Viana do Castelo: A Comida Esquecida são plantas que normalmente pisamos e maldizemos
Vamos provar o caniço, a sacocórnia, a gramata-branca e a perpétua-das-areias. Até ao fim do ano, o projecto A Recoletora tem uma exposição espalhada pelo Parque Ecológico Urbano na margem direita do rio Lima.
“Que plantas são estas que crescem espontaneamente à nossa volta, que ignoramos, pisamos e maldizemos?” Para isso — para explicar tintim por tintim e ajudar a reabilitar a reputação da vegetação espontânea comestível que nos rodeia e que ignoramos, pisamos e chamamos de daninha — existe A Recoletora, um projecto que começa a ganhar ramificações e raízes fora dos baldios do Porto e de Matosinhos e que foi cair no Parque Ecológico Urbano de Viana do Castelo, onde encontrou outros habitats e naturalmente investigou novas espécies.
Funcho-marítimo, sabugueiro, hortelã-de-burro, tanchagem, umbigo-de-Vénus, erva-do-brejo, erva-carapau... A lista de espécies detectadas é longa e apetitosa. “Venham descobrir a raiz comestível do caniço, o sabor salgado da sacocórnia, a textura crocante da gramata-branca ou o surpreendente aroma a caril da perpétua-das-areias.
Todas têm um valor e uma identidade: umas são medicinais, outras são comestíveis, outras servem de alimento para insectos ou refúgio para répteis e aves, outras dão-nos fibras com que fazemos cestos ou corantes para tingir roupa”, explica A Recoletora, que, a convite do Centro de Monitorização e Interpretação Ambiental — e a propósito do 15.º aniversário do CMIA — e do parque com cerca de vinte hectares localizado na margem direita do estuário do rio Lima, foi conhecer, interpretar, fotografar e dar visibilidade a uma série de plantas muitas vezes “invisíveis” ao olhar dos visitantes menos treinados. “Descobrimos as plantas comestíveis típicas das zonas entre marés (formadas por sapais, lodaçais, juncais, caniçais, gramatais e morraçais) mas também das galerias ripícolas e dos prados que povoam as suas margens”.
A exposição A Comida Esquecida, que será apresentada em forma de cartazes da autoria de Alexandre Delmar e de Maria Ruivo, será inaugurada e explicada no dia 21 de Junho, pelas 12h, num percurso expositivo ao ar livre que por ali ficará até final deste ano. “Através da deambulação pelo parque vamos aprender a identificar a vegetação que se come e que nos cura e, sobretudo, vamos aprender a valorizá-la e a deixar de lhe chamar daninha.”
Na sexta-feira, 24 de Junho, realiza-se uma caminhada botânica ao final da tarde pelo trajecto da exposição, guiada pela herbalista Fernanda Botelho, numa espécie de aula andante sobre as plantas deste lugar.