Chegou o momento de dizer “sim”, à Ucrânia e ao seu futuro europeu


Não é fácil pensar no futuro do nosso país quando somos confrontadas/os com o som dos ataques aéreos e da artilharia russa a tentar apagar as cidades e vilas ucranianas da face da Terra. Mas enquanto o exército ucraniano, ainda muito mal equipado, luta heroicamente pela sobrevivência da Ucrânia, temos de cuidar também do futuro da Ucrânia. Os ucranianos vêem o seu futuro como membros da União Europeia e querem ver concedido o estatuto de candidato no próximo Conselho Europeu de 23-24 de junho.

As estrelas estão alinhadas para esta decisão crucial.

Dentro da Ucrânia, há um apoio sem precedentes: 91% das pessoas apoiam a adesão à UE – incluindo 82% no leste da Ucrânia. De igual modo, existe um apoio sem precedentes para a futura adesão da Ucrânia às sociedades europeias. Mesmo nos países mais céticos – Alemanha e Países Baixos – mais de 60% são a favor. Numa sondagem do Eurobarómetro publicada no mês passado, a maior percentagem de inquiridos a favor da adesão da Ucrânia à UE foi de 87% em Portugal, bem acima da média da UE.

A concessão do estatuto de candidato à Ucrânia enviará uma mensagem clara a Putin de que a Ucrânia nunca fará parte da Rússia. Se a incerteza sobre o futuro da Ucrânia persistir, isto permite a Putin sonhar com a ocupação do nosso Estado e encoraja-o a continuar a guerra com esperança. Um forte compromisso político da UE com a Ucrânia tornará a luta de Putin pela Ucrânia claramente inútil.

O estatuto de candidato teria benefícios muito práticos para a transformação contínua da Ucrânia. Ajudaria a firmar as reformas e a reconstruir a Ucrânia após a guerra. Abriria a porta às empresas europeias – e não chinesas ou turcas – para participarem na reconstrução do pós-guerra, cuja escala transformaria a Ucrânia num dos maiores estaleiros de construção do mundo.

O povo da Ucrânia não está a pedir nada de extraordinário: não procuramos atalhos que não respeitem os procedimentos da UE.

A Ucrânia, embora esteja literalmente a pagar em sangue pela sua liberdade e por um futuro europeu – sendo o único país do continente com pessoas a morrer com as bandeiras da UE nas mãos – reúne todos os requisitos para que lhe seja atribuído o estatuto de candidato à UE. Sabemos que ainda não estamos prontos para nos tornarmos membros, mas estamos prontos para nos tornarmos um país candidato. Esta opinião é fortemente partilhada por quem mostrou mais empenho em reformas na Ucrânia durante décadas: a sua sociedade civil. Mais de 200 ONG ucranianas orientadas para as reformas, provenientes de toda a Ucrânia, assinaram recentemente uma carta aos líderes europeus pedindo-lhes que concedessem à Ucrânia o estatuto de candidato este mês. Nunca tamanho apelo foi visto anteriormente na história da Ucrânia.

Qualquer tentativa de substituir o estatuto de candidato por algo menos significativo — como o estatuto de potencial candidato, com uma lista de condições prévias para garantir o estatuto de candidato – não seria aceite na Ucrânia. Não há justificação para recusar o estatuto de candidato da Ucrânia quando este foi concedido à Turquia em 1999, à Macedónia do Norte em 2005 e a Montenegro em 2010.

Reconhecemos que há outros fatores em jogo na UE, embora a maioria dessas preocupações não esteja diretamente relacionada com a Ucrânia, como a necessidade de uma reforma interna da UE ou o desejo de fazer primeiro progressos com o processo de adesão dos países dos Balcãs Ocidentais. Mas tanto a Ucrânia como a UE terão tempo suficiente para aplicar reformas em simultâneo, antes de a Ucrânia se tornar um membro de pleno direito da UE. Além disso, as aspirações da Ucrânia não terão um impacto negativo nos Balcãs Ocidentais – pelo contrário, darão um novo ímpeto a todos os processos de alargamento.

Também compreendemos a insatisfação em algumas capitais europeias precipitada por vagas anteriores do alargamento da UE, mas acreditamos que um futuro fora da UE será muito mais precário, para o nosso país e para a Europa em geral.

Ao analisar as relações entre a Ucrânia e a UE ao longo de quase vinte anos, tenho observado constantemente como a UE se tornou hábil na procura de um pretexto para dizer “não” ao sonho da Ucrânia de pertencer à UE. Para muitos políticos e diplomatas, foi um verdadeiro desafio reconhecer a Ucrânia como um Estado europeu. Com tantas razões credíveis a favor da Ucrânia, chegou o momento de dizer “sim”, à Ucrânia e ao seu futuro europeu.

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