Quatro anos depois, só 18% do IP3 foi requalificado. Professores e utentes protestam
Apenas um troço de 16 quilómetros foi terminado e ainda falta lançar o concurso para as restantes três empreitadas. Há uma inauguração satírica marcada para hoje, na estrada que liga Coimbra a Viseu.
A dois de Julho 2018, António Costa marcou presença no lançamento da tão reclamada obra que iria requalificar o Itinerário Principal 3 (IP3), que liga Coimbra a Viseu, anunciando um investimento de 134 milhões de euros. Quatro anos depois, apenas um troço de 16 quilómetros, entre Penacova e a ponte sobre o rio Dão, foi intervencionado. Há 75 quilómetros por requalificar. Ou seja, da extensão prevista, apenas 17,6% do percurso sofreu melhorias.
Com a efeméride em mente, a Associação de Utentes e Sobreviventes (AUS) do IP3 juntou-se à Federação Nacional dos Professores (Fenprof) para fazer, neste sábado, pelas 11h, uma inauguração satírica e organizar uma marcha lenta naquela estrada.
Há professores na génese da AUS, conta ao PÚBLICO, o membro da associação, Eduardo Ferreira. Mas não é esse o motivo que o levou a desafiar o dirigente da Fenprof, Mário Nogueira, a associar-se ao protesto. Em 2018, o primeiro-ministro foi anunciar a obra numa altura em que os docentes exigiam a recuperação dos nove anos, quatro meses e dois dias de tempo de serviço congelado. A matéria chegou a desestabilizar o entendimento entre os partidos que apoiavam o governo e, quando António Costa foi a Penacova para o que a Fenprof chama “a enésima cerimónia de croquetes e propaganda”, juntou os professores à conversa, embora não o tenha referido directamente: “quando estamos a decidir fazer esta obra, estamos a decidir não fazer evoluções nas carreiras ou vencimentos”. O primeiro-ministro disse que não seria possível “fazer tudo já e ao mesmo tempo”.
No comunicado em que dá conta do protesto deste sábado, ao qual chama a “contra-inauguração da obra”, a Fenprof constata que “nem a carreira docente foi reposta, nem o IP3 requalificado”. A federação apresenta as contas, numa soma que resulta em “transtornos” que se prolongam no tempo e agravam os índices de sinistralidade: “Do projecto então anunciado, apenas foi executada a 1ª fase, adjudicada por 11 847 000€, ou seja, menos de 10% do valor previsto para toda a obra”.
Quando foi lançada, a Infra-estruturas de Portugal (IP), previa que esse primeiro troço estivesse concluído em 2020. Demorou mais um ano. Os restantes troços, que a IP estimava concluir até 2022, ainda nem sequer têm o respectivo concurso lançado.
Contactada pelo PÚBLICO, a IP adianta que está agora a dar prioridade ao troço que liga Santa Comba Dão a Viseu, por ser aquele “onde se verifica um maior índice de sinistralidade”. O projecto está a ser avaliado pela Agência Portuguesa do Ambiente e prevê que o concurso público possa ser lançado no final de 2022. Quando for para o terreno, algures durante 2023, a obra deverá demorar 15 meses. Quanto às restantes empreitadas, serão desfasadas no tempo, para “não sobrecarregar as populações locais e os utentes”, mas a empresa pública não apresenta um horizonte. Face ao aumento dos preços dos materiais de construção, a IP não exclui a possibilidade de a intervenção no IP3 ultrapassar a estimativa inicial de 134 milhões de euros.
Eduardo Ferreira diz-se desapontado com a demora. “Embora a solução apresentada há quatro anos não resolvesse tudo, era bastante razoável”, considera. Em 2018, foi anunciado que o tempo de viagem entre Coimbra e Viseu passaria de 65 para 43 minutos. Lembrou-se da referência de Costa aos professores e foi ele que desafiou a Fenprof. “Encontrei o Mário Nogueira e disse-lhe que a culpa era deles. Foi uma provocação, uma brincadeira, mas levámo-la a sério”, conta. Diz que no protesto estará presente um primeiro-ministro ficcional e que a “cerimónia virada para a crítica e para a sátira, com ter música à altura da obra a inaugurar”. Sobre a marcha lenta, explica que a “ideia é ver a obra devagar, devagarinho, para apreciar bem”.