Festival de Documentário de Melgaço vai ter 32 filmes de 16 países na selecção oficial
MDoc2022 realiza-se de 1 a 7 de Agosto e tem entre as novidades o lançamento da secção X-RayDoc, este ano dedicada à análise de um clássico do cinema brasileiro, Cabra Marcado para Morrer (1984), de Eduardo Coutinho.
A selecção internacional do MDoc - Festival Internacional de Documentário de Melgaço, apresentada esta quinta-feira no Porto, contará com 22 longas-metragens de 12 países diferentes, num programa que inclui exposições e várias iniciativas de formação.
O número de longas-metragens no festival, a decorrer de 1 a 7 de Agosto naquele município do distrito de Viana do Castelo, é o mais elevado em oito edições, a que se juntam mais 10 curtas-metragens, explicou a organização durante a apresentação do programa no MIRA Fórum.
Na competição ao Prémio Jean-Loup Passek, no valor de três mil euros, estão trabalhos de 16 países diferentes, entre os quais uma “grande selecção” de filmes portugueses. “Estes 32 filmes foram seleccionados tendo como base aqueles temas base do festival, identidade, memória e fronteira”, explicou Carlos Viana, da direcção do evento. Para o presidente da Câmara de Melgaço, Manoel Batista, a oitava edição vai continuar a “fazer o impensável no sítio mais impensável”, uma “grande alegria e privilégio”.
A selecção nacional do festival, que tem como missão divulgar cinema etnográfico e social, já tinha sido anunciada, com títulos como Alcindo, de Miguel Dores, a partir da história do homicídio de Alcindo Monteiro; Paraíso, de Sérgio Tréfaut, rodado no Brasil; e Viagem ao Sol, de Ansgar Schaefer e Susana de Sousa Dias, filme construído apenas com imagens de arquivo, com testemunhos de crianças austríacas, enviadas para Portugal no pós-Segunda Guerra Mundial.
Águas do Pastaza, de Inês T. Alves, exibido em Berlim; Via Norte, de Paulo Carneiro; No Táxi do Jack, de Susana Nobre; e Paz, de José Oliveira e Marta Ramos, também serão mostrados em Melgaço.
Dispersos pelo Centro e Quis Saber Quem Sou, ambos de António Aleixo; Nous sommes venus, de José Vieira; Os Fotocines, de Sabrina Marques; e Transit, de Hugo dos Santos, compõem o leque de escolhas nacionais. A eles juntam-se várias obras internacionais, como Four seasons in a day, da belga Annabel Verbeke; Where We Are headed, do russo Ruslan Fetodow; Makeup artist, de Jafar Najafi, do Irão; e o iraquiano Heza, de Derya Denis.
O brasileiro Eryk Rocha apresenta Edna, enquanto do Níger chega Zinder, de Aicha Macky, de França há produções de Saeed Taji Farouky (A thousand fires) e Mara, de Sasha Kulak, além de Dida, filme suíço de Nicola Ilic e Corina Schwingruber. Nota ainda para Tomorrow comes yesterday, filme turco de Kirsten Gainet; All of our heartbeats are connected through exploding stars, de Jennifer Rainsford; Aya, de Simon Coulibaly Gillard; e The Territory, de Alex Pritz.
A selecção de curtas-metragens estende o leque de países ao Qatar, aos Países Baixos, à Polónia e a Mianmar.
Um documentário do Brasil
Uma das novidades deste ano é a secção X-RayDoc, dedicada à análise “de um filme marcante na história do documentário”, com coordenação de Jorge Campos, e que irá abordar o filme brasileiro Cabra Marcado para Morrer (1984), de Eduardo Coutinho.
“É um filme extraordinariamente importante, rodado ao longo de 20 anos. Começa em democracia, atravessa a ditadura e é retomado, de novo, em democracia”, descreveu o coordenador. O jornalista, professor e antigo deputado do Bloco de Esquerda destaca Cabra Marcado para Morrer como “um filme a fazer-se a si próprio”, que permitirá à secção, na qual se pretende “estudar um documentário”, mostrar este “extraordinário mosaico do Brasil a partir dos mais pobres”.
O Museu de Cinema de Melgaço recebe uma exposição evocativa de Jean Loup Passek (1936-2016) – historiador e coleccionador de cinema, que ajudou a estabelecer esta instituição –, numa parceria com o Festival de Cinema de La Rochelle, que o também crítico e programador francês fundou e dirigiu durante vários anos.
Entre vários outros projectos incluídos na programação, destaca-se o programa Quem somos os que aqui estamos?, uma recolha e reinterpretação de arquivos fotográficos de habitantes de Castro Laboreiro e Lamas de Mouro, com várias exposições, que ficarão patentes até ao mês de Outubro.
O MDoc integra ainda debates e um programa formativo, Fora de Campo, com vários docentes universitários, realizadores e outros profissionais do cinema de vários países, sempre em ligação com a antropologia e a etnologia.
No âmbito das residências de criação realizadas em 2021, o MDoc, que dá continuidade a esta ideia também em 2022, exibirá este ano quatro documentários “que traçam novos olhares para as histórias da região” de Melgaço. São eles A Inverneira de Pontes, de Luís Miguel Pereira; Alua Pólen - Para Ela, D'Ele, de Beatriz Walviesse Dias; Até ao Amanhecer, de José Luís Peixoto, Henrique Queirós e Sebastião Guimarães; e Cristóval - Pontebarxas, de Alexandra Guimarães e Gonçalo Almeida, últimos de um total de 28 filmes já produzidos desde 2015.
Anualmente, o festival atribui vários prémios, entre os quais o Prémio Jean-Loup Passek para o melhor filme e o melhor cartaz de cinema, e o Prémio D. Quixote, atribuído pela Federação Internacional de Cineclubes.
O júri deste ano contará com a professora de cinema Aida Vallejo, com a directora do Instituto de Cinema e Artes Teatrais da Universidade da Silésia, na Polónia, Anna Huth, com o crítico de cinema Carlos Natálio, com o realizador mexicano Juan Pablo Gonzalez e com a co-diretora da Documentary Association of Europe, Marion Schmidt.
O Festival Internacional de Documentário de Melgaço é organizado pela associação Ao Norte com a Câmara Municipal de Melgaço.