UE aumenta produção de cereais e prevê exportação recorde em 2022

O bloqueio russo às exportações da Ucrânia ameaça desencadear uma crise alimentar global. Bruxelas encoraja os Estados-membros a aumentar a produção agrícola.

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Ucrânia tem actualmente 20 milhões de toneladas de trigo retidos devido ao bloqueio marítimo das forças russas Reuters/Valentyn Ogirenko

A União Europeia prevê atingir um novo recorde de 40 milhões de toneladas de exportações de cereais em 2022 e 2023, disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que no final de uma reunião extraordinária do Conselho Europeu, esta terça-feira, encorajou os Estados-membros aumentar ainda mais as respectivas produções agrícolas, e eliminar todas as restrições às exportações de produtos alimentares, em resposta à crise de escassez do abastecimento global provocada pela guerra de agressão da Rússia na Ucrânia.

O país, que é um dos maiores exportadores mundiais de cereais, tem actualmente um stock de 20 milhões de toneladas de trigo retido devido ao bloqueio marítimo das forças russas, que impede o escoamento da produção — grande parte dela destinada a países africanos.

“A saída deste trigo da Ucrânia é uma urgência, não é uma questão trivial”, frisou a líder do executivo comunitário, que já desenhou uma série de rotas terrestres alternativas — corredores solidários — para transportar a produção até à fronteira da UE, para posterior distribuição mundial.

Na próxima semana, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, vai encontrar-se com o secretário-geral da ONU, António Guterres, em Nova Iorque, para discutir os esforços para encontrar rotas de escoamento para os cereais ucranianos.

O bloqueio russo às exportações da Ucrânia ameaça desencadear uma crise alimentar global, com a situação a tornar-se particularmente alarmante no continente africano. Convidado a debater a questão numa ligação por videoconferência à sala do Conselho Europeu, o presidente da União Africana, Macky Sall, recorreu aos números da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) para pedir medidas urgentes de apoio: é em África que se encontram dois terços das 282 milhões de pessoas que sofrem de malnutrição no mundo.

“Temos de identificar de maneira operacional a forma como a UE e a União Africana podem cooperar para responder a este desafio”, afirmou Charles Michel, que garantiu um reforço do auxílio financeiro europeu para “aumentar e melhorar a capacidade de produção em África”.

Além da promessa de ajuda, os líderes europeus fizeram questão de refutar a narrativa russa de que são as sanções aplicadas pela UE que estão a impedir o escoamento de cereais ucranianos, ou a exacerbar as dificuldades de produção, por causa da subida do preço dos fertilizantes (que multiplicou por três desde a invasão russa).

“A UE não tem sanções sobre produtos agrícolas ou alimentares”, lembrou Von der Leyen, que atribuiu a actual escassez aos bombardeamentos russos no Mar Negro.

Notícia corrigida às 12h01 de 1 de Junho de 2022: O valor recorde das exportações de cereais da UE em 2022 e 2023 será de 40 milhões de toneladas e não 14 milhões de toneladas.

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