Francisco Batel Marques: “O que distingue um grande vinho são os pormenores e cuidado”

A Quinta dos Abibes viu três dos seus espumantes serem premiados com medalha de ouro no Concurso Mundial de Bruxelas 2022. Francisco Batel Marques diz que o segredo está nos pormenores.

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A Quinta dos Abibes situa-se no sopé da Serra do Buçaco, concelho de Anadia Instagram Quinta dos Abibes

São os pormenores que distinguem um grande vinho. E são eles que têm permitido à Quinta dos Abibes conquistar dezenas de prémios internacionais, em quase duas décadas, defende o proprietário Francisco Batel Marques, que viu três espumantes seus serem premiados com ouro no Concurso Mundial de Bruxelas que decorreu no início do mês na Anadia.

“O segredo começa logo em ter uma boa planificação do solo, castas, clima e, depois, o que distingue um grande vinho são os pormenores e o cuidado: fazer a tempo e horas o que se tem de fazer, fazer com o máximo de rigor, evitar o laxismo, ser o mais profissional possível e não transigir em questões que, por vezes, parecem marginais, pois várias questões marginais somadas fazem a diferença”, destaca, em conversa com a Lusa, o proprietário, vitivinicultor e engarrafador da Quinta dos Abibes.

“Concorremos apenas na secção de espumantes e tivemos três medalhas de ouro, sendo uma delas de grande ouro. O espumante que teve o grande ouro foi também a revelação de Portugal”, evidencia.

O vinho espumante Quinta dos Abibes Baga Bairrada Blanc de Noirs 2015 foi distinguido com a Grande Medalha de Ouro, o prémio mais elevado da competição, sendo considerado a grande revelação portuguesa deste ano, ao lado de cinco outras referências internacionais.

“Penso que a casta baga é extraordinária para espumantes e, por isso, três dos nossos quatro espumantes têm baga”, indica Francisco Batel Marques, que é também professor da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra.

Estes galardões juntam-se aos “mais de 70 prémios internacionais” que vem arrecadando em quase duas décadas, depois de iniciar actividade numa quinta que adquiriu, após longos anos de “abandono”.

“Comecei com a Quinta dos Abibes faz este ano 20 anos. O terreno estava abandonado há mais de 20 anos e tive de fazer tudo, não da estaca zero, mas de menos qualquer coisa”, recorda. Baga, Touriga Nacional e Arinto, castas exclusivamente portuguesas, constituem a estrutura mestra da viticultura desta quinta com cerca de dez hectares, vocacionada para produzir espumantes e vinhos tranquilos de qualidade superior.

Por ano é produzida “uma média de 30 mil garrafas”, de vinhos espumantes, tintos e brancos. “São vinhos especiais, porque faço vinhos que, na perspectiva de consumidor, eu compraria para consumir. Esta é a regra”, refere.

O vitivinicultor adianta que apesar de o foco da quinta ser a produção de vinhos, pretendem “aumentar o espectro das actividades”. “Queremos mais visitas, mais iniciativas adjacentes ao vinho e que possam captar a atenção das pessoas e participação em visitas à quinta. Temos também uma componente de exportação modesta que gostaríamos de ampliar, depois da contrariedade provocada pela pandemia por covid-19 e agora a guerra, que gera um ambiente de incerteza em relação ao futuro”, acrescenta.

O mercado “é maioritariamente nacional”, estando implantados em praticamente todo o território, embora seja na região Centro que são “mais pujantes”.

Para os próximos anos, tem identificados três grandes desafios, que “não eram previsíveis há 20 anos”. “A questão das alterações climáticas, com impactos muito grandes na viticultura, bem como a questão dos recursos humanos, faltando particularmente recursos humanos especializados. O terceiro desafio prende-se com as restrições que poderão surgir em relação à comercialização de produtos com álcool, metendo-se no mesmo saco um destilado, uma cerveja ou um vinho”, conclui.

Com dez hectares de superfície, sete dos quais de vinha, a Quinta dos Abibes situa-se no sopé da Serra do Buçaco, na freguesia de Aguim, no concelho de Anadia, distrito de Aveiro.

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