Mais uma vez, a Grande Barreira de Coral da Austrália está a viver um processo de branqueamento. O fenómeno está espalhado pelo maior recife do mundo com graus de severidade diferentes, declarou nesta sexta-feira, em comunicado, a Autoridade do Parque Marinho da Grande Barreira de Coral.
“O branqueamento foi detectado ao longo do parque marinho – está espalhado ao longo de várias regiões, variando de um impacto menor até um impacto severo”, lê-se num comunicado daquele órgão do Governo australiano.
As conclusões chegam no final de um Verão em que as temperaturas oceânicas estiveram acima da média. “A maioria do parque marinho acumulou um stress térmico significativo ao longo do Verão, com o recife central a ter a maior acumulação de stress térmico”, refere a autoridade.
O branqueamento de corais acontece com o aquecimento excessivo das águas do mar. As algas que vivem em simbiose com os corais, dando-lhes a cor e o alimento, deixam de fazer fotossíntese por causa do calor e passam a produzir substâncias tóxicas para os corais, que acabam por expulsá-las. Deste modo, os corais perdem a cor, ficam enfraquecidos e subnutridos.
Há vários graus de branqueamento. “A maioria das observações encontrou um branqueamento pálido e fluorescente, mas vários lugares têm colónias inteiramente brancas”, descreve o documento.
O comunicado surge depois de vários dias de observações aéreas à Grande Barreira de Coral. Situada ao largo da costa Nordeste da Austrália e com uma extensão de 2300 quilómetros, a barreira foi considerada Património da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), em 1981.
Segundo essa organização, o lugar apresenta uma “variedade e beleza notáveis”, contendo 400 tipos de corais, 1500 espécies de peixe de 4000 tipos de moluscos. No entanto, os vários episódios de branqueamento e a consequente danificação do ecossistema estão a colocar em risco esta atribuição.
Em 2021, a Austrália conseguiu adiar para este ano uma avaliação da UNESCO que poderia colocar o parque marinho na lista “em risco”, depois de “muito lobby” feito pelo Governo australiano, explica a agência Reuters.
Já a partir da segunda-feira, os especialistas daquela organização vão estar no país durante dez dias para se encontrarem com cientistas, reguladores e legisladores. Daí sairá um relatório para o Comité do Património da Humanidade da UNESCO que se vai reunir em Junho próximo.
Os episódios mais significativos de branqueamento da Grande Barreira de Coral ocorreram em 1998, 2002, 2006, 2016 e 2017, de acordo do Instituto Australiano de Ciência Marinha. Ainda não se sabe qual a gravidade deste episódio em relação aos do passado. Serão necessárias mais observações nas próximas semanas.
Neste momento, 98% dos corais já foram afetados pelo menos uma vez pelo branqueamento, adianta um estudo liderado pelo cientista Terry Hughes, da Universidade James Cook, da Austrália, publicado em Novembro de 2021, na revista Current Biology.
A tendência crescente para o aumento da temperatura dos oceanos está directamente relacionada com as emissões de gases com efeito de estufa e o aquecimento global. Segundo a Reuters, o governo australiano tem sido acusado de estabelecer metas pouco ambiciosas para cortar as emissões de carbono do país.