Daniel Pereira Cristo: “Pela razão e pela empatia, podemos mudar o mundo”

Cinco anos depois de Cavaquinho Cantado, Daniel Pereira Cristo volta aos discos com De Pernas Para o Ar, que esta quinta-feira é apresentado ao vivo em Viana do Castelo.

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Daniel Pereira Cristo e Carla Pires GONÇALO DELGADO

Depois de ter dado rosto à segunda edição discográfica de Associação Cultural Museu Cavaquinho, com Cavaquinho Cantado (2017), o multi-instrumentista bracarense Daniel Pereira Cristo está de regresso aos discos com um título onde ao cavaquinho se juntam muitos outros instrumentos e vozes e que se aventura mais pelos caminhos da canção de autor. Chama-se De Pernas Para o Ar, tem a participação da fadista Carla Pires, a par de um grupo de músicos com que Daniel tem trabalhado, e vai ser apresentado esta quinta-feira ao vivo em Viana do Castelo, no Festival Marginal, de iniciativa camarária, que ali decorre entre 14 e 14 de Julho. Será no Jardim da Marina, às 22h30, com acesso livre.

Nascido em Braga, a 25 de Abril de 1979, Daniel assinou como Daniel Pereira o primeiro disco, retomando agora o nome pelo qual é conhecido. E explica ao PÚBLICO porquê: “O Cristo é um epíteto que vem dos tempos académicos, por causa do cabelo comprido, que na altura usava e que agora uso outra vez.” E porque há muitos Daniel Pereira, fixou este nome artístico: “Quem pesquisar Daniel Pereira Cristo encontra tudo sobre mim.”

O disco, com nove temas e produção de Hélder Costa, recorre a poemas de Alberto Caeiro (Fernando Pessoa) e Antero de Quental (Se eu pudesse trincar a terra toda, de O Guardador de Rebanhos, e Hino à razão) tem três originais de Tiago Torres da Silva (No país de Alice, Fazer o pino e A voz do sonhador), inclui uma versão de uma canção de José Afonso (De não saber o que me espera) e junta dois temas tradicionais portugueses (Arriba ao monte e Tirioni) a um fado (Hortelã mourisca). “Os cantautores são uma grande referência para mim, por isso é que está aí a homenagem ao Zeca Afonso, com uma música extraordinária e intemporal que é das menos conhecidas dele e que tem um peso muito grande nos dias incertos de hoje.”

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A capa do disco

O espectáculo montado a partir do disco, Da Raiz Ao Fado (com Carla Pires) é, diz ele, “um trabalho mais ecléctico que define uma bitola, entre o Cavaquinho Cantado e este disco mais cantautoral, que é o caminho que queremos seguir agora. Sem nunca perder aquilo que são as nossas fundações, a nossa terra, mas numa união, com uma abordagem mais jazzística e mais world music, que me parece fundamental para defender o nosso património etnomusicológico.”

Há, a par desta ideia intrinsecamente musical, também motivações sociais: “Contribuir para um mundo plural e diverso é uma das coisas que me dá alento para continuar a fazer o que faço. O mundo de hoje está a sofrer com uma bipolarização estúpida que está a destruí-lo. O ser humano está demasiado ensimesmado, vive na sua bolha, muito orientado pelas redes sociais e parece que estamos a perder a capacidade de ouvir opiniões diferentes das nossas, o que é uma coisa assustadora. É o que este single No país de Alice, com letra do Tiago Torres da Silva, pretende demonstrar, quando se fala das Bruxas de Salém, da Virginia Woolf, dizendo: ‘E por medo ou por dinheiro, ficou mudo ou nada disse’. Isto sempre houve, mas tem vindo a piorar na sociedade de hoje. O De Pernas Para o Ar é também um exercício de estilo para esta incerteza toda.”

O facto de o disco começar com palavras ditas e só depois cantadas, de Alberto Caeiro, tem uma razão antiga, diz Daniel. “Eu tenho um projecto de poesia dita ou encenada com o actor António Durães, de Teatro de São João, chamado Sindicato de Poesia. Fazemos isto já há vinte e tal anos. Aprendi muito com ele, descobrimos poesias juntos, e essa entrada vem daí, como a importância dos nossos poetas clássicos. Estes dois poemas, do Alberto Caeiro/Fernando Pessoa e de Antero de Quental, acho que enquadram muito bem o sentimento deste álbum: pela razão e pela empatia, podemos mudar o mundo.”

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Daniel Pereira Cristo com Carla Pires, junto ao Rio Cávado GONÇALO DELGADO

O disco teve um concerto de pré-lançamento no dia 25 de Fevereiro em Braga, no Theatro Circo, o mesmo onde já fora estreado, em 2017, o álbum anterior, Cavaquinho Cantado. “É um espectáculo um bocadinho fora da caixa”, diz Daniel Pereira Cristo. “Tem momentos com onze músicos em palco e outros em que estou sozinho a tocar.” Agora anda a rodar por terras nortenhas, esta quinta-feira em Viana do Castelo e em Setembro em Famalicão. “A ideia foi partir das principais cidades minhotas para depois chegar a outros palcos, incluindo Lisboa, talvez em princípios do ano que vem.”

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