Jafar Panahi vai cumprir pena de seis anos de prisão a que fora sentenciado em 2010

Autoridades judiciais de Teerão recuperaram sentença antiga para punir o realizador, detido na semana passada por apoiar outros dois cineastas visados pelo regime iraniano.

Foto
Jafar Panahi no seu apartamento em Teerão KAVEH KAZEMI

O realizador iraniano Jafar Panahi vai cumprir seis anos de prisão relativa a uma sentença que data de 2010, anunciaram esta terça-feira as autoridades judiciais de Teerão. Na semana passada, o premiado cineasta fora detido depois de se ter apresentado em tribunal em solidariedade com outros dois realizadores iranianos detidos por criticarem a violência policial contra manifestantes.

A justiça iraniana não associa porém as duas situações. “Panahi tinha sido sentenciado em 2010 a um total de seis anos de prisão e por conseguinte deu entrada no centro de detenção de Evin para ali cumprir a sua pena”, disse o porta-voz das autoridades judiciais, Massoud Setayeshi, aos jornalistas, citado pela emissora alemã Deutsche Welle.

Jafar Panahi foi detido na semana passada, sob acusação de actividades anti-governamentais e crimes contra a segurança, após ter-se associado a um movimento contra a violência da polícia sobre manifestantes em protesto contra a alegada negligência no desmoronamento de um edifício, incidente de que resultou a morte de pelo menos de 41 pessoas. Centenas de figuras das artes do país subscreveram o mesmo apelo.

Antes de Panahi, a 8 de Julho, fora detido o realizador Mohammad Rasoulof, por críticas às autoridades policiais nas suas redes sociais; com o autor de O Mal Não Existe, Urso de Ouro no Festival de Cinema de Berlim em 2020, foi detido também o realizador Mostafa Al-Ahmad.

Panahi, uma das vozes mais contestatárias do cinema iraniano e que várias vezes já se viu a braços com a justiça do rígido país, foi detido por sua vez no dia 11, quando chegava ao tribunal onde iriam ser ouvidos os colegas.

Agora, abate-se sobre ele o caso de 2010, no qual se viu condenado por “propaganda contra o sistema” — e pelo qual cumpriu já dois meses de prisão. Em liberdade condicional desde então, ficara impedido de sair do país e viu-se novamente detido em 2011 por filmar sem autorização, tendo então permanecido em prisão domiciliária.

Jafar Panahi recebeu o Leão de Ouro de Veneza por O Círculo e o Urso de Ouro em Berlim por Taxi. É um dos principais rostos do cinema iraniano contemporâneo.

A sua detenção é apenas mais um passo no caminho de endurecimento do conservadorismo e da repressão do regime de Teerão. O Ministério dos Negócios Estrangeiros francês (são conhecidas e profundas as relações de co-produção e distribuição internacional entre o cinema francês e o cinema iraniano) considerou na sexta-feira estas detenções um sinal “da deterioração preocupante da situação dos artistas no Irão”. A diplomacia francesa exprimiu a sua “grande preocupação” perante as detenções de “personalidades iranianas envolvidas na defesa da liberdade de expressão no seu país”.

Os festivais de cinemas de Cannes, Veneza e Berlim, onde a cinematografia iraniana é presença constante, condenaram a “onda de repressão”, exigiram a “libertação imediata” dos realizadores e manifestaram-se “ultrajados”, respectivamente, pelo sucedido.

Sugerir correcção
Ler 4 comentários