Portugal chega aos 365 casos. OMS descarta emergência de saúde pública
A Organização Mundial da Saúde não vê necessidade, para já, de declarar este surto como uma emergência internacional de saúde pública. Em Portugal, existem casos confirmados em todas as regiões do país, excepto as ilhas.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) não aponta o actual surto de varíola-dos-macacos como uma emergência internacional de saúde pública. A decisão surge após uma reunião do Comité de Emergência da entidade, iniciada na última quinta-feira, e motivada pelos mais de 4000 casos confirmados em menos de dois meses e pela disseminação global do vírus (mais de 40 países afectados).
Ao contrário da covid-19, o vírus da varíola-dos-macacos (monkeypox ou VMPX) não tem uma transmissibilidade fácil, visto necessitar de contacto próximo ou muito prolongado. A indefinição dos locais de exposição e a dificuldade no rastreio de contactos de risco, principalmente por muitos dos quais serem em contexto sexual, também contribui para que o surto actual tenha maior peso à escala internacional, como é referido no comunicado da OMS, mas sem necessidade de aumentar o nível de risco ou de preocupação.
“O Comité reconhece por unanimidade a natureza emergente do evento e que o controlo do surto requer um intenso esforço de resposta. O Comité aconselha a que este surto seja monitorizado e revisto daqui a algumas semanas, assim que exista mais informação sobre as actuais incógnitas, para determinar se ocorreram mudanças significativas que podem justificar uma reconsideração desta posição”, lê-se no comunicado da OMS.
O que significa esta possível recomendação do Comité de Emergência? A partir desta recomendação, o director-geral Tedros Adhanom Ghebreyesus terá a decisão final de declarar ou não uma emergência de saúde pública. As principais mudanças que este passo traz são meramente simbólicas: soar o alarme, reforçar a atenção dos estados-membros e, possivelmente, aumentar as orientações publicadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Até este ano só foram declaradas seis emergências internacionais, todas após 2009: covid-19 (2020), surto de ébola na República Democrática do Congo (2019), zika (2016), surto de ébola na África Ocidental (2014), e a pandemia da gripe com vírus H1N1 (2009). Como observado nos casos anteriores, a declaração não desbloqueia novas medidas ou financiamento, mas implica a posição da OMS de que este é um surto internacional, com necessidade de cooperação além-fronteiras.
Portugal atinge os 365 casos
O surto actual de VMPX já superou os 4000 casos confirmados em mais de 40 países onde o vírus não está presente habitualmente – na maioria dos países é mesmo a primeira vez que é detectada esta doença. A Direcção-Geral da Saúde (DGS) confirmou esta segunda-feira mais 17 casos, atingindo os 365 infectados. Já existem casos confirmados em todas as regiões do país, com excepção das ilhas.
Todos os casos em Portugal foram diagnosticados em homens, a maioria com menos de 40 anos. A incidência dos casos de VMPX em homens corresponderá aos locais de exposição já conhecidos em Portugal e divulgados pela DGS: saunas para encontros sexuais e viagens ao exterior. Estes focos de exposição propiciaram um maior contacto próximo que terá desencadeado este surto – não se sabe, no entanto, a origem do vírus em Portugal.
O primeiro caso conhecido foi comunicado a 7 de Maio pelo Reino Unido, sendo que o vírus circulará pelo menos desde Março no continente europeu. A Europa regista o maior número de casos, com quase 85% dos infectados localizados nesta região. Portugal é um dos quatro países em todo o mundo com mais de 300 casos confirmados, a par do Reino Unido (com 910 confirmados), Espanha (736), Alemanha (676) e França (330).
Antes da reunião do Comité de Emergência da passada quinta-feira, Emmanuel Nakoune, especialista em VMPX da República Centro Africana não via motivos para declarar emergência internacional: “Quando uma doença afecta países em desenvolvimento, não é uma emergência. Só se torna uma emergência quando os países desenvolvidos são afectados”. A existência de vacinas disponíveis e o facto de não haver registo de qualquer morte neste surto também são argumentos utilizados para menorizar a necessidade desta declaração.
“Se existir vontade política em partilhar equitativamente os meios de resposta entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento… todos os países poderão beneficiar”, concluiu Nakoune.
Entre 2010 e 2019, quase 20 mil casos suspeitos ou confirmados foram detectados nas regiões de África Central e Ocidental, onde o vírus tem os seus principais reservatórios animais (roedores, na sua maioria).