Quatro zonas no mundo onde os corais estão ameaçados
Os recifes de coral ocupam uma boa parte da vida marinha e muitos deles têm enfrentado graves ameaças. Fazemos uma visita a algumas dessas zonas.
Doenças e fenómenos de branqueamento – estas são algumas das maiores ameaças aos corais no mundo e que os podem levar à morte. “Quando falamos de recifes de coral, é importante recordar que cobrem 25% da vida marinha”, realça Dean Miller, que dirige e co-fundou a Great Barrier Reef Legacy, uma organização que está a fazer um biobanco com corais do mundo. Por isso, o biólogo alerta que, com a perda desses habitantes dos recifes, vai perder-se mais diversidade nesses ecossistemas e que tal pode ainda afectar os milhões de pessoas que dependem deles. “Tenho percebido quão vulneráveis são ao stress térmico [com o aumento da temperatura da água] e quão depressa os podemos perder. Não podemos esperar mais.”
Espreitemos, pois, algumas zonas no planeta onde os corais estão ameaçados.
Na Austrália
A Grande Barreira de Coral estende-se ao longo cerca de 2400 quilómetros da costa Leste da Austrália. Fenómenos de branqueamento não são novos aqui, mas nos últimos anos o aumento da sua frequência e gravidade tem sido notório. O branqueamento ocorre quando a água aquece demasiado. Devido a isso, as algas que vivem em simbiose com os corais – e lhes dão cor – começam a produzir substâncias tóxicas e deixam de fazer fotossíntese. Os corais acabam por expulsar as algas e a cor esbranquiçada do seu esqueleto fica à vista. Além de deixar os corais sem cor, isso deixa-os desnutridos e pode levá-los à morte.
Nos últimos 20 anos, este ecossistema terá perdido cerca de 50% dos seus corais de superfície, indica Dean Miller. “Não estamos só a perder [corais de] superfície, mas também a perder biodiversidade. E, quando se perde biodiversidade, perde-se a capacidade de o ecossistema funcionar de forma adequada. Começamos a perder a beleza da diversidade de um recife tal como o conhecemos.” Além do aquecimento da água, a pesca recreativa e o turismo estão entre as ameaças.
Entre 1 e 18 de Abril deste ano, Dean Miller participou na expedição “Running the Ribbons”. A equipa de nove pessoas esteve a fazer levantamentos na Grande Barreira de Coral. Ao todo, foram percorridos cerca de 300 quilómetros. “Infelizmente, coincidiu com o quarto grande fenómeno de branqueamento na Grande Barreira de Coral em apenas seis anos.” Nesta expedição, verificou-se que entre 10 e 15% das colónias de corais até 20 metros de profundidade tinham sido gravemente afectadas pelo branqueamento.
Nas Caraíbas
Nas décadas mais recentes, a cobertura dos recifes de corais nas Caraíbas diminuiu quase 60%, estima a The Nature Conservancy, uma organização de protecção e conservação ambiental. As principais ameaças são o aquecimento das águas, doenças, a pesca excessiva, a poluição ou tempestades devastadoras.
Recentemente, também se revelou na revista científica Communications Biology que um surto de uma doença que faz com que os corais duros percam os tecidos pode levar à morte de 94% de algumas espécies de corais nas Caraíbas, mais propriamente na parte do México. Chama-se assim a atenção para a necessidade de uma intervenção para que alguns corais não sejam extintos.
“As Caraíbas estão a atravessar um momento complicado”, frisa Dean Miller. O biólogo conta que têm feito lá alguns biobancos para, nalguns casos, preservar os corais, e, noutros casos, para que recuperem de doenças. Em 2017, também tinha sido criado o primeiro sistema de seguros que tem como objectivo proteger um recife de corais na costa de Cancún, no México. As apólices seriam pagas pelo Governo e por hotéis locais.
Para os lados da Indonésia e das Filipinas
A Indonésia possui cerca de 18% dos recifes de coral do mundo, estima-se no site Reef Base, que é a base de dados da Rede de Monitorização Global dos Recifes de Coral. No mesmo site, salienta-se que entre 64 e 53% dos recifes estarão ameaçados e que este valor até deverá estar subestimado. As principais ameaças são a pressão climática, a pesca excessiva ou a poluição, assinala Dean Miller.
Não muito longe, nas Filipinas, o cenário não é melhor. Os recifes de coral nas Filipinas albergam centenas de espécies de corais e de peixes. A Reef Base indica que mais de 90% dos recifes estão ameaçados e que 70% está num risco elevado ou muito elevado. A actividade humana e a sua pressão também estão por detrás das maiores ameaças.
Tanto as Filipinas como a Indonésia integram o Triângulo de Coral (juntamente com Malásia, Timor-Leste, Papuásia-Nova Guiné e Ilhas Salomão), que tem cerca de 30% dos recifes de coral existentes no mundo e dá abrigo a mais de 3000 espécies de peixes. Aqui, mais de 85% dos recifes estão ameaçados, refere-se num relatório elaborado pelo Instituto Mundial de Recursos em parceria com organizações ambientais, como o Fundo Mundial para a Natureza (WWF).
No mar Vermelho
Os recifes de coral do mar Vermelho têm tido um pouco mais de descanso. Se na parte Sul o branqueamento tem ocorrido nos últimos anos, na parte Norte isso não se tem verificado, indicou ao PÚBLICO Anders Meibom, cientista do Laboratório para a Geoquímica Biológica da Escola Politécnica Federal de Lausanne, na Suíça, que tem estudado estes corais. Mesmo assim, podem enfrentar outras ameaças, como a poluição de esgotos urbanos ou da agricultura, a poluição de combustível, a pesca excessiva ou o turismo de massa, o que pode contribuir para o seu declínio.
O cientista salienta ainda os corais no Norte do mar Vermelho têm tido uma evolução única desde o final da última Idade do Gelo, o que fez com que ficassem extremamente resistentes ao aumento da temperatura das águas. Num estudo publicado em 2021 na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), verificou-se que conseguem aguentar temperaturas cinco graus Celsius mais elevadas do que o normal.
Já num estudo de 2019 tinha-se concluído que processo de reprodução de três espécies de corais existentes no golfo de Eilat, na ponta Norte do mar Vermelho, tinha registado irregularidades. Tinha-se visto que a desova de óvulos e espermatozóides estava dessincronizada. O aumento das temperaturas era uma das causas apontadas.