Oceanos
2370 km a pedalar: a volta a Portugal de Andreas a apanhar lixo
Andreas Noe partilhou com o Azul as imagens da sua volta a Portugal de bicicleta para recolher lixo das praias. Para lembrar que é preciso proteger os oceanos.
Andreas Noe não é um novato nestas andanças. Nos últimos três anos tem dedicado o seu tempo a chamar a atenção para a poluição nas praias e nos oceanos com o projecto The Trash Traveler. A 22 de Abril, Dia da Terra, arrancou o Trash Cycle, uma espécie de Volta a Portugal na companhia da bicicleta "Rosa", reaproveitada com a ajuda da Cicloficina dos Anjos, em Lisboa. Com ela percorreu Portugal continental de Norte a Sul dinamizando acções de limpeza, com organizações, membros da sociedade civil e escolas.
O resultado? 3809 garrafas de plástico foram recolhidas, assim como 790 latas. Mais de 800 pessoas cruzaram-se com a viagem de Andreas e participaram nas acções de limpeza ou de sensibilização climática. Um estudo global publicado na revista científica Nature Sustainability o ano passado revelou que 80% do lixo encontrado nos oceanos é composto por plástico, sobretudo sacos e garrafas.
Ao longo da jornada, Andreas Noe recolheu também assinaturas para a petição "Pela Saúde dos nossos Oceanos, Exija Tara Recuperável!", que exige a implementação de um sistema de depósito de embalagens de bebidas mais abrangente e ambicioso em Portugal. A petição conta já com perto de oito mil assinaturas.
Andreas Noe mudou-se da Alemanha para Portugal em 2018, e foi em Lisboa que decidiu fazer uma pausa na carreira no campo das ciências biomédicas para criar um projecto que mobilizasse os cidadãos para a acção climática. Durante o Verão de 2020, já tinha caminhado toda a costa portuguesa enquanto recolheu lixo pelos areais. Garrafas, sacos, latas, cotonetes, pacotes de cigarros, copos descartáveis, despojos de pesca, palhinhas, tampas, guardanapos, e claro, beatas, algo que se tornou um símbolo da "luta" de Andreas Noe.
"Há pessoas que me dizem que eu me devia focar em assuntos mais importantes do que as beatas. Para mim, qualquer acção é uma acção climática e necessária", explica. "Nem sempre conseguimos ver em primeira mão a crise climática e é por isso que é tão difícil para algumas pessoas agirem ou compreenderem o que se passa."
A poucos dias do arranque da Conferência das Nações Unidas sobre Oceanos, que se realiza em Lisboa de 27 de Junho a 1 de Julho, Andreas aplaude o reconhecimento de que agir sobre os problemas dos oceanos é agir sobre a crise climática. Também ele marcará presença num evento da Fundação Oceano Azul e da Sciaena e está a preparar um projecto artístico para essa altura que prefere não revelar ainda.
A viagem a pedalar terminou, de resto, uma semana antes do arranque da conferência para ajudar a cimentar a mensagem. Depois de um total de mais de 160 horas a pedalar, a bicicleta de Andreas parou a 19 de Junho junto à Torre de Belém, onde foram expostas as garrafas e latas recolhidas.
"Acredito que todas as pequenas acções levam a uma maior ligação com o ambiente e, em última instância, podem levar ao activismo climático", acrescenta. "Mesmo que seja ao apanhar apenas uma beata."