Procuram-se pessoas que queiram produzir energia a partir de painéis fotovoltaicos (grátis)

A Cleanwatts está à procura de pessoas e instituições que queiram criar comunidades de energia. A instalação não tem custos e pode reduzir a factura de luz em até 35%.

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daniel rocha

A Cleanwatts, empresa sediada em Coimbra, está a lançar um programa vocacionado para pessoas ou instituições que queiram criar uma comunidade de energia, com recurso a painéis fotovoltaicos, sem custos de instalação.

“Estamos a lançar um programa para angariar pessoas que sejam mais dinâmicas, que tenham um gosto pela energia e que queiram criar as suas próprias comunidades de energia no seu bairro, na zona onde vivem”, disse à agência Lusa o co-fundador da empresa, Basílio Simões.

Para criar a comunidade, basta reunir 500 metros quadrados de telhado, num raio não superior a dois quilómetros, e entrar em contacto com a Cleanwatts.

“Os 500 metros quadrados de telhado não precisam de ser todos juntos. Podem ser cinco vezes 100 metros quadrados ou dez vezes 50”, aclarou o responsável, sublinhando que a operação “não tem custos nenhuns” para quem a promove junto da empresa, que faz o investimento na instalação dos painéis, bem como a gestão da comunidade de energia.

A dimensão mínima dos 500 metros quadrados permite garantir a sustentabilidade financeira da operação, com a energia a ter um preço “30 a 35% mais barato do que a tarifa normal que a pessoa paga hoje em dia”, salientou Basílio Simões, realçando ainda que, por enquanto, o Governo tem estancado o aumento do custo nas famílias, mas, caso tal deixe de acontecer, a diferença ainda será maior.

Segundo a directora das comunidades de energias renováveis da Cleanwatts, Maria Benquerença, o processo “não é nada de muito complexo”, com recolha de alguma informação junto de todas as pessoas e instituições que queiram estar dentro de uma comunidade, e depois o processo é submetido para licenciamento.

Para além deste programa, a empresa desenvolve também uma iniciativa, intitulada 100 Aldeias, em que se propunha a criar comunidades de energia em 100 localidades do interior do país.

Entretanto, a Cleanwatts já pensa em “avançar com outras 100”, disse Maria Benquerença, referindo que deverá ter algumas das primeiras localidades a aderir ao projecto a funcionar a 100% antes do final do ano, com processos de licenciamento finalizados que permitam a partilha da energia com famílias e instituições associadas à comunidade.

“Nós vamos a zonas industriais e a grandes clientes, onde há uma rentabilidade mais evidente, porque o projecto é maior e tem escala, mas achámos que era interessante pensar naquilo que as comunidades de energia podiam trazer para um problema que nos preocupa bastante, que é a pobreza energética”, vincou a responsável.

Fora da iniciativa 100 Aldeias, a Cleanwatts tem, em Portugal, mais de uma dezena de comunidades de energia já a funcionar, com perfil maioritariamente industrial, que geram um total de cinco megawatts.

Apesar de a empresa reconhecer o interesse dos municípios neste tipo de projectos, decidiu avançar com a iniciativa privada, porque “o que é público anda muito devagar”, explicou Basílio Simões.

“Os municípios já sabem quase todos o que isto é e percebem a importância desta iniciativa, mas passam muito tempo a pensar, querem criar consensos alargados e o processo demora muito tempo, mas não podemos demorar, porque a energia, entretanto, já multiplicou por quatro ou cinco o custo que era há um ano. Cada mês que passa são muitos milhares de euros que as câmaras perdem e as empresas. E por isso preferimos avançar e criar as comunidades”, salientou.

Para Basílio Simões, o modelo da empresa, para além de trabalhar na descarbonização da sociedade e na descentralização da produção de energia, permitirá também a sua “democratização”.

“É um D de que gostamos muito, o da democratização, no sentido em que todos nós, particulares, pequenas empresas, instituições sociais, podemos produzir a nossa energia e decidir a quem vendemos também. Posso produzir no meu telhado e vender ao vizinho da frente, posso tomar a decisão de quem faz parte da minha comunidade. Não temos de estar à espera que um município decida numa assembleia municipal. Podemos começar e depois eles juntam-se, se quiserem”, afirmou à Lusa o co-fundador da empresa.