Sauditas abertos a produzir mais petróleo para compensar embargo russo
Hipótese de antecipar aumentos de produção previstos para Setembro levou a uma ligeira descida do crude nos mercados internacionais, com o barril a rondar os 112-113 dólares.
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A Arábia Saudita e outros países membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) poderão aumentar a produção de petróleo para mitigar riscos de falhas de fornecimento ou de subidas de preço por causa do embargo ocidental ao petróleo russo.
Riade terá manifestado essa disponibilidade na véspera da reunião da OPEP que vai decorrer esta tarde e quando alguns órgãos de comunicação social, como a Bloomberg, noticiam que o presidente dos EUA, Joe Biden, pode visitar a capital saudita em Junho.
Fontes anónimas citadas pelo diário inglês Financial Times indicaram que membros da OPEP+ (OPEP e Rússia) estão “a trabalhar” num cenário de aumento da produção para substituir a quebra na produção de petróleo na Rússia. O embargo europeu, que se estende ao gás natural proveniente da Rússia, levou Moscovo a cortar um milhão de barris por dia na produção.
A hipótese de um aumento de produção na região do Golfo Pérsico reflectiu-se de imediato numa ligeira descida do preço do barril na abertura dos mercados internacionais. No início da semana, o preço voltou a tocar os 120 dólares por barril nos contratos de Brent do Mar do Norte, que serve de referência ao mercado europeu, para entrega em Julho. Foi um novo máximo em dois meses, na véspera da reunião de líderes europeus que viria a optar pelo embargo aos produtos energéticos russos, ao abrigo do sexto pacote de sanções pela invasão e guerra na Ucrânia.
Nesta quinta-feira, quer o Brent quer o WTI (West Texas Intermediate, negociado em Nova Iorque) estavam a baixar, com preços a rondar os 113 dólares e os 112 dólares por barril, respectivamente.
Tal como o PÚBLICO noticiou nesse dia, o travão da UE às exportações russas impulsionava o preço do petróleo, um movimento que pode vir a ser corrigido se se confirmar um aumento de produção da OPEP. Os últimos dados do Eurostat, relativos ainda a 2020, indicam que mais de 36% do petróleo importado pela União Europeia foi proveniente da Rússia. Isso significa que o embargo obriga o bloco europeu a procurar fornecedores alternativos.
O presidente Biden há muito que insistia num incremento de produção por parte da OPEP, mas Riade e outros produtores têm resistido a esse apelo. Segundo a Reuters, Moscovo estará disponível para, no âmbito da OPEP+, deixar passar um aumento da produção, mas não é líquido que venha a aceitar um aumento que compense toda a perda originada pelo embargo à Rússia. Será necessário esperar pelo desfecho da reunião desta quinta-feira da OPEP+.
Na quarta-feira, o ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, reuniu-se em Riade com diversos responsáveis da região do Golfo Pérsico. Os EUA têm tido relações tensas com Riade, com os últimos dois anos marcados por diferendos relativos a temas de direitos humanos, a guerra no Iémen e negócios de armamento. Uma eventual deslocação de Biden à Arábia Saudita teria como objectivo amenizar as fricções recentes, à luz da necessidade ocidental de ter soluções que impeçam uma crise de fornecimento de petróleo. Antes de invadir a Ucrânia, a Rússia produzia 10% do crude para o mundo.
Fontes sauditas citadas pelo Financial Times consideram que, nesta altura, ainda não há uma verdadeira escassez de petróleo. A OPEP continua a considerar a Rússia um “parceiro crítico” e, por isso, a viagem de Lavrov pelo Médio Oriente foi uma demonstração de que qualquer solução terá de ser negociada.
A reabertura de grandes cidades na China a partir de 1 de Junho, como Xangai, depois de longas semanas em confinamento para tentar travar o recrudescimento da covid-19 devido à variante ómicron, coloca ainda mais pressão nas necessidades energéticas mundiais. A OPEP começou a cortar a produção no início da pandemia, em 2020, mas com a reabertura gradual das economias foi fazendo lentos aumentos mensais na produção. A decisão esperada para esta semana pode ser a antecipação dos aumentos de produção que estavam previstos para Setembro.