O caso dos Guimaraens perante os Fonseca
Os Fonseca Guimaraens, Vintage dos anos não-clássicos, podem não ter o poder ou a aura dos Fonseca clássicos, mas, em alguns casos, é mais por convenção do que pela realidade. Uma prova de 14 Guimaraens entre 1933 e 2018 revela vários anos soberbos. E a preços sempre mais simpáticos.
Adrian Bridge, o CEO da The Fladgate Partnership que reúne marcas como a Taylor's, a Croft e a Fonseca Guimaraens, não gosta que os Vintage não clássicos da casa sejam designados como “segundos vinhos” e ainda menos como “segundas escolhas”. Na tradição britânica, fica bem melhor chamar-lhes “single quinta”, embora no caso dos Fonseca Guimaraes essa designação não seja rigorosa – são feitos com um blend (lotação) de várias quintas. O que o preocupa afinal, e com razão, é que se considerem os vinhos da casa de anos não clássicos (nos anos clássicos são designados apenas por Fonseca) como uma espécie de subproduto, ou de mal menor. Não são.
Uma prova de Fonseca Guimaraes com vintages entre 1933 e 2018 é a garantia de que não são mesmo. Falta-lhes a garra, a estatura, ou a classe pura dos clássicos da casa? Em alguns casos, sim. Carecem daqueles atributos que tornam o prazer dos grandes Vintage irrecusável? Numa ou noutra edição, talvez.
Mas, veja-se o lado bom desta discussão: os Vintage de anos não clássicos com a chancela da Fonseca Guimaraens são sempre mais baratos. Terem sido assinados por uma dinastia de enólogos da família ao logo de mais de um século (Frank Guimaraens, Dorothy, Bruce e agora David Guimaraens) é um certificado de qualidade garantida. E há muitos anos em que a decisão de declarar, ou não, Vintage clássico, o que acontece cerca de dois anos depois da vindima, é errada. Há, por isso, muitas edições que são extraordinárias, mas que ficaram na sombra por erro de cálculo ou por estratégia comercial.
É o caso do Guimaraens de 1933. Passado quase um século, este vinho está extraordinário. A sua potência aromática e o seu volume de boca proporcionam um prazer enorme. Não foi um clássico porque nas caves de Gaia já estavam os memoráveis 1934 e 1935 e também porque a Grande Depressão de 1929 começava a fazer estragos. Continue-se com o 1957, um vintage com uma elegância e uma graça notáveis. Prossiga-se para o 1967, um vinho com uma enorme fineza, complexidade e pureza. E por aí fora.
Há casos surpreendentes, como o 1976 que, pela cor, pelo poder tânico e pelo volume parece ainda um vinho em construção – para um certo padrão de gosto é excessivo. E, já entrados numa era mais próxima, atente-se ao 1987 ou, principalmente, ao 2001 – o primeiro Vintage em que David Guimaraes participou. Quer um, quer outro, só não são clássicos por ausência de declaração. O mesmo se pode dizer do 2008. E, porque não, do 2015?
Guimaraens (grafia antiga do nome de uma família de liberais que fugiu para Inglaterra na primeira metade do século XIX) não é Fonseca, claro. Nem Fonseca é Fonseca Guimaraens, como é óbvio. Os clássicos serão sempre a alta aristocracia dos Vintage, seja pela dádiva da natureza, seja pela aposta dos enólogos. A verdade, porém, é que nem só os duques ou os marqueses são excelências. No caso dos Fonseca Guimaraens há todo o mundo de grandes Vintage que é bom (e bem mais barato) conhecer.