#1 Netos despenteados
Compensa a discussão e os guinchos a cada escovadela para que “fiquem lindos”?
Ana, é o karma! A minha mãe passava o tempo a mandar-me pentear o cabelo, a minha primeira sogra oferecia-me escovas, a segunda, amaciadores. Apanhava fúrias e achava tempo perdido. Ainda acho.
Mas, apesar disso, agora sou eu que me enervo com o cabelo despenteado dos netos. Deve ser o pecado da vaidade — queremos exibir “os nossos” como os mais bonitos. Só pode ser isso.
É tudo uma questão de prioridades, Mãe.
Para os netos: compensa o desconforto de nos pentearmos, quando o cabelo não afeta minimamente a brincadeira? Não.
Para os pais: compensa a discussão e os guinchos a cada escovadela para que “fiquem lindos”? Não. Primeiro, porque estamos ainda a bombar de oxitocina — e aos nossos olhos são lindos de todas as maneiras — e, segundo, temos de canalizar as escassas energias para questões mais importantes.
Para os avós: compensaria que os pais fossem (na perspetiva deles) “só um bocadinho mais assertivos”, e andassem com os netos penteadinhos e, já agora, bem vestidos? Óbvio.
As más notícias é que eu ainda só sou mãe e, por isso, por enquanto é forte a probabilidade de continuarem despenteados. A boa, é que não precisa de catastrofizar. É que chegados à pré-adolescência gastam horas e horas a pentearem-se, sem que ninguém lhes peça.
No Birras de Mãe, uma avó/mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, começaram a escrever-se diariamente, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. E, passado o confinamento, perceberam que não queriam perder este canal de comunicação, na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam. Agora, ao longo do Verão, deixam curtos avisos que não são de desprezar. Facebook e Instagram.