Azeite, mel com ouro, malagueta. Na Pedaços de Cacau o chocolate não tem limites. Vai um bombom de manjerico?
Para Raquel Lima, artesã chocolateira e fundadora deste doce atelier em Vilar do Paraíso, Gaia, basta juntar o melhor chocolate negro com a criatividade para nos seduzir. Na Pedaços de Cacau, não faltam propostas para celebrar o amor ao chocolate. E nada se perde: para aproveitar os excedentes, Raquel faz um bolo de cacau com sabor diferente a cada trinca.
O cheiro a chocolate sente-se quando a porta se abre e, no interior, as prateleiras forradas com este tipo de doce denunciam o que faz na Pedaços de Cacau. O nome diz (quase) tudo: é um ateliê e fábrica dedicada à produção de chocolates artesanais, todos eles com sabores diferentes e todos, maioritariamente, de chocolate negro proveniente da África Ocidental e transformado na Europa.
Bombons, crocantes, amêndoas, granola ou tabletes com 72% de cacau são algumas das criações que tornam difícil a simples tarefa de escolher um simples chocolate. “Quando dizemos temos um chocolate com 72% de cacau, as pessoas pensam que é amargo e não é assim: depende de como o chocolate é feito e dos condimentos que tem”, começa por explicar Raquel Lima, artesã e fundadora da marca.
Dentro da oferta também há sabores para todos os tipos de paladar: desde os mais tradicionais como limão, laranja, caramelo ou creme de avelã, até aos mais irreverentes como as tabletes de gengibre e canela, coco e amêndoa, alfazema, hortelã-pimenta, pimenta-rosa e o preferido dos clientes: malagueta e flor de sal. Para os vegans existem as barras de chocolate e caixas de napolitanas. No fundo, todos os sabores da Pedaços de Cacau são uma verdadeira tentação. “As coberturas intensas acompanham bem a percentagem elevada do chocolate. E depois os sabores acabam por equilibrar na perfeição”, garante.
O projecto, que nasceu em 2014 como presente de Natal para familiares e amigos, depressa se tornou num negócio de tal forma rentável que levou Raquel, engenheira florestal de profissão, a deixar o emprego e dedicar-se exclusivamente ao fabrico dos doces. Ao mesmo tempo, inscreveu-se em cursos e aperfeiçoou técnicas até então desconhecidas, como a temperagem. “A temperagem é quando elevamos o chocolate a 45ºC e depois o arrefecemos no mármore para o bombom ficar bonito, brilhante e estaladiço.”
Sempre com o objectivo de confeccionar novos produtos, a proprietária assume que é preciso tempo para explorar as novas ideias que lhe vão surgindo, quase diariamente, nesta nova vida de artesã do chocolate. A inspiração pode surgir a partir de combinações que prova, ideias da equipa, dos fornecedores com quem partilha receitas ou da recriação dos sabores da infância, como é o caso da hortelã-pimenta que “vai buscar um pouco o sabor do after eight”, anota.
A par disto, e como na Pedaços de Cacau a criatividade não tem limites, nascem os bombons mais sofisticados de queijo, vinho do Porto, azeite e ouro e mel, “o mais desafiante em termos de execução” tendo em conta a dificuldade de trabalhar o ouro. Entre prémios e novas criações, o sucesso de alguns produtos comercializados apenas nas épocas festivas deu origem a pelo menos três novos chocolates com sabores surpresa que a marca vai colocar à venda este ano. “Uma delas sai no Verão”, revela Raquel, sem adiantar mais detalhes.
Chocolate e manjerico: combinação improvável
Apesar da oferta diversificada, há um chocolate que se destaca pelo sabor e que é impossível não provar: o bombom de manjerico. Um chocolate negro decorado com uma pasta verde que também está no interior. A receita, criada em 2020 por Raquel e pelo chef Jorge Cordeiro, para assinalar a “liberdade e a festividade” da Pedaços de Cacau, coincidiu com o Verão e com a época dos Santos Populares.
A novidade foi bem recebida pelos fiéis clientes que não resistiram em provar. Para Raquel é um bombom controverso: a maioria gosta, mas também há quem não o inclua na lista dos favoritos. Ainda assim, garante “quando gostam é amor à primeira vista”.
Mas depois de tudo isto, fica a questão: será que é mesmo manjerico? Sabe mesmo a manjerico? Provamos para tirar as dúvidas. O sabor leve e fresco do recheio envolvido no crocante do chocolate negro sugere que sim. “Sabe e cheira a manjerico, mas utilizamos manjericão”, explica Raquel, para acrescentar que este foi um dos chocolates mais desafiantes de criar.
A receita é simples e não esconde segredo: primeiro a ganache ou recheio que, neste caso, é feito de chocolate branco e que depois vai a ferver com o manjericão para as natas absorverem o sabor. No final, depois de solidificar, adiciona-se uma nova cobertura de chocolate. “Em meia hora temos bombons a sair.” Este ano, a boa notícia é que vão ser fabricados até Setembro.
O bolo do desperdício zero
Apesar da variada oferta, a marca garante que nada do que é produzido vai para o lixo. Do carácter sustentável, aliado à economia circular e ao desperdício zero, surgiu o bolo exótico de chocolate. O doce é feito a partir dos excessos de produção ou chocolates que se partem e tal como diz na descrição, “cada trinca é um sabor diferente”. “Pode estar a provar e saber-lhe a limão e eu posso estar a provar o mesmo bolo e saber-me a café. É uma autêntica surpresa”.
Neste caso não provamos para decifrar o sabor, tendo em conta que o bolo é feito na terceira sexta-feira de cada mês e apenas por pré-encomenda. Mas a julgar pelos chocolates, é certamente delicioso.
Para Raquel, a sustentabilidade da marca é um factor que ainda está a crescer. Idealmente, todas as embalagens seriam feitas de papel ou cartão, mas a verdade é que “a crocância do chocolate só se consegue manter dentro de um saco de plástico”. “É muito difícil ter uma lata que vede e feche hermeticamente. Está a ser um desafio, mas sempre que podemos evitamos o plástico ao máximo”, assegura. A Pedaços de Cacau está na rua da Junqueira de Baixo, em Vila Nova de Gaia, no clube gourmet do El Corte Inglés e nas garrafeiras de Norte a Sul do país. O preço de referência pode oscilar entre os 2.40 euros e os 90 euros, no caso do cabaz de degustação que inclui todos os chocolates.
No futuro, a marca tem como objectivo apostar na internacionalização e aumentar os pontos de venda em Portugal. Contudo, a tarefa principal passa por estimular a partilha de chocolate entre amigos. Socializar e, em vez do copo de vinho, ter o chocolate.”
Texto editado por Luís J. Santos