Marrocos confirma morte de 18 pessoas a tentar cruzar a fronteira em Melilla

Perto de 2000 pessoas procuraram passar de Marrocos para a cidade espanhola do Norte de África, numa tentativa de cruzar a fronteira que Madrid e Rabat descrevem como “violenta”. ONG marroquina acusa polícias do reino de tratamento “desumano” dos migrantes.

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As pessoas que conseguiram passar foram encaminhadas para o Centro para a Residência Temporária de Imigrantes da cidade espanhola PAQUI SANCHEZ/EPA

Uma tentativa em massa de entrar na cidade espanhola de Melilla acabou com a morte de 18 marroquinos, confirmou a autarquia de Nador. Algumas vítimas morreram asfixiadas ou esmagadas junto à vala, outras ao cair da cerca que separa Marrocos do enclave espanhol. Inicialmente, havia a indicação de 13 feridos graves, que acabaram por morrer. Há ainda 63 feridos entre as pessoas que tentavam entrar em Espanha e 140 polícias marroquinos feridos, cinco deles em estado grave.

A Associação Marroquina de Direitos Humanos fala da morte de dois polícias, mas isso é desmentido pelas autoridades de Nador, cidade marroquina situada a 10 quilómetros de Melilla. Os alertas sobre a tentativa de passagem de centenas de pessoas começaram na noite de quinta para sexta-feira. Das mais de 1500 a 2000 pessoas que Espanha diz terem tentado cruzar, 133 (a maioria sudaneses) conseguiram passar depois de terem cortado a rede que existe depois da vala. Os serviços de emergência espanhóis trataram 57 feridos; 49 guardas civis sofreram pequenas lesões.

Esta é a primeira tentativa em grande escala de cruzamento da fronteira desde a viragem nas relações em Madrid e Rabat, conhecida em Março através da publicação por parte de Marrocos de uma carta enviada a Mohamed VI por Pedro Sánchez onde este declara considerar que o plano marroquino de autonomia para o Sara Ocidental é “a base mais séria, realista e credível para a resolução do diferendo” entre a monarquia e a população sarauí. Seguiu-se, em Abril, uma visita do chefe do Governo espanhol a Rabat, para selar a reconciliação.

Com o apoio às pretensões do rei Mohamed VI sobre o destino dos sarauís e da antiga colónia espanhola no Norte de África (deixando cair a defesa das resoluções da ONU e a razão de ser da Missão das Nações Unidas para o referendo no Sara Ocidental – Minurso), Sánchez quis precisamente que Marrocos aceitasse (pelo menos implicitamente) a soberania espanhola de Ceuta e Melilla, permitindo estabilizar o controlo fronteiriço e alfandegário.

Acima de tudo, queria garantir de Marrocos a cooperação no combate à imigração irregular e acabar de vez com o uso dos fluxos de pessoas como chantagem por parte de Rabat – em Maio do ano passado, em resposta ao internamento do líder do movimento independentista Frente Polisário num hospital espanhol, Rabat incentivou a entrada de mais 10 mil pessoas em Ceuta em menos de dois dias.

Desta vez, as informações disponíveis indicam que as mortes se ficaram a dever a uma tentativa de forçar a entrada enquanto os agentes marroquinos a tentavam impedir. Face ao avanço dos que queriam entrar em Espanha, 1500 agentes marroquinos vindos de outras regiões concentraram-se na zona. Segundo responsáveis do Governo espanhol citados pelo jornal El País, os polícias marroquinos dispararam “uma infinidade” de granadas de fumo contra a multidão. “A colaboração de Rabat é total”, garante Madrid, acrescentando que os marroquinos vão aceitar todos os que as autoridades espanholas quiseram “devolver”.

O jornal elDiario.es cita responsáveis do lado marroquino que referem “o uso de métodos muito violentos” nesta tentativa. Por conhecer estão as discrições das próprias pessoas que tentaram passar. A delegação da Associação Marroquina de Direitos Humanos de Nador publicou um vídeo onde surgem dezenas de pessoas (que terão origem subsariana) caídas no chão, exaustas e com ferimentos, cercadas por polícias marroquinos.

“Foi desta forma desumana, empilhados uns sobre os outros, que as autoridades marroquinas prenderam dezenas de imigrantes subsarianos diante da barreira”, escreve a associação no Twitter.

Sánchez felicitou-se pela “cooperação” entre agentes dos dois países e defendeu que os espanhóis “se empenharam a fundo para tentar evitar o assalto violento”. No passado, a UE chegou a acusar Espanha de “maus-tratos” contra os que tentavam chegar a Melilla. “É preciso ter consciência de que Marrocos também sobre pressão migratória de outros países africanos, em particular da zona instável do Sahel”, afirmou ainda.

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