. No entanto, o porta-voz da região militar de Odessa, Sergii Bratchuk, rejeitou as acusações russas que disse serem “pura provocação”.
“A nossa libertação da Crimeia dos ocupantes será feita de uma outra forma e muito mais eficientemente”, afirmou Bratchuk através de uma mensagem no Telegram.
A confirmar-se, será a primeira vez que a Ucrânia intervém militarmente na península da Crimeia desde o início da invasão russa, em Fevereiro, o que pode representar uma escalada no conflito. Em Abril, as forças ucranianas já tinham conseguido atingir o navio Moskva, um dos principais a integrar a Frota do Mar Negro, afundando-o, embora Moscovo nunca tenha admitido atribuir o ataque à Ucrânia.
Se os festejos do Dia da Marinha na Crimeia tiveram de ser cancelados, em São Petersburgo houve uma cerimónia de Estado que incluiu um discurso do Presidente russo, Vladimir Putin, e a apresentação da nova doutrina militar naval. O documento de 55 páginas estabelece as linhas orientadoras que devem guiar o desenvolvimento e a projecção do poder naval russo, citando como principal ameaça aos interesses nacionais a “política estratégica dos EUA para dominar os oceanos mundiais”.
A doutrina também cita a expansão da NATO na Europa de Leste como uma ameaça à Rússia e aponta como objectivo estratégico um “fortalecimento abrangente da posição geopolítica da Rússia” no mar Negro e no mar de Azov, segundo a Reuters.
O dia foi aproveitado por Putin para apresentar os novos mísseis cruzeiro hipersónicos Zircon que devem começar a ser instalados na fragata Almirante Gorshkov nos próximos meses. Este tipo de míssil é capaz de atingir uma velocidade nove vezes superior à do som. O objectivo, disse o Presidente russo, “é ser capaz de responder à velocidade de um relâmpago a qualquer um que decida infringir a soberania e liberdade” da Rússia.
Empresário morto
No terreno, a Rússia continua a intensificar os ataques em várias frentes. Durante a noite e ao longo deste domingo, os bombardeamentos sobre a cidade de Mikolaiv, no sul do país, foram praticamente ininterruptos. Durante a noite, um dos mísseis acabou por atingir a casa onde se encontrava Oeksii Vadaturski, um dos empresários ucranianos mais importantes no ramo da exportação de cereais e um dos homens mais ricos da Ucrânia.
A morte do empresário de 74 anos foi lamentada pelo Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky como uma “grande perda” para o país. Vadaturki fundou e era proprietário da Nibulon, uma empresa líder no sector dos cereais, e chegou a ser galardoado com a medalha de “Herói da Ucrânia”.
O assessor presidencial Mikhailo Podoliak disse não ter dúvidas que o ataque que matou o empresário foi intencional por parte da Rússia. A exportação de cereais tem sido uma das áreas mais afectadas pela invasão russa. A Ucrânia é um dos maiores produtores de cereais e outros produtos agrícolas a nível mundial, mas a ausência de condições de segurança para que os navios possam sair dos portos ucranianos no mar Negro tem deixado milhões de toneladas de bens alimentares acumulados em armazéns. O preço dos cereais nos mercados internacionais tem subido nos últimos meses, criando uma crise alimentar em todo o mundo.
A Rússia e a Ucrânia chegaram recentemente a um acordo após negociações mediadas pela Turquia para que fossem reunidas condições que permitissem o escoamento dos cereais nos portos ucranianos. Um porta-voz do Governo turco disse que o primeiro navio de transporte de cereais poderá sair da Ucrânia já esta segunda-feira, mas a mesma promessa já foi feita noutras ocasiões, acabando por sair gorada.