Clube Fenianos Portuenses quer contornar exclusão social com cultura
O INCukTurar-te, organizado com outros parceiros da cidade, arranca em Julho e decorre até Dezembro. Os participantes serão os protagonistas de mais de 60 actividades programadas.
Há um público-alvo - pessoas em risco de exclusão -, mas é aberto a todos os que quiserem participar. Até Dezembro, no projecto INCukTurar-te: Incluir pela Cultura, crianças, jovens e seniores serão os protagonistas de cerca de 60 actividades relacionadas com as artes de palco. O objectivo é usar a cultura ao serviço da inclusão social. O programa será apresentado esta sexta-feira de manhã na sede do Clube Fenianos Portuenses (CFP), que desenvolveu o programa em conjunto com outros parceiros da cidade.
A iniciativa será realizada no âmbito do um projecto maior - o Cultura Para Todos, que, ainda antes do início da pandemia, nasceu dentro do Ministério da Coesão Territorial para ser posto em prática em vários concelhos do país.
“Quem participar vai poder experimentar fazer teatro, ilusionismo, música ou artes plásticas. Não serão apenas assistentes. Serão parceiros activos na produção cultural”, adianta Vítor Tito, presidente do CFP.
O projecto foi desenhado para crianças e jovens, entre os 12 e os 18 anos, e para maiores de 64 anos em risco de exclusão. “Mas a ideia é misturar estas diferentes tipologias de alvos e abrir à cidade. Qualquer pessoa pode participar”, esclarece. O método escolhido seguirá uma linha em direcção à criação de “espaços de sociabilização que promovam processos de valorização e melhoria de auto-estima através do desenvolvimento de actividades artísticas e de experiências de desenvolvimento e reforço de competências pessoais de suporte à inclusão social activa”. Na prática, transferindo esta intenção para uma agenda, o resultado será materializado em sete oficinas distintas.
À Volta do Piano, servirá para sensibilizar e ampliar o conhecimento de repertório musical de “grupos de jovens e de grupos de idosos”. A oficina Ilusionismo destina-se a jovens “a partir dos 12 anos de idade”. Na que tem a designação de Ensaio Falado, para todas as faixas etárias, experimentar-se-á a leitura de literatura dramatúrgica, que poderá dar origem a um podcast sobre teatro. Na oficina Pensamento pretende-se estimular o espírito crítico.
Mas há mais três. Duas delas serão orientadas por um dos parceiros do projecto financiado pelo Programa Operacional Regional do Norte - Norte 2020. O Teatro Experimental do Porto (TEP) ficará responsável pela criação da Academia do Teatro Sénior e do espaço Conversas Sobre o Restauro do Arquivo do Teatro Experimental.
Na primeira, Gonçalo Amorim, director artístico do TEP, vai recorrer a profissionais que trabalham com o grupo para “orientar actores amadores ou que já não estejam em actividade, com mais de 65 anos”. Este trabalho culminará com uma apresentação pública. O INCukTurar-te termina em Dezembro, mas isso não significa que academia termina com o fim do projecto. “Esperamos que possa continuar”, afirma.
Incluir sem guetizar
Em torno do arquivo do grupo de teatro, que nasceu precisamente nas instalações do CFP em 1951, serão realizadas conversas conduzidas por Carolina Ventura, uma das responsáveis pelo restauro do acervo do TEP. As sessões serão para o público alvo, mas não só: “As pessoas mais desfavorecidas normalmente não têm acesso a este tipo de actividades, mas é aberto a toda a gente”.
Da Associação Apuro, outro parceiro, Rui Spranger entende que esta deverá ser uma das máximas a seguir no decorrer do projecto. “Para não haver aqui um processo de guetificação, o cruzamento de experiências, de vidas e de vivências é extremamente importante”, explica. O colectivo que representa está envolvido na oficina Ensaio Falado, mas também noutro: Ateliês de Criação. “O objectivo é montar um espectáculo em um dia. Os participantes dividem-se nas oficinas que desejam participar. Depois, entre as 10 da manhã e as 6 da tarde, prepara-se o espectáculo, que é apresentado no próprio dia”, diz.
Vítor Tito, sublinha que o projecto é uma espécie de regresso às origens do CFP. “As actividades do programa são actividades que têm raízes no clube”, afirma. A reboque da iniciativa financiada em 150 mil euros, nascerá ainda uma sala de cinema num anfiteatro da sede. Nada que se desvie também da origem do clube fundado em 1904: “O Aurélio Paz dos Reis é um dos membros fundadores e temos a primeira máquina de projectar”, recorda.