Concluídos os argumentos finais, Amber Heard e Johnny Depp aguardam o veredicto
Foram duas horas para cada lado, que resumiram seis semanas de julgamento — e tempo extra para as refutações. Os advogados de Depp pediram aos jurados que “lhe devolvessem a sua vida”, “arruinada” pelas acusações de violência doméstica; os representantes de Heard apelaram que o júri permita que Heard siga em frente com a sua vida e “defenda a liberdade de expressão”.
Os jurados no mediático julgamento, que resulta de uma acção interposta por Johnny Depp contra Amber Heard por difamação (e que originou uma contra-acção no sentido inverso) após a publicação de um ensaio no The Washington Post, em que se descrevia como sobrevivente de abusos domésticos, ouviram os argumentos das duas duplas-fortes de cada lado: Camille Vasquez e Benjamin Chew, por Depp; Benjamin Rottenborn e Elaine Bredehoft, por Heard.
Do lado do actor, reforçou-se a ideia de que tudo o que Amber Heard apresentou ao longo das audiências foi falso; na equipa da actriz, sublinhou-se a tese de agressões perpetradas por Johnny Depp sobre Amber Heard. De um lado, enalteceu-se a ideia de que basta o júri identificar uma mentira contada por Heard para pôr em causa todas as informações relatadas pela actriz; do outro, chamou-se a atenção para que um único episódio de violência — física ou psicológica — deita por terra a teoria de difamação que os levou a tribunal. “É simples, se acreditam que Depp foi abusivo com Amber uma vez... então o vosso trabalho é muito fácil”
Com uma importante nota: Elaine Bredehoft fez questão de esclarecer que o montante pedido por Amber Heard, de 100 milhões de dólares, não passou de uma resposta aos 50 milhões exigidos por Depp, pedindo ao júri que estabeleça um valor justo, tendo por base o bom senso.
As alegações finais de Johnny Depp
O resumo do julgamento começou pela advogada Camille Vasquez que, ao longo destas semanas, se destacou nos interrogatórios, contra-interrogatórios e muitas objecções. A causídica reviu, episódio a episódio, as situações descritas por Amber Heard, desmontando-os com a ausência de provas ou com a teoria de adulteração das mesmas, como no caso de algumas fotografias.
Vasquez avaliou o depoimento de Heard como “uma actuação, o papel da sua vida”, retratando-a como uma mulher capaz de tudo, e de contar qualquer história, inclusive uma “de abuso chocante, avassalador e brutal”, a troco de dinheiro. A advogada valeu-se ainda das muitas testemunhas que contrariaram alguns dos dados avançados pela actriz, considerando que o caso não se trata de acreditar em Heard ou em Depp, mas em Heard ou em Depp e no rol de pessoas que prestaram depoimentos, incluindo a ex-namorada de Depp Kate Moss. “Ou [Amber Heard é] vítima de um abuso feio e horrível, ou é uma mulher que está disposta a dizer absolutamente tudo”, rematou Vasquez, considerando a postura da actriz um duro golpe para “as verdadeiras vítimas [de violência doméstica e agressão sexual]”.
Já Benjamin Chew voltou a aproveitar o facto de Kate Moss ter integrado o rol de testemunhas para sublinhar o facto de nenhuma das mulheres que se relacionaram com Depp no passado terem quaisquer queixas de violência. O causídico esclareceu ainda que a acção interposta “nunca foi sobre dinheiro” ou sobre “punir” Amber Heard. “Trata-se da reputação do sr. Depp”, declarou, apelando aos jurados que “lhe devolvessem a sua vida”.
As alegações finais de Amber Heard
“Se não tirou fotografias, não aconteceu. Se tirou fotografias, são falsas. Se não disse aos amigos, eles estão a mentir. Se disse aos amigos, eles são parte do embuste”. Benjamin Rottenborn abriu as alegações a favor de Amber Heard frisando que a forma como as provas apresentadas pela actriz foram tratadas pela equipa de Depp envia uma mensagem perigosa às vítimas de violência doméstica.
O advogado continuou na mesma linha de discurso, mas o que mais se destacou foi a ideia passada por Rottenborn de que basta ao júri considerar uma única agressão para que Heard vença o processo que, acentuou, é de difamação, apelando aos jurados que permitam que Heard siga em frente com a sua vida e “defendam a liberdade de expressão”.
Já Elaine Bredehoft, que dos quatro talvez tenha sido a mais expressiva, revelando-se muito à vontade com a formulação das alegações, defendeu que as declarações do advogado do Depp na altura, Adam Waldman, foram difamatórias e alteraram a trajectória da carreira da actriz, com consequências emocionais e financeiras, apelando a que o júri determinasse um valor de indemnização que a compensasse de forma justa.
Para quando um veredicto?
Já após o fim das alegações e refutações, a juíza Penney Azcarate voltou a recordar algumas orientações aos jurados, antes de iniciarem o processo de deliberação, que já decorre, à hora de publicação, há quase uma hora e meia.
Azcarate recordou que o veredicto terá de ser unânime, e que os jurados, sete, não podem consultar nada a não ser o material do julgamento que o tribunal lhes cedeu. Reunido desde esse momento, o júri pode devolver uma decisão ainda durante esta sexta-feira, mas apenas até à hora do jantar (não será entregue refeição, avisou a juíza). Caso não haja uma conclusão nesse prazo, os jurados voltarão a reunir-se na terça-feira, já que segunda é feriado nacional.
Já depois dos jurados abandonarem a audiência, Azcarate agradeceu aos advogados de Depp e Heard: “É muito mais fácil ser juíza quando se tem excelentes advogados à nossa frente”. Além disso, a magistrada agradeceu “aos advogados e litigantes pela gentileza e pelo excelente comportamento que demonstraram” com os funcionários do tribunal e os delegados do Departamento do xerife. E conseguiu arrancar gargalhadas quando elogiou a estenógrafa: “E também gosto muito da Judy porque ela é uma estrela rock”.