Planear as cidades (e as escolas) com as crianças, através de jogos
Propuseram mais transportes colectivos e bicicletas, espaços para cuidar de animais e ter mais árvores. Reunir pessoas numa sala para ouvir exposições longas, com “os do costume” a falar, não funciona e gera desigualdade de poder.
A maioria da população mundial já vive em cidades. Nas cidades, existem maiores concentrações de riqueza e oportunidades, mas são também espaços de conflito e desigualdade. Levantam-se questões sociais, ambientais, de saúde e acesso a bens e serviços. Planeiam-se as cidades para serem mais eficientes e, em alguns locais, para que a qualidade de vida aumente. Mas será que todos participam nisto?
Tradicionalmente, os processos de planeamento são definidos pelo poder político e económico. Essas decisões surgiam dos estratos sociais mais elevados, das elites que impunham a sua vontade. Actualmente, isto tem vindo a mudar nas sociedades mais democráticas. Estamos a registar processos de planeamento territorial onde se vai além da mera consulta e aprovação pública.
Aspira-se, em alguns dos casos mais inovadores, a que as decisões resultem do trabalho colaborativo de todos os participantes, cidadãos, técnicos, políticos, e representantes dos mais diversos interesses e causas. Mas para que estes processos possam funcionar é necessário inovar nos métodos e implementações.
Reunir pessoas numa sala para ouvir exposições longas, com “os do costume” a falar e debater não funciona e gera desigualdade de poder. Fazer sessões em horários restritos onde a participação é irrelevante para os resultados práticos tem de ser evitado. Mesmo o uso de conteúdos escritos, as típicas nuvens de post-its têm as suas limitações. Nem todas as pessoas estão confortáveis em expressar as suas necessidades dessa forma. São métodos que podem levar à exclusão. E quando pensamos nestes processos esquecemo-nos das crianças, que são utilizadores das cidades agora e no futuro.
Para resolver estas dificuldades precisamos de métodos alternativos, que possam explorar mais a nossa criatividade e incluir contributos de todos e em vários formatos. Uma das possibilidades passa por usar dinâmicas de jogos, onde as regras facilitam a estruturação e os restantes elementos de jogos potenciam a criatividade e a colaboração.
Foi um destes processos que construí para a Escola Amarela em Leiria, em que alunos do 3.º e 4.º ano construíram o seu modelo de escola, sobre uma base que se assemelhava à realidade e enquadramento urbano da sua escola. Depois, viram os automóveis a chegar, a entupir as vias envolventes e subir passeios. As crianças propuseram novas formas de mobilidade que libertassem espaço para novas ideias de coisas que podiam melhorar a escola e a sua envolvente urbana.
Surgiram mais passeios, jardins, parques de actividades, espaço para exporem os trabalhos que faziam e comunicarem com a comunidade envolvente. Propuseram mais transportes colectivos e bicicletas, espaços para cuidar de animais e ter mais árvores para brincarem e fazerem projectos. Menos betuminosos e mais verde, diversão na educação. Tudo isto foram ideias das crianças, potenciadas através de um serious game analógico, fácil de implementar e jogável em apenas uma hora. Uma turma pode facilmente jogar este tipo de jogos em grupos, cada um adaptado a cada escola.
Foi uma surpresa para as professoras destas crianças. Ficaram imensas ideias de projectos futuros e o sorriso das crianças. O que estamos à espera para começar a planear as cidades com eles?