Prozis perde 11 embaixadores da marca depois de fundador se posicionar contra o aborto

O fundador da marca de nutrição desportiva, Miguel Milhão, disse que “os bebés por nascer recuperaram os seus direitos nos EUA”. Ao PÚBLICO, a Prozis confirma ter perdido parcerias com onze influencers, incluindo as actrizes Diana Monteiro e Jessica Athayde, mas realça que trabalha com 1888 figuras públicas.

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“Parece que os bebés por nascer recuperaram os seus direitos nos EUA! A natureza está-se a curar!”, escreveu o fundador da Prozis no Linkedin Reuters/JIM BOURG

Onze famosos e influencers, num total de 1888, segundo dados da empresa, cancelaram, até ao momento, as suas parcerias com a Prozis, depois de o fundador, Miguel Milhão, ter celebrado, no Linkedin, a decisão de reverter Roe vs. Wade nos Estados Unidos, conseguiu apurar o PÚBLICO junto da marca de nutrição desportiva.

“Parece que os bebés por nascer recuperaram os seus direitos nos EUA! A natureza está-se a curar!”, escreveu Miguel Milhão na sua página do Linkedin. A publicação foi, entretanto, apagada.

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PÚBLICO

Seguiram-se várias críticas nos comentários, que acabaram por se espalhar pela rede social Instagram. Algumas celebridades que até agora tinham parcerias com a marca de nutrição desportiva, promovendo os respectivos produtos, decidiram cortar relações com a Prozis. De acordo com a empresa, não foram registados quaisquer impactos nas vendas, que estarão a ter, destacam, “um acréscimo de cerca de 20% face ao ano transacto”.

A influencer Rita Belinha foi das primeiras a acabar com a parceria que tinha com a marca de nutrição desportiva. A também apresentadora da RTP justificou a decisão numa publicação no Instagram: “Os valores por detrás das empresas, para mim são fundamentais na hora de escolher com quem trabalho. Quando esses valores vão contra as minhas maiores convicções, a decisão torna-se fácil”.

Entretanto, várias outras influencers também terminaram a sua parceria com a Prozis, como as actrizes Diana Monteiro e Jessica Athayde. A partir dos Estados Unidos, Diana Monteiro anunciou que vai deixar de trabalhar com a organização por entender que não partilham dos mesmos valores. “Enquanto esta pessoa [o fundador] estiver na direcção efectivamente eu não posso continuar com a marca”, acrescentou a actriz e cantora, num vídeo publicado no Instagram. A influencer é embaixadora da marca há seis anos.

Jessica Athayde partilhou uma story no Instagram a anunciar também o fim da sua parceria com a marca. “Acaba hoje a minha colaboração com a Prozis”, partilhou. Para a actriz d’A Herdeira “continua hoje e sempre o seu posicionamento público ao lado das mulheres, dos seus direitos e da sua saúde”. Jessica Athayde conclui com um apelo: “Posicionem-se e usem a vossa voz”.

Já Sofia Manuel, conhecida como “A Tripeirinha”, tornou-se parceira da Prozis este mês, mas não deixou de marcar posição. No Instagram, ao anunciar o fim da parceria, defendeu o direito ao aborto: “A nossa saúde não é brinquedo! As nossas vidas não são achismos! O nosso corpo é isso mesmo, nosso!”. Ressalvou ainda que é importante distinguir os trabalhadores do CEO, exigindo um pedido de desculpas por parte da marca às mulheres.

Sara Vicário, que se dedica a falar sobre moda e viagens nas suas redes sociais, recorreu também ao Instagram para dizer que não vai promover mais a marca. “Enquanto a marca não tomar uma posição individual [face] à do seu fundador eu não me sinto confortável a apoiar a empresa. Não trabalho com marcas com as quais não me identifico”, esclareceu.

A influenciadora de moda e de beleza Tânia Argent também expressou a sua desaprovação online, acabando com o acordo que tinha com a marca. Aos seus 17 mil seguidores, reforçou: “A minha ética não está à venda”. Já a actriz Marta Melro disse, de forma sucinta, a cerca de 400 mil seguidores que também terminou a parceria com a Prozis.

