Candidatura do moliceiro a património UNESCO apresentada à comunidade
Proposta congrega a carpintaria naval da ria. Apresentação decorrerá no estaleiro-museu da Praia do Monte Branco, na Torreira, que mantém viva a arte da construção naval.
O processo foi iniciado há cerca de dois anos, com o apoio técnico do Instituto de Planeamento e Desenvolvimento do Turismo, e já culminou com o registo no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, essencial para proceder à candidatura junto da UNESCO. Aveiro quer mesmo ver o barco moliceiro e a construção naval da ria reconhecidos como Património da Humanidade, preferencialmente antes de 2025. Este sábado, no âmbito do fim-de-semana consagrado à laguna aveirense - o Ria de Aveiro Weekend -, a comunidade intermunicipal apresenta os pressupostos da candidatura à comunidade local. E decidiu fazê-lo num estaleiro-museu, um dos poucos espaços onde os dias ainda vão sendo passados a construir moliceiros.
No fundo, a Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro (CIRA) tenta aproveitar este longo caminho, que requer “vários passos” e envolve “alguma complexidade”, ressalva Ribau Esteves, para “estimular a preservação destes valores culturais tão importantes e que sabemos, nomeadamente no que respeita à carpintaria naval, que não estão no seu esplendor”. A arte já teve, efectivamente, melhores dias, correndo riscos de desaparecer - são já muito poucos os estaleiros em actividade na região.
A confirmar-se o reconhecimento da UNESCO, o presidente da CIRA não tem dúvidas de que esse selo internacional conferirá “mais um importante patamar, com expressão internacional, na preservação e promoção destes valores identitários de Aveiro”.
Cumprido o primeiro passo de candidatura ao Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, a região estima poder ter o processo concluído até 2025, sem deixar de assumir que esta é uma “perspectiva optimista”. “Trabalharemos com intensidade para que o processo seja o mais breve possível, mas temos consciência que a UNESCO tem processos do mundo inteiro”, argumentou o também presidente da Câmara de Aveiro.
Enquanto o processo segue o seu curso, importa não deixar morrer a arte da carpintaria naval na Ria de Aveiro. Ribau Esteves destaca o trabalho que tem vindo a ser feito pelas autarquias da Murtosa e Estarreja no apoio a esta arte - a primeira tem um estaleiro-museu, a segunda tem um centro interpretativo da construção naval -, ainda assim insuficiente para trazer “gente nova para a arte da carpintaria naval”. “Os carpinteiros que temos têm já alguma idade”, reconheceu, admitindo que a conjuntura actual não ajuda. “Muitos sectores de actividade não conseguem recrutar mão-de-obra e esta realidade é mais um contributo para a dificuldade de recrutar pessoas que queiram dedicar-se à carpintaria naval”, explicou.
Apresentação antecede mais uma regata de moliceiros
A apresentação da candidatura “Barco Moliceiro: Arte da Carpintaria Naval da Região de Aveiro” a Património da Humanidade à comunidade local está marcada para as 10h30, no agora ampliado Estaleiro-Museu da Praia do Monte Branco, na Torreira, Murtosa, e insere-se num programa muito mais vasto e inteiramente dedicado à ria. Um dos grandes destaques vai para a Grande Regata dos Moliceiros (às 14h30) que contará, segundo a organização, com 16 embarcações (a maior participação de sempre) que, de velas ao vento, prometem uma competição única, repleta de emoção e deslumbre no horizonte. A chegada a Aveiro, no novo Cais do Sal (estrada-dique), prevista às 16h00, será acompanhada de uma parada de embarcações, com música ao vivo e animação.