Arquitectura
Na casa NaMora, há um flirt entre o granito velho e o betão novo
Localizada no vale da Serra da Estrela, a obra foi guiada pela morfologia original do terreno. Agora, entre socalcos, uma moradia contemporânea permite "que o espaço seja mantido" e o terreno cultivado.
Entre socalcos e rodeada por um pinhal, a casa NaMora, construída no sopé da Serra da Estrela, na zona de Mora (freguesia de Gonçalo, na Guarda), traduz-se num espaço onde o velho e o novo se encontram. Inspirados pela arquitectura tradicional da região, os arquitectos David Bilo e Filipe Pina são responsáveis pelo projecto, que reinterpreta elementos vernaculares em duas estruturas de betão.
“No centro [do terreno] destaca-se uma pequena pré-existência de granito construída em meados do século XX, a qual foi tomada como ponto de partida para este novo projecto”, contam os responsáveis na memória descritiva. "Daí nasceram dois volumes de betão" que "viriam a namorar com aquele outro que já existia", explica David em entrevista ao P3.
"O perfil original do terreno foi mantido" e os socalcos, que antes eram usados para a agricultura, agora servem como suporte para as novas estruturas. A obra divide-se “em dois momentos”: um dedicado à recordação da vivência da quinta e outro ligado a aspectos contemporâneos. É no edifício antigo que estão localizados os “arrumos, zona técnica, instalação sanitária de serviço e cozinha”. Anexada por um terraço, a nova habitação reúne a sala de estar, bem como os quartos e a área de lazer.
O betão entra pela casa adentro a fim de dar um sentido de “continuidade" a moradia. Lá, encontra um interior sóbrio com “elementos de metal e, principalmente, de madeira”. “No interior procurou-se a neutralidade, simplicidade e pureza dada pelos materiais e pela ilusão da ausência de detalhe”, escreve a dupla. E para a construção “não parecer tão fechada", os arquitectos incluíram janelas e pátios que levam "o exterior para o interior".
"Se este projecto não fosse realizado, muito provavelmente essa quinta iria ficar ao abandono", afirma David Bilo. Agora, a nova construção possibilita a presença de moradores, a qual permite "que o espaço seja mantido, que o terreno seja cultivado", evitando o risco de incêndios florestais, muito comuns na região.
Texto editado por Ana Maria Henriques