Reino Unido em festa: país prepara-se para celebrar o Jubileu de Platina da rainha Isabel II
A partir desta quinta-feira há quatro dias de eventos, desde paradas militares até um serviço religioso, passando por festas de rua e um concerto pop nos arredores do Palácio de Buckingham.
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Quando Isabel II subiu ao trono, em 1952, os Estados Unidos registavam um dos mais graves surtos de poliomielite, numa altura em que a vacina, já em desenvolvimento, ainda não tinha sido introduzida — as estatísticas apontam para mais de 57 mil casos entre crianças, com um balanço nesse ano de 3145 mortos; mais de 20 mil ficaram com sequelas incapacitantes.
Foi há 70 anos: Josef Estaline, apesar de já debilitado, continuava a segurar com mão de ferro os destinos da União Soviética, como presidente do Conselho de Ministros; Mao Tse Tung era presidente do Governo Central Popular da China; nos Estados Unidos, a Casa Branca era ocupada por Harry Truman num país que ainda não tinha conhecido Elvis Presley; e, no Reino Unido, Winston Churchill cumpria o seu segundo mandato como primeiro-ministro, depois de ter liderado os ingleses na vitória da Segunda Guerra Mundial.
Em Fevereiro, Isabel II, de 96 anos, completou sete décadas no trono, e a efeméride justifica uma festa em grande. Para tal, foram instituídos dois feriados extraordinários para criar um fim-de-semana prolongado de quatro dias, ao longo do qual serão realizados vários eventos celebrativos. Os festejos arrancam esta quinta-feira e prolongam-se até domingo: no primeiro dia, há a tradicional parada Trooping the Colour, no centro de Londres, que será seguida por um festival aéreo, que incluirá acrobacias de aviões modernos e históricos.
Os britânicos esperam que a rainha marque presença na varanda do Palácio de Buckingham para saudar as multidões, mas não é ainda claro a que eventos comparecerá a monarca, que, nos últimos meses, tem sido forçada a faltar a vários compromissos oficiais devido ao que o Palácio de Buckingham descreve como “problemas de mobilidade”. Os funcionários reais dizem que a sua presença será decidida no dia. Certa é a ausência dos dois membros mais controversos da família — o seu filho André e o seu neto Harry.
André viu a sua imagem denegrida depois de o seu nome ter sido associado ao magnata norte-americano Jeffrey Epstein, acusado de tráfico e abuso sexual de menores, que foi encontrado morto na prisão em Agosto de 2019. Tentou redimir a tóxica amizade, dando uma entrevista, mas acabou por sair do momento televisivo pior do que entrou, sendo forçado a afastar-se dos deveres reais. Depois, chegou a queixa formal de Virginia Giuffre, que o acusou de abuso sexual, o que fez com que o príncipe perdesse as patentes militares e até o direito a ser tratado por “sua alteza real”. Já em Fevereiro, André chegou a acordo e pagou a Virginia Giuffre, arrumando o assunto. E, apesar de não ter admitido qualquer crime, a imagem do duque de Iorque saiu prejudicada e nada aponta para que regresse aos deveres reais, como parece ser seu desejo.
Já Harry, o filho mais novo do príncipe herdeiro Carlos, abdicou dos deveres reais para se mudar com a sua mulher Meghan para Los Angeles, depois de terem tentado uma vida no Canadá. Mas o casal não se preocupou em manter uma ligação com a família. Pelo contrário: cedeu uma entrevista a Oprah Winfrey, ao longo da qual teceu duras acusações à “firma”, nomeadamente de racismo e bullying. Resultado: Harry já não tem um lugar ao lado da avó naquele emblemático instante. No entanto, é provável que o casal assista a outros compromissos durante o longo fim-de-semana.
Missa, corridas de cavalos e festas
Ao prestar homenagem a “Isabel, a Grande” no Parlamento na semana passada, lembra a Reuters, o primeiro-ministro Boris Johnson disse que o seu serviço e dedicação ao dever eram algo sem paralelo. “Espero que nos próximos dias possamos mostrar com cada fogueira, com cada concerto e festa de rua e exibição acrobática, um amor e uma devoção para retribuir o amor, a devoção e a liderança que [Isabel II] mostrou a todo o país ao longo de sete décadas”, disse o governante.
Na sexta-feira, haverá uma celebração de acção de graças na Catedral de S. Paulo de Londres e, no sábado, a rainha deverá assistir à corrida de cavalos com outros membros da família real. Mais tarde, está previsto um concerto junto ao Palácio de Buckingham, com a participação dos Queen, Duran Duran e a cantora norte-americana Diana Ross.
As celebrações encerrarão no domingo, com festas de rua e um desfile pela capital britânica.
Isabel tornou-se rainha do Reino Unido e mais de uma dúzia de outros reinos, incluindo Austrália, Canadá e Nova Zelândia, após a morte do seu pai, Jorge VI, a 6 de Fevereiro de 1952. A notícia chegou-lhe quando estava no Quénia, numa digressão internacional.
Em Setembro de 2015, ultrapassou a sua trisavó, a rainha Vitória, em tempo no trono e, já este ano, tornou-se a terceira monarca a carregar a coroa durante mais tempo em todo o mundo, ao longo da História: à sua frente, apenas Bhumibol Adulyadej, da Tailândia, (e que se espera que o apanhe em menos de duas semanas), e Luís XIV, o “Rei-Sol”, que esteve à frente dos destinos da França ao longo de 72 anos e 110 dias.
Durante as suas sete décadas no trono, a rainha tem sido um símbolo de estabilidade para o país durante enormes mudanças sociais, económicas e políticas, incluindo o fim do Império Britânico.
“Não só sua majestade tem sido uma presença constante na vida da maioria dos súbditos, mas também sois o terceiro monarca ao serviço há mais tempo na história mundial”, disse o presidente do Parlamento da Câmara dos Comuns numa declaração, citada pela Reuters.
E as sondagens mostram que Isabel II continua a ser muito popular e respeitada, embora as mesmas sugiram uma crescente indiferença para com a monarquia entre os mais jovens.
Uma sondagem do YouGov para um grupo republicano, revelada na passada quinta-feira, mostrou que mais de metade dos inquiridos não estava interessada no Jubileu.
“Em vez de ser uma celebração nacional, o Jubileu é um interesse minoritário”, disse Graham Smith do Republic. “A falta de interesse em todo o país e em todos os grupos etários com menos de 65 anos mostra que o futuro da monarquia está posto em causa.”