Os dias de calor vieram para ficar e, com eles, uma tarefa ciclópica: manter a casa fresca sem receber uma factura da luz com mais de dois dígitos. Há algumas estratégias, que vão desde a prevenção à escolha correcta do aparelho de ar condicionado, que podem ajudar a reduzir o consumo e aumentar a eficiência energética.
O primeiro passo é adoptar bons hábitos para evitar ao máximo ligar o electrodoméstico – em nome do planeta e do próprio bolso. “Quem tem janelas voltadas para o Sul, por exemplo, pode tentar arejar a casa durante uns dez minutos, de manhã cedo, quando está mais fresco, e depois manter as persianas fechadas durante o dia para não aquecer a casa”, sugere Francisco Ferreira, presidente da associação ambientalista Zero e professor na Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa Ao fim do dia, a habitação estará mais fresca do que se as janelas tivessem estado escancaradas durante todas as horas de exposição solar.
Atenção ao termóstato
Muitas vezes a técnica sugerida acima não é suficiente – seja porque está demasiado calor, seja porque a casa em si não foi pensada para garantir conforto térmico (falaremos disso mais à frente). Nesse caso, apela-se à climatização activa. Um dos erros mais frequentes quando se liga o ar condicionado no Verão é optar pelas temperaturas mais baixas. “Por mais que isto seja uma ideia aliciante, significa também um maior esforço do motor para atingir a temperatura escolhida e, por isso, um maior consumo energético”, refere a Selectra, uma empresa especialista na comparação de tarifas de energia, numa nota enviada ao PÚBLICO.
Francisco Ferreira afirma que as orientações europeias recomendam um intervalo do termóstato entre os 18 e os 25 graus Celsius. “No Verão, o ideal é estar à volta dos 25 graus Celsius e, no Inverno, não ir muito acima dos 18 graus Celsius. Não precisamos de estar dentro de casa de manga curta em pleno mês de Dezembro. Vamos ter de mudar a forma como olhamos para a climatização das nossas casas de uma forma ou de outra, porque as facturas vão começar a aumentar”, afirma o ambientalista.
Apostar no tipo inverter
O aparelho de ar condicionado de que dispomos em casa também condiciona o valor da factura no fim do mês. “Para quem está a pensar em adquirir um equipamento novo, é crucial verificar a etiqueta energética e efectuar a compra em função de outros aspectos como o tamanho da divisão que será climatizada, a presença da função inverter e o nível de ruído produzido”, alerta Francisco Ferreira. A tecnologia inverter significa que o aparelho vem equipado com um dispositivo electrónico que ajusta a velocidade do compressor de acordo com as mudanças de temperatura do ambiente. Havendo disponibilidade financeira para tal, o investimento num modelo classe A pode compensar a médio ou longo prazo através de facturas de electricidade “menos pesadas”.
Se a ideia é controlar a temperatura de um escritório pequeno, por exemplo, optar por um aparelho com potência para arrefecer um salão de festas é um erro crasso – a escolha inadequada resultaria numa eficiência baixa, ou seja, em dinheiro deitado ao lixo. O número de pessoas que estarão durante o dia na divisão, assim como a exposição solar e a qualidade da construção também são elementos importantes a ter em conta antes de finalizar a compra.
Os aparelhos de ar condicionado do tipo inverter valem a pena, segundo a associação Zero, porque permitem manter a temperatura desejada optimizando o consumo de energia. “Estão sempre a trabalhar mas de uma forma óptima em termos de gasto de energia. Os aparelhos que não têm a função inverter tendem a trabalhar com a potência máxima, depois desligar e então voltar a trabalhar”, refere Francisco Ferreira. Assim, os modelos do tipo inverter ganham eficiência reduzindo as flutuações de temperatura e eliminando o padrão “pára e arranca” dos modelos tradicionais. Estes aparelhos também tendem a ser mais silenciosos.
Limpar ou mudar o filtro
A função de alerta para limpar ou mudar o filtro também pode ser interessante. “Um filtro sujo prejudica a qualidade de ventilação e, por sua vez, a eficiência do equipamento”, referem os especialistas da Selectra numa nota enviada ao PÚBLICO. E o mais importante: a limpeza regular desta componente do aparelho melhora a qualidade do ar.
Uma vez fechado o negócio, é “fundamental que o produto seja instalado por um técnico certificado”, frisa o presidente da Zero. O mesmo vale para a remoção do equipamento antigo: uma parte significativa destas máquinas apresentam gases fluorados com efeito de estufa, só um profissional devidamente qualificado poderá não só detectar e impedir possíveis fugas mas também garantir o encaminhamento correcto destes resíduos perigosos para o ambiente. A escolha do local da instalação também importa: idealmente, o aparelho não deve ter muita exposição solar. Quanto mais à sombra, melhor.
Combinar com a ventoinha
Sendo feita a prevenção possível e tomadas as melhores decisões quanto à compra e utilização do electrodoméstico, restam ainda algumas dicas quotidianas. Uma delas é não descurar as saídas de ar. “Para manter a temperatura constante dentro de um espaço é necessário que não ocorra entrada ou saída de ar. Neste sentido, certifique-se que tem todas as janelas fechadas e se não existem aberturas que estejam a condicionar o bom funcionamento energético do ar condicionado”, refere a Selectra.
A empresa também sugere “o funcionamento simultâneo do ar condicionado e da ventoinha”, que pode ser “bastante eficaz, especialmente em áreas de maior dimensão, uma vez que vai contribuir para atingir a temperatura desejada mais rapidamente”. Como consequência, há uma diminuição do consumo energético do primeiro aparelho.
Evitar ligar o forno e o secador de cabelo
Outra dica é evitar usar o forno ou o secador de cabelo nos dias de muito calor. “Pode fazer a diferença na factura no final do mês, já que a utilização deste tipo de aparelhos resulta numa circulação de ar quente e acaba por requerer mais esforço por parte do ar condicionado para contrabalançar as temperaturas”, explica a Selectra na nota enviada ao PÚBLICO.
As recomendações reunidas neste texto não resolvem uma problemática que, para a associação Zero, é central na hora de garantir conforto térmico: a forma como a maioria das casas em Portugal foi desenhada e erguida. “Se nós tivéssemos habitações com boa qualidade de construção e concepção, não teríamos necessidade de usar sistemas de ar condicionado, excepto em alguns pontos do país onde faz demasiado calor”, recorda Francisco Ferreira, referindo-se a estratégias de climatização passiva (ou seja, sem recurso à electricidade) associadas às escolhas no domínio da circulação de ar, da exposição solar e dos materiais. Por outras palavras, comprar ou arrendar uma casa com boa eficiência energética também é uma forma de prevenção do consumo de electricidade.