Moscovo quer apagar da Wikipédia russa informação sobre invasão da Ucrânia
Tribunal de Moscovo mandou eliminar páginas que abordam invasão e crimes de guerra na Ucrânia.
A Fundação Wikimedia, dona da Wikipédia, interpôs um recurso contra uma decisão judicial de Moscovo que exige a eliminação de informação relacionada com a invasão russa da Ucrânia, alegando que os cidadãos têm direito a conhecer os detalhes da guerra.
Um tribunal de Moscovo multou a Fundação Wikimédia em cinco milhões de rublos (aproximadamente 84 mil euros) por esta se ter recusado a apagar o que tribunal considera ser desinformação nos artigos da Wikipédia em língua russa. A decisão judicial pede também a eliminação das páginas “A invasão russa da Ucrânia”, “Crimes de guerra durante a invasão russa da Ucrânia” e “Massacre em Bucha”.
“Esta decisão implica que informações bem verificadas e provenientes de boas fontes, mas que não são as mesmas do Governo russo, constituem desinformação”, afirmou Stephen LaPorte, da Fundação Wikimedia, numa declaração escrita.
A Wikipédia é uma das últimas fontes de informação factual e verificada à disposição dos cidadãos russos, após a aplicação de medidas duras aos media de Moscovo.
“O Governo tem como alvo informação que é vital para a vida das pessoas em tempo de crise”, lamentou LaPorte. “Pedimos ao tribunal que reconsidere a favor dos direitos de todos de acesso ao conhecimento e liberdade de expressão.”
O tribunal de Moscovo argumenta que o que foi rotulado de desinformação representa um risco de ordem pública na Rússia e que a fundação, que está sediada em São Francisco, na Califórnia, opera na Rússia.
A Fundação Wikimedia foi processada com base numa lei que pune quem se recusa a apagar informação proibida. O regulador de comunicações russo Roskomnadzor não respondeu ao pedido de comentário feito pela Reuters.
O recurso da Wikipédia, apresentado no dia 6 de Julho, diz que eliminar a informação representa uma violação de direitos humanos. Pode ler-se ainda neste documento que a Rússia não tem qualquer jurisdição sobre a Fundação Wikimedia, que apresenta conteúdo disponível em mais de 300 línguas.
As narrativas desta guerra, a maior em solo europeu desde a Segunda Guerra Mundial, variam drasticamente – e tornaram-se altamente politizadas com jornalistas de Moscovo e ocidentais a serem acusados de falta de isenção.
A Ucrânia diz que foi vítima de um ataque sem qualquer provocação, garantindo que irá lutar até às últimas consequências para recuperar o território conquistado pelas forças russas. Kiev pediu repetidamente ao Ocidente por mais ajuda para ajudar o combate à Rússia.
O Presidente Vladimir Putin e responsáveis russos não usam as palavras “guerra” ou “invasão”. As movimentações são chamadas “operação militar especial” com o suposto objectivo de impedir a perseguição de falantes de russo no leste da Ucrânia.