Adão e Silva: Denunciar protocolo protege interesse público da colecção Berardo

Na inauguração dos dos Banhos Islâmicos de Loulé, ministro garantiu que a 1 de Janeiro de 2023 o CCB “terá a colecção Berardo, terá a colecção Elipse, e isso ajudará a construir uma colecção de arte contemporânea em Belém”.

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Adão e Silva na quinta-feira, quando anunciou intenção de denunciar acordo de comodato Nuno Ferreira Santos

O ministro da Cultura defendeu este sábado que a denúncia do protocolo com José Berardo permite “defender o interesse público”, salvaguardando a exposição, preservação e conservação das obras da colecção de arte.

Questionado pelos jornalistas, no Algarve, à margem da inauguração dos Banhos Islâmicos de Loulé e da Casa Senhorial dos Barretos, Pedro Adão e Silva assegurou que a denúncia do protocolo foi comunicada a Joe Berardo de “forma natural” e vai permitir que o Estado “preserve” as obras de arte cedidas e que se encontram no Centro Cultural de Belém (CCB).

“Nós comunicámos por carta registada e com aviso de recepção às várias partes envolvidas no protocolo a denúncia do protocolo. Acho que essa denúncia é muito importante, acho que é aquilo que defende o interesse público”, afirmou o governante depois de participar na cerimónia de inauguração do Banhos Islâmicos de Loulé, que remontam ao século XII e XIII e são dos mais bem preservados da Europa.

Pedro Adão e Silva considerou que, “neste momento, com tantos processos judiciais envolvendo o senhor Berardo e os bancos” sobre a posse das obras, que estão arrestadas por dívidas de créditos exigidos pela banca a José Berardo, “não fazia sentido renovar o protocolo”.

Desta forma, acrescentou, o Estado consegue “recuperar a gestão e o controlo do edifício do Centro Cultural de Belém” e dar a “garantia” a “todas as partes” de que o Estado assegurará “a preservação, a conservação e os seguros daquelas obras”.

“Quando os tribunais tomarem uma decisão sobre quem é o legítimo proprietário das obras, o Estado estará disponível para negociar os termos de um novo protocolo de comodato com quem seja o legítimo proprietário”, acrescentou.

Pedro Adão e Silva defendeu que o Estado está assim a “proteger o interesse público, porque a fruição pública das obras mantém-se”, mas também a protecção dos activos, porque “enquanto não houver uma decisão dos tribunais, o Estado assegura a conservação, a preservação e os seguros, e mais, permite que todos os portugueses possam visitar aquela colecção única”.

“Mas há uma coisa que a 1 de Janeiro vai acontecer, é que o espaço do Centro Cultural de Belém terá a colecção Berardo, terá a colecção Elipse, e isso ajudará a construir uma colecção de arte contemporânea em Belém”, afirmou ainda o governante.

Antes, o ministro assistiu à inauguração dos Banhos Islâmicos de Loulé e destacou a “importância” do edifício recuperado e musealizado, com um orçamento de cerca de um milhão de euros, para “recuperar a memória”.

“Mas talvez o fundamental hoje é mostrar que a memória é parte do presente e uma forma de construir o futuro. E no momento em que a Europa está tão dividida e em que há uma crise democrática um pouco por toda a Europa, eu acho que este sinal que Portugal dá, que é o seu passado cultural, de abertura, de tolerância e de coexistência de várias religiões, é algo que nos protege hoje e é algo que devemos olhar como uma forma de nos proteger hoje e projectar uma ideia de democracia, de abertura e de tolerância, que na verdade é o país que somos”, afirmou.

Sobre o novo edifício inaugurado este sábado, Pedro Adão e Silva considerou que a recuperação foi “extraordinária” e permite “olhar para o passado e perceber como, em muitas dimensões, o passado não é assim tão distante dos nossos dias”.

“Nós continuamos a ter as saunas e a experiência da sauna não é assim tão distante da experiência que se tinha no século XXI e XII dos Banhos Islâmicos”, afirmou o governante, sublinhando que “isso é que é o fundamental”, porque Portugal “não se construiu de roturas, mas de muitas continuidades”.