Varíola-dos-macacos: Pelo menos dois doentes foram internados, mas já tiveram alta

Todos os casos confirmados têm tido uma evolução clínica favorável. Portugal é o país com mais pessoas infectadas por milhão de habitantes, tendo neste momento 96 casos confirmados.

Foto
DADO RUVIC/Reuters

Pelo menos dois dos 96 doentes infectados com varíola-dos-macacos (também conhecida como vírus monkeypox, ou VMPX) em Portugal tiveram necessidade de internamento, mas já tiveram alta. Todos os casos confirmados até agora tiveram uma evolução clínica favorável.

Desde que o Reino Unido reportou o primeiro caso confirmado de infecção com o VMPX, a 7 de Maio, há mais de 400 casos confirmados distribuídos por mais de 20 países, entre os quais Portugal com 96 casos.

Os infecciologistas Jaime Nina (do Hospital Egas Moniz, em Lisboa) e Fernando Maltez (do Hospital Curry Cabral, também em Lisboa) reportaram um caso em cada um dos hospitais, mas que já tiveram alta.

Relativamente à transmissão da doença, os especialistas indicaram que, até agora, a suspeita na maioria dos casos identificados é que tenha sido por via sexual. Jaime Nina adiantou que ainda “não está perfeitamente esclarecido e não está publicado” [em estudos científicos] o modo como a infecção se espalhou por países não endémicos, mas lembrou que já houve outros surtos importados, como aconteceu em 2003 nos Estados Unidos, com 47 casos (sem nenhuma morte), a partir de animais importados do Gana.

“Actualmente pode ter sido uma coisa semelhante, um animal importado da Nigéria [país de onde é oriundo o vírus detectado] infectado ou alguém que veio da Nigéria no período de incubação”, apontou.

“O que está diferente – ainda não está publicado e não se sabe se serão todos casos assim – é que, tradicionalmente, o VMPX transmite-se por contacto directo, muito próximo, a maioria em crianças” e, em Portugal todas as infecções confirmadas são em homens. Algo que noutros países não se verifica, com casos confirmados em mulheres em Espanha, nos Estados Unidos, na República Checa ou Suíça, por exemplo.

Jaime Nina adiantou que nos casos de que teve “melhor conhecimento” o contágio foi por relação sexual, o que disse fazer sentido porque “é o contacto mais próximo”.

Ressalvando que não conhece a epidemiologia dos últimos 22 casos reportados pela Direcção-Geral da Saúde, Fernando Maltez afirmou, por seu turno, que, “até à data, os casos descritos eram de homens que tinham sexo com homens em que a transmissão parecia resultar da proximidade corporal, provavelmente, durante a relação sexual”.

“A localização das lesões e o facto de referirem uma história de relação sexual levanta a suspeita ou a possibilidade de transmissão sexual, o que não está provado”, vincou. A transmissão do vírus não está associada a relações homossexuais, mas é favorecida pela proximidade resultante de qualquer tipo de relação sexual.

Fernando Maltez indica ainda que a transmissão pode fazer-se pelo contacto com os fluidos corporais, nomeadamente aqueles existem nas lesões cutâneas.

Questionado sobre o elevado número de casos em Portugal, Jaime Nina explica que o período de incubação vai até três semanas e se os casos não são diagnosticados na altura certa vão-se espalhando. “As pessoas só começam a tomar cuidados quando começa a haver o alarme de que há uma nova doença. Ora, nessa altura já está espalhado”, comenta.

Apesar da percepção de estar a haver um aumento rápido de casos, Jaime Nina diz que, se fossem observados os casos reais desde o princípio, constatava-se que era “um crescimento relativamente lento”.

Afirmando que “a história natural da doença será idêntica em todos os países”, Fernando Maltez aponta a possibilidade de haver alguma variabilidade no aparecimento dos sinais de alerta, em termos de incubação dos doentes em Portugal, relativamente a doentes de outros países, mas isso “pode ser uma coincidência ou um mero acaso”.

Poderá também haver algum incumprimento das regras de prevenção e no dever de confinamento em relação a outros países, disse, ressalvando que não tem provas disso. Mas, concluiu, “não antevejo mais nenhuma razão plausível”.

Fernando Maltez recomenda aos doentes para ficarem em isolamento no domicílio até à resolução do quadro clínico, e para identificarem os contactos de risco, que devem estar atentos ao aparecimento de sintomas. Não tendo sintomas, devem cumprir uma quarentena de 21 dias, o tempo máximo de incubação da doença.