Paquistão
Pode uma floresta urbana diminuir a temperatura de uma cidade?
Sem árvores, "estamos a transformar a cidade num inferno", diz à Reuters o fundador da Floresta Urbana de Clifton, no sul do Paquistão. O programa tem como missão a criação de uma floresta urbana de 50 mil árvores autóctones, em Carashi, para fazer face ao aquecimento global — mas nem todos os especialistas estão de acordo com a eficácia desta abordagem.
Em 2015, na cidade costeira de Carashi, no sul do Paquistão, uma onda de calor matou, em apenas três dias, 400 pessoas. A falta de árvores e zonas verdes na cidade mais populosa do país, onde habitam 15 milhões, teve, então, um papel crucial. Sem elas, "estamos a transformar a cidade num inferno", disse Masood Lohar à Reuters.
Para endereçar este problema, Lohar, o fundador do programa público-privado Floresta Urbana de Clifton (FUC), quer garantir a plantação de 50 mil árvores de espécies autóctones numa área anteriormente ocupada por uma lixeira; essa, garante, será o novo "pulmão" da região. "As pequenas florestas, quando estiverem plenamente desenvolvidas, terão a função de diminuir a temperatura ambiente", pode ler-se no site oficial do projecto." Cumprirão, além disso, o propósito de fixar águas pluviais que, actualmente, se perdem completamente."
Carashi tornar-se-á, nas suas palavras, mais resiliente face a desastres naturais e, não menos importante, num ambiente propício à fixação de uma grande variedade espécies animais. "À medida que vamos plantando, vai crescendo o número de insectos e pássaros neste espaço", conta Lohar. "Já há suricatas em torno do parque e quatro ou cinco espécies de camaleões."
Mulazin Hussein, o funcionário do programa que "cultivou e cuidou daquelas plantas como se fossem filhos durante os últimos quatro anos" sente uma enorme diferença na área plantada. Entre as árvores e vegetais que ajudou a vingar, junto ao mar, o homem de 61 anos garante que "agora há verdura, alegria, crianças que vêm brincar para o parque, pessoas que vêm caminhar".
Durante a visita da Reuters, Hussein removia as plantas secas da terra e regava as árvores. "O Paquistão está entre os dez países mais vulneráveis ao aquecimento global em todo o mundo", observou o funcionário. "Logo a seguir aos oceanos, as árvores são a melhor arma contra o dióxido de carbono." No final da sua jorna, Hussein virou água sobre o próprio corpo, para fazer face às temperaturas recorde que se fazem sentir, por estes dias, em Carashi.
Num país onde a água é um recurso escasso, o investimento necessário para transformar rebentos em plantas de grandes dimensões pode não surtir o efeito pretendido, ou seja, pode não gerar mudanças significativas numa cidade. "Não se trata apenas de sucesso do ponto de vista visual, de números, de pequenas manchas verdes aqui e ali", comenta, sem aludir directamente ao projecto FUC, o investigador e especialista em desenvolvimento urbanístico da Universidade de Helsínquia Usman Ashraf. "Faz falta ao conceito de floresta urbana a adopção de uma abordagem mais holística."
Em todo o Paquistão, onde vivem 220 mil pessoas, apenas 5,4% da área é florestada; nos países vizinhos, Índia e Bangladesh, os valores são significativamente mais elevados: 24% e 15%, respectivamente. O Governo que antecedeu o que se encontra em funções anunciou um programa de florestação maciça que previa a plantação de 10 mil milhões de árvores entre 2019 e 2023.