Testemunha conta como Netanyahu e a mulher recebiam presentes de empresários
Julgamento decorre numa altura em que o acusado é o candidato do partido que está à frente nas sondagens para as eleições de Novembro.
Uma testemunha-chave foi ouvida esta terça-feira no processo contra o ex-primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu: Hadas Klein, que trabalhava para o empresário de Hollywood (e espião) israelita Arnon Milchan e para o milionário australiano James Packer, contou como estes ofereciam presentes caros a Benjamin Netanyahu, então primeiro-ministro de Israel, e à sua mulher, Sara.
A defesa tem tentado apontar que havia uma relação de amizade entre Netanyahu, a mulher e os milionários, e que as trocas de presentes eram normais. A acusação tenta provar que os presentes eram pedidos pelo casal e que havia expectativa de contrapartidas. O processo decorre enquanto Netanyahu é o líder do partido à frente nas sondagens para as eleições de Novembro, embora as sondagens não prevejam uma maioria para nenhum dos blocos, um pró e um anti-Netanyahu, e que tem sido a causa do impasse político dos últimos três anos.
Hadas Klein foi ouvida no âmbito do chamado caso 1000, um dos três que estão a ser analisados no processo contra Netanyahu, e cuja principal acusação é de quebra de confiança. Até agora o julgamento focou-se no caso 4000, em que Netanyahu é acusado de corrupção por ter decidido um plano de benefícios para uma empresa de telecomunicações (com adopção de regulação vantajosa e adiamento de uma reforma prejudicial à empresa) em troca de cobertura noticiosa favorável a Netanyahu no site de notícias da empresa. Há ainda uma acusação no chamado caso 2000, alegando que o então primeiro-ministro tinha feito um acordo com o Yediot Ahronot, o maior tablóide de Israel, em que este publicaria notícias favoráveis ao Governo que, por seu lado, ajudava a enfraquecer um jornal concorrente.
No caso dos “presentes ilegais”; Benjamin Netanyahu é acusado de ter recebido charutos no valor de mais de 73 mil euros e champanhe no valor de cerca de 50 mil euros de Milchan entre 2011 e 2016. Já Sara terá recebido jóias que custaram um total de 3 mil euros.
De Packer, os presentes (também champanhe e charutos) totalizaram mais de 63 mil euros entre 2014 e 2016, resume o diário israelita Jerusalem Post.
Num testemunho em que por vezes se emocionou – a tremer e chegando a chorar –, Klein contou em tribunal que Sara Netanyahu tentou fazê-la retirar o seu testemunho “a qualquer preço”, acusando-a de “espalhar conspirações”. Também acrescentou que houve pessoas que a avisaram de que irá ser despedida por Milchan mal o julgamento acabe. Milchan será ouvido mais tarde no processo.
Klein explicou como os presentes chegavam a Netanyahu, desmistificou a ideia de que a troca de presentes era mútua e que eram dados espontaneamente (Netanyahu, exemplificou, chegou a oferecer “porta-chaves” aos milionários, e no caso de Milchan, havia pressão para os receber). No testemunho, Klein deu um exemplo de como o primeiro-ministro israelita esperava que os milionários encontrassem um emprego para um amigo seu (Klein contou que seria difícil porque os dois tinham poucas pessoas a trabalhar para si em Israel; Netanyahu disse que ela devia trazer Packer da Austrália para Israel para os dois puderem discutir o assunto de viva voz”).
Klein descreveu como Netanyahu tinha pedido charutos Cohiba 56. Mas estes eram muito difíceis de encontrar e Klein só conseguiu comprar Cohiba 54, relatou, citada pelo Times of Israel. Quando Netanyahu os recebeu, queixou-se a Milchan por Klein não ter levado os charutos pedidos, relatou a testemunha. Klein contou também que se entregava três garrafas de champanhe a Sara Netanyahu, ela retorquia: “porquê só três?”
A dada altura, segundo Klein, o próprio Milchan disse-lhe que as quantias gastas com os Netanyahu estavam a ficar fora de controlo, e instruiu-a para dizer que a contabilidade estava a começar a levantar questões sobre os montantes. No caso de Packer, não havia controlo para as prendas, contou Klein.
Klein também descreveu como Milchan pressionou Netanyahu para o ajudar a conseguir uma extensão do seu visto para os Estados Unidos em 2013 e 2014. O então primeiro-ministro terá conseguido uma extensão falando com o então secretário de Estado dos EUA John Kerry, segundo o Jerusalem Post.
O caso analisará ainda o testemunho do então ministro das Finanças, e hoje primeiro-ministro, Yair Lapid, sobre uma tentativa de Netanyahu de o tentar convencer a dar a Milchan uma grande redução fiscal – testemunho que é esperado apenas no próximo ano.
O testemunho de Klein foi tão forte que o jornalista do Haaretz Anshell Pfeffer, autor de uma biografia de Netanyahu, comentou que “foi um grande erro da acusação não a ter chamado mais cedo”.