Por outro lado, Joana Albuquerque, antiga concorrente do Big Brother, diz que vai continuar a parceria. “Pedir cancelamento de uma empresa bem-sucedida em vários países, por causa de uma opinião do fundador que é dele e só dele parece-me descompensado”, explicou no Instagram. Não obstante, descreve-se como “pro-choice” (a favor do direito ao aborto).

Entretanto, a Prozis, que em comentário ao PÚBLICO defendeu “a liberdade de expressão como um bem fundamental que deve ser preservado”, limitou, por outro lado, os comentários às suas publicações no Instagram e no Facebook. Já o fundador da marca, Miguel Milhão, em declarações à Magg, assegurava que “não consegue fazer mal a bebés”, defendendo que “todos têm direito a diferentes opiniões”. Num directo esta quarta-feira à tarde, no Youtube, Milhão negou ser o actual CEO da empresa e não se mostrou preocupado com o futuro sucesso da mesma. “Não preciso de Portugal, não preciso da Prozis”, garantiu. Milhão partilhou ainda o que faria no caso da filha ser violada, gerando controvérsia online: “Se eu tivesse uma filha que tivesse sido violada, tentava falar com ela e eu cuidava da criança”.

Uma marca baseada nos “padrões éticos do cristianismo"

A Prozis foi fundada em 2007 pelo empresário Miguel Milhão, sendo conhecida pela venda de produtos, como proteínas e barras de energia, para além de produtos desportivos, ao público e às lojas, visando assim promover um estilo de vida saudável.

Apesar da recente polémica, a marca já expunha no seu site alguns dos valores pelos quais se segue, dos quais se destacam os “padrões éticos do cristianismo e da cultura ocidental”. Autodefinida como “uma empresa de desenvolvimento de produtos”, que “não o faz pelo dinheiro”, a Prozis diz recusar aderir ao “que é politicamente correcto”.

Num outro ponto da sua “promessa”, a empresa de Miguel Milhão nega ainda a premissa de que o cliente está sempre certo. “O cliente nem sempre tem razão, e defendemos a nossa posição quando acreditamos que alguém se está a aproveitar de nós”, explica a marca.

A empresa conclui assinalando ter o dever de “cuidar dos colaboradores, vizinhos e parceiros” que tem. A equipa da Prozis, segundo dados desta, é constituída por 1020 trabalhadores.

Entretanto, estão a ser partilhadas online denúncias de um alegado mau ambiente de trabalho na empresa. Na rede social Twitter foram partilhadas críticas publicadas no site Glassdoor, em que é possível registar opiniões sobre trabalho em empresas. Aqui, há quem denuncie existir um “culto de personalidade” e acuse os responsáveis de sujeitarem os trabalhadores a humilhação e bullying​. Os textos referem também a presença de cabras nos escritórios da empresa. No site, surgem as respostas da Prozis assinadas pelo fundador, que critica a falta de entendimento do ambiente de trabalho – “É um desentendimento comum se tiveres menos de 15 anos” – e defende a existência de cabras no escritório e o seu bom tratamento.

Em entrevista à NiT, um outro trabalhador descreveu uma situação semelhante nas celebrações de Natal da empresa, nas quais apareceu o socialite José Castelo Branco “a rebolar no cercado com as cabras”. Já em resposta ao PÚBLICO, a Prozis negou as críticas, assegurando ter “um excelente ambiente de trabalho”.

Antes da Prozis, Miguel Milhão tinha criado uma startup chamada Sabores com Saúde, mas no seu perfil do Linkedin confessa que na altura “era a pessoa mais burra do mundo”. O currículo do empresário na rede social inclui ainda o negócio de família, mas também um negócio dos “seus sonhos”. Milhão chegou a estudar economia e filosofia na Universidade do Minho, mas desistiu de ambos os cursos antes de os concluir.


Artigo actualizado a 29/06 com comentários da Prozis enviados ao PÚBLICO

Texto editado por Luís J. Santos

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