Grupo de k-pop BTS reacende debate sobre serviço militar obrigatório na Coreia do Sul

O membro mais velho dos BTS, Jin, de 29 anos, tem de cumprir o serviço militar obrigatório até ao final do ano, segundo a mais recente revisão da lei. O Parlamento debate agora a possibilidade de permitir às estrelas de k-pop cumprirem apenas três semanas de treino militar.

Foto
Após uma alteração da lei, em 2020, os sete membros dos BTS podem cumprir o serviço militar obrigatório até aos 30 anos EPA/JEON HEON-KYUN 8arquivo)

O debate sobre o serviço militar obrigatório na Coreia do Sul, introduzido no ano de fundação (1948), ganhou força com a decisão do grupo BTS de fazer uma pausa dos espectáculos ao vivo. Neste momento, está em debate na Assembleia Nacional a revisão da lei de serviço militar para permitir às estrelas de k-pop cumprirem apenas três semanas de treino militar.

A lei actual, que entrou em efeito em 2020, prevê que os artistas em causa possam adiar o seu serviço militar até aos 30 anos, mas só se tiverem recebido uma medalha do Governo sul-coreano. Os sete membros dos BTS —​ RM, Jin, Suga, J-Hope, Jimin, V e Jungkook —​ ​foram reconhecidos com a Ordem do Mérito Cultural em 2018. Isso significa que o membro mais velho, Jin, que faz 30 anos em Dezembro, terá de começar o seu serviço militar até ao final do ano.

Todos os homens fisicamente aptos, dos 18 aos 28 anos, têm de servir pelo menos 18 meses de serviço militar, mas há outras isenções para atletas com medalhas olímpicas e para músicos e dançarinos clássicos que tenham conquistado certos prémios. As excepções previstas na lei incluem o adiamento do serviço militar ou mesmo a redução do tempo de serviço.

Um “mau bocado” à espera de uma decisão

Em 2020, numa conferência de imprensa, Jin não se mostrou preocupado com o futuro ingresso no Exército: “Como jovem sul-coreano, acredito que o serviço militar é uma etapa natural. E, como sempre disse, responderei ao apelo do país sempre que ele chegar.”

Há muito que a empresa de gestão da banda, a Hybe, também apresenta os sete membros dos BTS como desejosos de cumprir o seu dever. Em Abril, o director de comunicação da empresa, Lee Jin-hyung, disse numa conferência de imprensa em Las Vegas que alguns membros da banda estavam a passar um “mau bocado” devido às “incertezas” sobre o debate no Parlamento, apelando a uma decisão rápida. Horas depois, Jin comentou estar de acordo com Lee, preferindo deixar a Hybe tratar do assunto.

A espera por uma decisão tem-se revelado stressante para Jin e para os restantes companheiros, diz Yoon Sang-hyun, legislador que propôs a alteração à lei para incluir três semanas de treino para os artistas de k-pop, em substituição do serviço militar de ano e meio.

Yoon acrescenta que essa é a principal razão para a actual pausa anunciada pelo grupo. “Os membros citaram o esgotamento e a necessidade de descanso como a principal razão, mas a verdadeira razão era o serviço militar do Jin”, disse o legislador à Reuters.

Para o membro da Assembleia Nacional da Coreia do Sul, deve-se ter em conta o impacto dos BTS no perfil do país na altura de considerar o serviço militar dos sete membros. “Os BTS fizeram um trabalho que precisaria de mais de mil diplomatas”, justifica.

Choi Kwang-ho, secretário-geral da Korea Music Content Association, organização que representa os interesses de várias agências de k-pop, incluindo a Big Hit, subsidiária da Hybe que gere os BTS, disse à Reuters que a espera por uma decisão era excruciante. “Os jovens artistas têm sido torturados com esperanças que nunca se concretizaram”, explica Choi.

Serviço militar “é um dever sagrado”

Uma sondagem Gallup de Abril mostrou que 59% dos sul-coreanos apoiam o projecto de lei que isenta as estrelas de k-pop mundialmente bem-sucedidas do serviço militar completo. Contudo, 33% ainda se opõe à revisão da lei, incluindo muitos jovens que já cumpriram o seu serviço militar e que constituem uma importante fatia do eleitorado que elegeu o actual Presidente sul-coreano este ano, de acordo com as sondagens à boca das urnas.

Para além do k-pop, a administração do Presidente Yoon Suk-yeol está a considerar isenções para alguns engenheiros e investigadores de semicondutores e outras tecnologias. Em Julho, quando questionado acerca de uma isenção para estrelas de k-pop, Yoon puxou o assunto para a opinião pública, defendendo que não é “algo que deva comentar de forma prematura”, citado pelo jornal Korea JoongAng Daily.

Da parte do ministro da Cultura, Desporto e Turismo, Park Bo-gyoon, é também “importante” ter em conta a opinião pública. No seu primeiro encontro com jornalistas, em Maio, Park sublinhou que “o serviço militar é um dever sagrado”, apesar de reconhecer que “os BTS aumentaram a consciência mundial da cultura coreana”. É uma mudança de posição relativamente ao ex-ministro Hwang Hee, que, no início de Maio, tinha apoiado uma alternativa ao serviço militar de 18 meses.

O Ministério da Defesa, por outro lado, destaca um requisito constitucional que obriga todos os cidadãos a cumprir o seu dever de defender o país. “Acrescentar artistas da cultura pop no âmbito de pessoal das artes e do desporto que são elegíveis para a isenção requer uma cuidadosa consideração em termos de justiça”, disse um funcionário do ministério, em resposta à Reuters.

Alguns jovens também se interrogam sobre o tratamento especial que está a ser considerado para os BTS. Seo Chang-jun, de 20 anos, diz compreender porque é que os vencedores olímpicos têm direito a uma isenção, mas não tem tantas certezas sobre o grupo de k-pop.

“Os Jogos Olímpicos são eventos nacionais onde todos os coreanos torcem pela mesma equipa, mas nem todos são fãs dos BTS. Muitas pessoas não estão interessadas neles”, explicou Seo à Reuters.

Um êxito multimilionário

Estima-se que o grupo de k-pop contribua com mais de 3,54 mil milhões de dólares (cerca de 3,39 mil milhões de euros) todos os anos para a economia sul-coreana, segundo um relatório de 2018 do Hyundai Research Institute. O mesmo instituto acrescenta que cerca de 800 mil turistas estrangeiros visitaram o país em 2018 por causa dos BTS. Para a Hybe, o grupo representa entre 50 e 60% dos lucros da empresa, de acordo com um relatório da eBest Investment & Securities.

Os BTS formaram-se em 2010, mas só se estrearam em 2013, com o single No More Dream. Desde então, as estrelas sul-coreanas tornaram-se uma sensação mundial com os seus êxitos e o seu envolvimento em causas sociais.

Em 2018, foram o primeiro grupo asiático a chegar ao primeiro lugar do top nos Estados Unidos. Já em 2021 ganharam o prémio de Artista do Ano nos American Music Awards (AMA).

Mais recentemente, visitaram a Casa Branca, onde apelaram ao Presidente norte-americano, Joe Biden, para combater actos de violência e discriminação contra asiáticos e americanos de descendência asiática. Entretanto, o grupo anunciou uma pausa para se focar em projectos a solo.


Texto editado por Carla B. Ribeiro

Sugerir correcção
Comentar