Sem água, as novas “culturas superintensivas morrem em 15 dias”
José Roquette é tão obcecado com a questão dos recursos hídricos que quando se levanta, no Alentejo, vai sempre à janela confirmar a que cota está a água na Barragem do Alqueva. Como se imagina, está bastante pessimista.
Investe parte do seu tempo a observar e a estudar a questão dos sistemas de gestão e distribuição de água. É outra variável que tem para fazer os seus cenários?
Quando me levanto, aqui no Alentejo, percebo do meu quarto qual é a cota a que está a água no Alqueva. Acompanho o que se passa nesta bacia hidrográfica do lado de cá e do lado de Espanha, avalio o que se planeia a nível nacional sobre planos hidrográficos (em modo de planos de contingência, como é costume nessa nossa santa terrinha), estudo há muito a hipótese de canalização de água da bacia hidrográfica do Tejo para o Guadiana e sigo a discussão sobre instalação de uma central de dessalinização de água do mar no Algarve, que custa uma fortuna e que nenhum município quer ter nos seus territórios. Convém termos presente que em Portugal existe apenas uma pequena central de dessalinização em Porto Santo, mas em Espanha elas existem às centenas.
E o que conclui de tudo isso?
Concluo que se não tivermos uma dádiva de chuva dos céus, como aconteceu no ano passado, estaremos perante um problema muito grave porque chegaremos a uma altura em que não será permitida a captura de água para a agricultura.
Nesse caso, o que acontecerá aos milhares de hectares das novas culturas superintensivas?
Sem a água das barragens, as culturas superintensivas, e em particular as que estão à volta de Ferreira do Alentejo, morrem em 15 dias. Basta olhar para a estrutura radicular das plantas. Como nasceram e viveram sempre com disponibilidade de água, as suas raízes estão à superfície. Não penetraram no solo. Sem água, morrerão rapidamente.
Significa isso que estas culturas superintensivas são investimentos irracionais?
Não tenha dúvida nenhuma. E a realidade é que essas áreas são de investidores estrangeiros. Eles não são donos da terra; eles arrendam terra. No dia em que os projectos não forem viáveis, irão embora e nós ficamos com os problemas.
Acha isso aceitável?
É óbvio que não.
O Esporão foi a empresa que este ano mais prémios arrecadou no Concurso Nacional de Azeites (cinco), mantém-se há anos num patamar de qualidade elevada e é a marca com maior notoriedade num mercado importante como é o Brasil. Por que razão não aparecem – com tanto investimento em olival – outros operadores no Alentejo com capacidade de apresentar qualidade e volume numa marca de azeite?
São opções de cada um. Em primeiro lugar, ao Esporão nunca interessou o negócio do granel e, em segundo, toda a filosofia que aplicamos à olivicultura é a mesma da viticultura. Ou seja, produzir azeite de qualidade, valorizar a marca, captar e fixar talentos, aumentar a oferta em modo de produção biológico e gerir tudo isso tendo em conta as alterações climáticas.