Impacto da nova ponte poderia ser menor? “Não tenho dúvidas”, diz Rui Moreira
Autarca responsabiliza Metro do Porto pelo traçado da nova ponte e diz que “não é o mais interessante”. Classificação da Ponte da Arrábida impossibilitou solução que Rui Moreira diz ter defendido
Foi já em lágrimas que Ângela Pereira pediu ajuda ao executivo do Porto. “Não me deixem a dormir debaixo de uma ponte”, rogou a moradora de uma cooperativa de Massarelos por cima da qual a nova ponte sobre o Douro, que ligará Santo Ovídio à Casa da Música, deverá ser construída. Ângela e o marido, António Pereira, foram esta segunda-feira à reunião pública da câmara para pedir a Rui Moreira que não baixasse os braços desta luta. Mas viram o autarca reforçar uma mensagem já antes passada: a obra não é municipal e o município nada pode fazer.
O presidente da Câmara do Porto empurrou para a Metro do Porto as responsabilidades sobre o traçado definido para a futura travessia – e contestado por este casal e vários outros moradores que, como o PÚBLICO noticiou, estão a organizar-se para contestar essa decisão. “A decisão que a Metro tomou, e pode legalmente tomar, não tomou em conta as minhas preocupações”, afirmou Rui Moreira, numa mensagem reforçada pouco depois pelo vereador Pedro Baganha. “Foi uma opção que nos foi comunicada, nunca nos foi posta à consideração”, garantiu.
Para Rui Moreira, o local onde a ponte entra no Porto “não é o mais interessante”, desde logo porque interfere com várias casas, naquela zona da cidade. “Que poderia ter havido menor impacto não tenho dúvidas”, referiu. “A [ponte] que estava prevista, e que pretendíamos, só afectava três ou quatro casinhas na Rua do Ouro.”
A zona especial de protecção da ponte da Arrábida e a sua classificação como monumento nacional são, para o autarca do Porto, o início e o cerne do problema. Isso mesmo havia dito no início da reunião, quando a vereadora da CDU, Ilda Figueiredo, o questionou sobre o tema. “A localização actual da ponte resulta de um processo de qualificação da ponte da Arrábida que não era justificado.”
Rui Moreira reforçou ter sido contra essa classificação por entender, já nessa altura, que ela implicaria que a nova ponte, já prevista, teria de ser deslocada para zonas onde há habitações, prejudicando “uma zona romântica da cidade”.
A esse factor, disse Pedro Baganha, junta-se um outro que aumenta o impacto da travessia, que irá servir o metro, peões e bicicletas: a cota da ponte, que o caderno de encargos obrigava a que fosse mais alta do que a da Arrábida, para não interferir com esse monumento. É uma visão discutível, assinalou o vereador do Urbanismo, também arquitecto, argumentando que, dependendo do ponto de vista, pode até ter maior impacto, como acontecerá a partir do Palácio de Cristal.
A Metro do Porto está neste momento a trabalhar na mitigação do impacto da ponte, em conjunto com os projectistas vencedores do concurso internacional, do gabinete dos sucessores de Edgar Cardoso, e ainda com Álvaro Siza, que foi contratado especificamente para esse fim.